gonn1000: O IMPÉRIO DOS SILÊNCIOS

05-07-2011
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Um dos nomes do cinema coreano actual com alguma visibilidade fora de fronteiras asiáticas, Kim Ki-duk tem consolidado uma filmografia marcada por obras pouco consensuais mas peculiares, como os recentes “O Bordel do Lago” ou “Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera”.“Ferro 3” (Bin-jip/ 3-Iron), o seu novo filme, é mais um título que dificilmente deixará alguém indiferente, habilitando-se a despertar paixões incondicionais a par de rejeições quase absolutas, tendo em conta a sua atípica estrutura e conteúdo.Um olhar sobre a solidão, a inadaptação e o amor, a película apresenta o quotidiano de um rapaz que invade casas quando os donos estão ausentes mas que nunca rouba ou danifica nada, limitando-se a habitá-las durante algum tempo e a realizar tarefas prosaicas.Numa das suas habituais visitas, o protagonista, meticuloso e discreto, é surpreendido quando se apercebe de que esteve a ser observado, durante algumas horas, pela moradora de uma das casas onde se infiltrou, mas esta praticamente não reage à sua presença, trocando apenas olhares que denunciam uma contida mas profunda melancolia.Conhecendo-se de forma pouco convencional, estes dois jovens iniciam, através desta estranha peripécia, uma forte cumplicidade assente no silêncio e serenidade que caracteriza as posturas de ambos, contudo essa relação tornar-se-á cada vez mais ameaçada à medida que elementos exteriores se intrometem, caso do marido da jovem (que a agride fisicamente com frequência), de habitantes de outras casas ou da polícia.Nos primeiros minutos do “Ferro 3”, Kim Ki-duk consegue gerar uma aura invulgar e envolvente, proporcionando cenas intrigantes onde a indefinição do filme funciona a seu favor. O problema é que os ambientes de enorme silêncio e contemplação se tornam demasiado recorrentes e cansativos, tornando o filme num objecto excessivamente abstracto e não raras vezes maçador.Há pontuais momentos inspirados, como a cena do abraço a três, mas encontram-se perdidos numa narrativa debilmente conduzida, vincada por um ritmo letárgico e um esoterismo desnecessário, que na tentativa de tornar a película ambígua faz com que esta descoordene ainda mais o espectador.“Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera” também apresentava estas limitações, e infelizmente Kim Ki-duk mostra-se incapaz de as resolver agora, enveredando pelo mesmo tipo de ambientes etéreos e poéticos onde a fronteira entre o real e o onírico é difusa e nem mesmo a fugaz aproximação a territórios do thriller ou do fantástico é capaz de inserir alguma carga de surpresa.Sobram ocasionais estilhaços onde a vibração dos olhares dos protagonistas supera tudo o resto (em especial o do promissor jovem actor Jae Hee) ou onde a energia visual e sonora gera sequências que parecem antecipar um rumo mais sólido para o filme. Rumo esse que, infelizmente, nunca a chega a delinear-se, não deixando “Ferro 3” ser mais do que um filme singular, mas falhado. E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL


Um dos nomes do cinema coreano actual com alguma visibilidade fora de fronteiras asiáticas, Kim Ki-duk tem consolidado uma filmografia marcada por obras pouco consensuais mas peculiares, como os recentes “O Bordel do Lago” ou “Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera”.“Ferro 3” (Bin-jip/ 3-Iron), o seu novo filme, é mais um título que dificilmente deixará alguém indiferente, habilitando-se a despertar paixões incondicionais a par de rejeições quase absolutas, tendo em conta a sua atípica estrutura e conteúdo.Um olhar sobre a solidão, a inadaptação e o amor, a película apresenta o quotidiano de um rapaz que invade casas quando os donos estão ausentes mas que nunca rouba ou danifica nada, limitando-se a habitá-las durante algum tempo e a realizar tarefas prosaicas.Numa das suas habituais visitas, o protagonista, meticuloso e discreto, é surpreendido quando se apercebe de que esteve a ser observado, durante algumas horas, pela moradora de uma das casas onde se infiltrou, mas esta praticamente não reage à sua presença, trocando apenas olhares que denunciam uma contida mas profunda melancolia.Conhecendo-se de forma pouco convencional, estes dois jovens iniciam, através desta estranha peripécia, uma forte cumplicidade assente no silêncio e serenidade que caracteriza as posturas de ambos, contudo essa relação tornar-se-á cada vez mais ameaçada à medida que elementos exteriores se intrometem, caso do marido da jovem (que a agride fisicamente com frequência), de habitantes de outras casas ou da polícia.Nos primeiros minutos do “Ferro 3”, Kim Ki-duk consegue gerar uma aura invulgar e envolvente, proporcionando cenas intrigantes onde a indefinição do filme funciona a seu favor. O problema é que os ambientes de enorme silêncio e contemplação se tornam demasiado recorrentes e cansativos, tornando o filme num objecto excessivamente abstracto e não raras vezes maçador.Há pontuais momentos inspirados, como a cena do abraço a três, mas encontram-se perdidos numa narrativa debilmente conduzida, vincada por um ritmo letárgico e um esoterismo desnecessário, que na tentativa de tornar a película ambígua faz com que esta descoordene ainda mais o espectador.“Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera” também apresentava estas limitações, e infelizmente Kim Ki-duk mostra-se incapaz de as resolver agora, enveredando pelo mesmo tipo de ambientes etéreos e poéticos onde a fronteira entre o real e o onírico é difusa e nem mesmo a fugaz aproximação a territórios do thriller ou do fantástico é capaz de inserir alguma carga de surpresa.Sobram ocasionais estilhaços onde a vibração dos olhares dos protagonistas supera tudo o resto (em especial o do promissor jovem actor Jae Hee) ou onde a energia visual e sonora gera sequências que parecem antecipar um rumo mais sólido para o filme. Rumo esse que, infelizmente, nunca a chega a delinear-se, não deixando “Ferro 3” ser mais do que um filme singular, mas falhado. E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

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