gonn1000: JOGO DE LÁGRIMAS (E DE RISOS)

01-07-2011
marcar artigo


Com uma obra tão diversificada quanto desequilibrada, Neil Jordan apresenta em “Breakfast on Pluto” mais um título a acrescentar ao grupo dos seus filmes recomendáveis.Crónica do percurso errático de Patrick Braden, um jovem que desde cedo sentiu predilecção por roupas femininas e que acaba por adoptar o nome “Kitten”, a película segue a viagem física e emocional do seu protagonista e a forma como este e os outros reagem à descoberta da sua identidade.Kitten está determinada a encontrar a sua mãe, que a abandonou quando era ainda uma recém-nascida, e esta busca influencia todo o seu crescimento, tornando-se com o passar dos anos num sonho de difícil concretização mas que nunca deixa de ser perseguido obstinadamente.Se a abordagem da transexualidade tem inspirado alguns filmes de esferas independentes – sendo dois dos mais recentes “Transamerica” ou “20 Centímetros” -, Neil Jordan prova aqui que o tema está longe de se esgotar e oferece uma perspectiva própria, unindo traços do realismo britânico com um formato que se aproxima de um conto de fadas on acid.Decorrendo maioritariamente na Londres da década de 70, “Breakfast on Pluto” é um excêntrico melting pot, já que Kitten envolve-se com a prostituição, terrorismo, bandas rock e espectáculos de ilusionismo, vivendo experiências vincadas pela imprevisibilidade (e alguma implausibilidade).Inventivo, mas também irregular, o filme assenta numa narrativa episódica, de atmosferas díspares (mas frequentemente kistch), que nem sempre é capaz de equilibrar as constantes oscilações entre o drama e o humor.Ainda assim, Jordan nunca deixa de ser eficaz e faz com que as mais de duas horas de duração da película não se tornem cansativas, proporcionando uma realização engenhosa, uma banda-sonora tão colorida como a fotografia e aproveitando a solidez do elenco.Cillian Murphy, no papel de protagonista, defende a personagem mais interessante com o desempenho mais forte, compondo uma Kitten que se entrega sempre ao idealismo independentemente do caos que a rodeia. O actor comprova aqui novamente a sua versatilidade, depois de já ter encarnado personagens tão diferentes em títulos como “Intervalo”, “Batman – O Início” ou “Red Eye”.Muitas vezes aliciante, “Breakfast on Pluto” não chega contudo a entrar na lista de obras superiores, uma vez que o argumento demasiado disperso, alguma irreverência gratuita e o papel quase decorativo da maioria das personagens secundárias o impedem de ir mais longe.O filme peca também por, à semelhança do seu protagonista, não se levar muito a sério, o que se por um lado ajuda a consolidar a sua vertente escapista dificulta uma abordagem consistente das temáticas complexas em que incide.Estas debilidades são compensadas, no entanto, pelo brilhantismo que se regista a espaços, e que faz com que “Breakfast on Pluto”, apesar de apostar mais na forma do que no conteúdo, ainda conste nas boas experiências cinematográficas de 2006.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM


Com uma obra tão diversificada quanto desequilibrada, Neil Jordan apresenta em “Breakfast on Pluto” mais um título a acrescentar ao grupo dos seus filmes recomendáveis.Crónica do percurso errático de Patrick Braden, um jovem que desde cedo sentiu predilecção por roupas femininas e que acaba por adoptar o nome “Kitten”, a película segue a viagem física e emocional do seu protagonista e a forma como este e os outros reagem à descoberta da sua identidade.Kitten está determinada a encontrar a sua mãe, que a abandonou quando era ainda uma recém-nascida, e esta busca influencia todo o seu crescimento, tornando-se com o passar dos anos num sonho de difícil concretização mas que nunca deixa de ser perseguido obstinadamente.Se a abordagem da transexualidade tem inspirado alguns filmes de esferas independentes – sendo dois dos mais recentes “Transamerica” ou “20 Centímetros” -, Neil Jordan prova aqui que o tema está longe de se esgotar e oferece uma perspectiva própria, unindo traços do realismo britânico com um formato que se aproxima de um conto de fadas on acid.Decorrendo maioritariamente na Londres da década de 70, “Breakfast on Pluto” é um excêntrico melting pot, já que Kitten envolve-se com a prostituição, terrorismo, bandas rock e espectáculos de ilusionismo, vivendo experiências vincadas pela imprevisibilidade (e alguma implausibilidade).Inventivo, mas também irregular, o filme assenta numa narrativa episódica, de atmosferas díspares (mas frequentemente kistch), que nem sempre é capaz de equilibrar as constantes oscilações entre o drama e o humor.Ainda assim, Jordan nunca deixa de ser eficaz e faz com que as mais de duas horas de duração da película não se tornem cansativas, proporcionando uma realização engenhosa, uma banda-sonora tão colorida como a fotografia e aproveitando a solidez do elenco.Cillian Murphy, no papel de protagonista, defende a personagem mais interessante com o desempenho mais forte, compondo uma Kitten que se entrega sempre ao idealismo independentemente do caos que a rodeia. O actor comprova aqui novamente a sua versatilidade, depois de já ter encarnado personagens tão diferentes em títulos como “Intervalo”, “Batman – O Início” ou “Red Eye”.Muitas vezes aliciante, “Breakfast on Pluto” não chega contudo a entrar na lista de obras superiores, uma vez que o argumento demasiado disperso, alguma irreverência gratuita e o papel quase decorativo da maioria das personagens secundárias o impedem de ir mais longe.O filme peca também por, à semelhança do seu protagonista, não se levar muito a sério, o que se por um lado ajuda a consolidar a sua vertente escapista dificulta uma abordagem consistente das temáticas complexas em que incide.Estas debilidades são compensadas, no entanto, pelo brilhantismo que se regista a espaços, e que faz com que “Breakfast on Pluto”, apesar de apostar mais na forma do que no conteúdo, ainda conste nas boas experiências cinematográficas de 2006.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

marcar artigo