gonn1000: OS SONHADORES

01-07-2011
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Se Marc Foster havia já assinado uma obra muito elogiada, "Monster's Ball - Depois do Ódio", de 2001, um denso olhar sobre as relações humanas e os locais mais recônditos da América profunda. Embora algo sobrevalorizado, o filme apresentava uma singular química entre Billy Bob Thornton e Halle Berry (que ganhou um Óscar por esta interpretação) e continha impressionantes ambientes crus e realistas, tornando-se num drama poderoso e arrebatador.
"À Procura da Terra do Nunca" (Finding Neverland), a nova película de Foster, despertava por isso alguma expectativa, tendo em conta as distinções que marcaram a obra anterior. Surpresa das surpresas - ou talvez não - o filme tem tido uma recepção ainda mais calorosa do que o seu antecessor e é quase consensualmente apontado como uma dos melhores de 2004. Foster debruça-se aqui sobre o escritor escocês J.M. Barrie, mais conhecido por ter criado uma das mais míticas personagens da literatura infanto-juvenil: Peter Pan. Depois da aridez dos cenários americanos, o realizador aposta agora em domínios da alta sociedade londrina de inícios do século XX, particularmente na relação de amizade que Barrie enceta com a família Llewelyn Davies (uma jovem viúva e os seus quatro filhos).
Baseado na peça "The Man Who Was Peter Pan", de Allan Knee, "À Procura da Terra do Nunca" foca a crise de inspiração de Barrie e o progressivo renascer da criatividade à medida que o escritor se vai aproximando da viúva e dos seus filhos. Desta ligação terá nascido o conto de Peter Pan, e uma das crianças Llewellyn Davies foi mesmo decisiva para a concepção da famosa personagem.
Foster consegue inserir alguma densidade emocional na sua abordagem, tornando Barrie (interpretado por Johnny Depp) num protagonista suficientemente interessante e complexo, particularmente nas cenas onde as esferas reais e imaginárias se fundem e as suas fronteiras se tornam difusas. Os momentos que focam o conturbado casamento do escritor são igualmente bem concebidos, assim como a sua relação assexuada com Sylvia Llewellyn Davies (Kate Winslet).
Se a uma perspectiva sóbria e sensível sobre as relações humanas se adicionar um trabalho de realização eficaz, uma profissional reconstituição de época e um elenco apelativo (Depp e as crianças têm prestações competentes, Dustin Hoffman, Radha Mitchell e Julie Christie são subaproveitados e Kate Winslet é, como sempre, soberba), percebe-se que "À Procura da Terra do Nunca" contém alguns bons condimentos que justificam parte do burburinho que se gerou, mas infelizmente nem tudo resulta.
Embora seja um filme correcto e feito com bom-gosto - os momentos de maior tensão emocional são genuínos e não recorrem à manipulação fácil -, a nova obra de Marc Foster não possui um ritmo muito absorvente, apresentando certos episódios de considerável monotonia e, sobretudo, previsibilidade.
Apesar de alguns curiosos pormenores acerca do papel dos sonhos ou reflexões sobre a infância, "À Procura da Terra do Nunca" desenrola-se de uma forma demasiado rotineira e controlada e só despoleta maior envolvência na recta final, mas aí já é tarde para o filme alcançar voos mais altos.
Simpática, de travo agridoce e a espaços comovente, é uma obra irregular e até desapontante, tendo em conta as múltiplas distinções de que tem sido alvo. Contudo, se as expectativas não forem demasiado elevadas, "À Procura da Terra do Nunca" não será uma experiência cinematográfica desagradável para aqueles que, como Peter Pan, ainda tentam recusar - pelo menos parcialmente - o crescimento, preservando um lado infantil, idealista e inocente.E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL


Se Marc Foster havia já assinado uma obra muito elogiada, "Monster's Ball - Depois do Ódio", de 2001, um denso olhar sobre as relações humanas e os locais mais recônditos da América profunda. Embora algo sobrevalorizado, o filme apresentava uma singular química entre Billy Bob Thornton e Halle Berry (que ganhou um Óscar por esta interpretação) e continha impressionantes ambientes crus e realistas, tornando-se num drama poderoso e arrebatador.
"À Procura da Terra do Nunca" (Finding Neverland), a nova película de Foster, despertava por isso alguma expectativa, tendo em conta as distinções que marcaram a obra anterior. Surpresa das surpresas - ou talvez não - o filme tem tido uma recepção ainda mais calorosa do que o seu antecessor e é quase consensualmente apontado como uma dos melhores de 2004. Foster debruça-se aqui sobre o escritor escocês J.M. Barrie, mais conhecido por ter criado uma das mais míticas personagens da literatura infanto-juvenil: Peter Pan. Depois da aridez dos cenários americanos, o realizador aposta agora em domínios da alta sociedade londrina de inícios do século XX, particularmente na relação de amizade que Barrie enceta com a família Llewelyn Davies (uma jovem viúva e os seus quatro filhos).
Baseado na peça "The Man Who Was Peter Pan", de Allan Knee, "À Procura da Terra do Nunca" foca a crise de inspiração de Barrie e o progressivo renascer da criatividade à medida que o escritor se vai aproximando da viúva e dos seus filhos. Desta ligação terá nascido o conto de Peter Pan, e uma das crianças Llewellyn Davies foi mesmo decisiva para a concepção da famosa personagem.
Foster consegue inserir alguma densidade emocional na sua abordagem, tornando Barrie (interpretado por Johnny Depp) num protagonista suficientemente interessante e complexo, particularmente nas cenas onde as esferas reais e imaginárias se fundem e as suas fronteiras se tornam difusas. Os momentos que focam o conturbado casamento do escritor são igualmente bem concebidos, assim como a sua relação assexuada com Sylvia Llewellyn Davies (Kate Winslet).
Se a uma perspectiva sóbria e sensível sobre as relações humanas se adicionar um trabalho de realização eficaz, uma profissional reconstituição de época e um elenco apelativo (Depp e as crianças têm prestações competentes, Dustin Hoffman, Radha Mitchell e Julie Christie são subaproveitados e Kate Winslet é, como sempre, soberba), percebe-se que "À Procura da Terra do Nunca" contém alguns bons condimentos que justificam parte do burburinho que se gerou, mas infelizmente nem tudo resulta.
Embora seja um filme correcto e feito com bom-gosto - os momentos de maior tensão emocional são genuínos e não recorrem à manipulação fácil -, a nova obra de Marc Foster não possui um ritmo muito absorvente, apresentando certos episódios de considerável monotonia e, sobretudo, previsibilidade.
Apesar de alguns curiosos pormenores acerca do papel dos sonhos ou reflexões sobre a infância, "À Procura da Terra do Nunca" desenrola-se de uma forma demasiado rotineira e controlada e só despoleta maior envolvência na recta final, mas aí já é tarde para o filme alcançar voos mais altos.
Simpática, de travo agridoce e a espaços comovente, é uma obra irregular e até desapontante, tendo em conta as múltiplas distinções de que tem sido alvo. Contudo, se as expectativas não forem demasiado elevadas, "À Procura da Terra do Nunca" não será uma experiência cinematográfica desagradável para aqueles que, como Peter Pan, ainda tentam recusar - pelo menos parcialmente - o crescimento, preservando um lado infantil, idealista e inocente.E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

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