gonn1000: MELANCOLIA E TRISTEZA INFINITA

30-06-2011
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Entre "Roman Candle", registo de estreia de 1994, e "Figure 8", de 2000, Elliott Smith editou uma série de discos que o consolidaram não como uma promessa, mas uma sólida certeza do rock alternativo norte-americano da década de 90. Infelizmente, o discreto mas profícuo percurso criativo do jovem cantautor não registou consideráveis desenvolvimentos na viragem do milénio, dado que o seu álbum mais recente, "From a Basement on the Hill", foi já editado no final de 2004, após o seu inesperado suicídio um ano antes, que pôs termo a conturbadas experiências envoltas em álcool, drogas e depressão.O sexto e derradeiro disco já estava quase finalizado quando Smith faleceu, mas aquilo que originalmente se previa ser um álbum duplo acabou transformado num registo com 14 canções, uma vez que alguns dos temas estavam incompletos e não constaram da selecção final (elaborada pela família e alguns amigos). "From a Basement on the Hill" não se afasta muito das atmosferas dos trabalhos anteriores do autor, e congrega tanto as sonoridades mais intimistas e lo-fi presentes na primeira parte da sua discografia - "Roman Candle", "Elliott Smith" e "Either/Or" - como os ambientes mais grandiloquentes e sofisticados de "XO" ou "Figure 8", numa fase mais recente.As canções centram-se, mais uma vez, no desencanto amoroso, na solidão, na angústia e na amizade, seguindo a tradição clássica dos singers-songwriters, e todo o disco é vincado por consideráveis doses de melancolia que, contudo, nunca apostam e territórios exageradamente depressivos e negros, optando antes por um registo agridoce, outonal e por vezes esperançoso (esta é, de resto, uma característica omnipresente na obra de Smith, até mesmo em "Miss Misery", tema incluído na banda-sonora de "O Bom Rebelde", de Gus Van Sant, que chegou a ser nomeada para o Óscar de Melhor Canção em 1998)."From a Basement on the Hill" possui alguns momentos de génio que congregam aquilo que a música de Elliott Smith tem de melhor: uma apelativa mistura de simplicidade e genuinidade, pontuada por uma voz cativante em composições sóbrias e profundas, onde coexistem influências dos anos 60 - as fascinantes backing vocals devem muito aos Beatles - e traços do indie rock de 90."Coast to Coast", "Let's Get Lost" e "Pretty (Ugly Before)", as faixas de abertura, mostram a faceta mais reconhecível do cantautor, três momentos pop lo-fi com a combinação certa de densidade e leveza, enquanto que a mais desencantada e triste "A Fond Farewell" é quase premonitória ao indiciar uma sofrida e inevitável despedida. "King's Crossing" apresenta sonoridades menos minimalistas, na linha de "Figure 8" e "XO", e a lindíssima e melódica "Twilight", uma das melhores pérolas do disco, é um portento de sensibilidade e entrega."From a Basement on the Hill" é quase sempre entusiasmante mas demasiado longo e, a espaços, mesmo um pouco redundante, sobretudo no último terço, onde as composições são ainda competentes mas não estão à altura de alguns momentos da primeira etapa do disco. Se o álbum fosse duplo, como estava previsto inicialmente, talvez este ligeiro desequilíbrio pudesse ser contornado, uma vez que algumas canções ficaram de fora. Ainda assim, "From a Basement on the Hill" é um belo e absorvente testemunho do considerável talento de Elliott Smith, que permite recordar uma das mais expressivas, carismáticas e melódicas vozes do rock alternativo da década de 90. Sem dúvida, um álbum - e uma discografia - a não esquecer...E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM


Entre "Roman Candle", registo de estreia de 1994, e "Figure 8", de 2000, Elliott Smith editou uma série de discos que o consolidaram não como uma promessa, mas uma sólida certeza do rock alternativo norte-americano da década de 90. Infelizmente, o discreto mas profícuo percurso criativo do jovem cantautor não registou consideráveis desenvolvimentos na viragem do milénio, dado que o seu álbum mais recente, "From a Basement on the Hill", foi já editado no final de 2004, após o seu inesperado suicídio um ano antes, que pôs termo a conturbadas experiências envoltas em álcool, drogas e depressão.O sexto e derradeiro disco já estava quase finalizado quando Smith faleceu, mas aquilo que originalmente se previa ser um álbum duplo acabou transformado num registo com 14 canções, uma vez que alguns dos temas estavam incompletos e não constaram da selecção final (elaborada pela família e alguns amigos). "From a Basement on the Hill" não se afasta muito das atmosferas dos trabalhos anteriores do autor, e congrega tanto as sonoridades mais intimistas e lo-fi presentes na primeira parte da sua discografia - "Roman Candle", "Elliott Smith" e "Either/Or" - como os ambientes mais grandiloquentes e sofisticados de "XO" ou "Figure 8", numa fase mais recente.As canções centram-se, mais uma vez, no desencanto amoroso, na solidão, na angústia e na amizade, seguindo a tradição clássica dos singers-songwriters, e todo o disco é vincado por consideráveis doses de melancolia que, contudo, nunca apostam e territórios exageradamente depressivos e negros, optando antes por um registo agridoce, outonal e por vezes esperançoso (esta é, de resto, uma característica omnipresente na obra de Smith, até mesmo em "Miss Misery", tema incluído na banda-sonora de "O Bom Rebelde", de Gus Van Sant, que chegou a ser nomeada para o Óscar de Melhor Canção em 1998)."From a Basement on the Hill" possui alguns momentos de génio que congregam aquilo que a música de Elliott Smith tem de melhor: uma apelativa mistura de simplicidade e genuinidade, pontuada por uma voz cativante em composições sóbrias e profundas, onde coexistem influências dos anos 60 - as fascinantes backing vocals devem muito aos Beatles - e traços do indie rock de 90."Coast to Coast", "Let's Get Lost" e "Pretty (Ugly Before)", as faixas de abertura, mostram a faceta mais reconhecível do cantautor, três momentos pop lo-fi com a combinação certa de densidade e leveza, enquanto que a mais desencantada e triste "A Fond Farewell" é quase premonitória ao indiciar uma sofrida e inevitável despedida. "King's Crossing" apresenta sonoridades menos minimalistas, na linha de "Figure 8" e "XO", e a lindíssima e melódica "Twilight", uma das melhores pérolas do disco, é um portento de sensibilidade e entrega."From a Basement on the Hill" é quase sempre entusiasmante mas demasiado longo e, a espaços, mesmo um pouco redundante, sobretudo no último terço, onde as composições são ainda competentes mas não estão à altura de alguns momentos da primeira etapa do disco. Se o álbum fosse duplo, como estava previsto inicialmente, talvez este ligeiro desequilíbrio pudesse ser contornado, uma vez que algumas canções ficaram de fora. Ainda assim, "From a Basement on the Hill" é um belo e absorvente testemunho do considerável talento de Elliott Smith, que permite recordar uma das mais expressivas, carismáticas e melódicas vozes do rock alternativo da década de 90. Sem dúvida, um álbum - e uma discografia - a não esquecer...E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

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