Com pouco mais de uma década de carreira, os Blonde Redhead têm já uma discografia relativamente extensa, com seis álbuns de originais e cujo sétimo tomo chega agora com "23". O trio (que incialmente era quarteto), composto pela japonesa Kazu Makino e pelos gémeos italianos Amedeo e Simone Pace, começou por destacar-se por recuperar a herança indie e noise de uns Sonic Youth, patente num rock lo-fi, experimental e de considerável sentido atmosférico.Contudo, os Blonde Redhead de hoje são uma banda diferente, e embora a espaços ainda mantenham esses elementos investem maioritariamente em canções mais polidas, condimentadas com uma sensibilidade pop pouco presente nos primeiros registos."23" apresenta então dez temas onde o grupo soa mais imediato mas não necessariamente menos exigente, uma vez que a composição é acessível sem ser facilista e a produção evidencia um rigor que se traduz em cenografias ainda enigmáticas e estimulantes (ou não estivesse a cargo de Alan Moulder).Interessante contraste entre momentos de luz e sombra que se manifestam nas subtis mudanças de sonoridade, na voz agridoce de Makino ou nas letras (ora melancólicas, ora ligeiramente optimistas), "23" resulta num disco equilibrado e convidativo, capaz de seduzir durante várias audições. Seja nos tons épicos da faixa-título - uma das melhores -, no romantismo amargurado de "The Dress" ou na placidez de travo electrónico de "Top Ranking", os Blonde Redhead comprovam que a opção por novos caminhos se revelou bem sucedida.A banda não desbrava aqui novos territórios, mas sabe como renovar muitos sinais reconhecíveis, desde o shoegaze de uns My Bloody Valentine ou Lush ao rock esparso, negro e amargurado, próximo dos Radiohead ou Archive (estes últimos reflectem-se sobretudo nas canções cantadas por Amedeo Pace, como a óptima "Spring and by Summer Fall ou "S.W.").O savoir faire do grupo traduz-se num disco que alia eficazmente elegância e mistério - ainda que o tema final, "My Impure Air", não o termine da melhor forma - mas ao qual faltam momentos que o atirem para um nível mais apaixonante.Seja como for, "23" é um álbum seguro e recomendável, em especial para apreciadores de dream pop bem feita, algo pelo qual uma editora como a 4AD sempre se destacou e cuja reputação os Blonde Redhead não comprometem. E O VEREDICTO É: 3/5 - BOMBlonde Redhead - "23"
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Com pouco mais de uma década de carreira, os Blonde Redhead têm já uma discografia relativamente extensa, com seis álbuns de originais e cujo sétimo tomo chega agora com "23". O trio (que incialmente era quarteto), composto pela japonesa Kazu Makino e pelos gémeos italianos Amedeo e Simone Pace, começou por destacar-se por recuperar a herança indie e noise de uns Sonic Youth, patente num rock lo-fi, experimental e de considerável sentido atmosférico.Contudo, os Blonde Redhead de hoje são uma banda diferente, e embora a espaços ainda mantenham esses elementos investem maioritariamente em canções mais polidas, condimentadas com uma sensibilidade pop pouco presente nos primeiros registos."23" apresenta então dez temas onde o grupo soa mais imediato mas não necessariamente menos exigente, uma vez que a composição é acessível sem ser facilista e a produção evidencia um rigor que se traduz em cenografias ainda enigmáticas e estimulantes (ou não estivesse a cargo de Alan Moulder).Interessante contraste entre momentos de luz e sombra que se manifestam nas subtis mudanças de sonoridade, na voz agridoce de Makino ou nas letras (ora melancólicas, ora ligeiramente optimistas), "23" resulta num disco equilibrado e convidativo, capaz de seduzir durante várias audições. Seja nos tons épicos da faixa-título - uma das melhores -, no romantismo amargurado de "The Dress" ou na placidez de travo electrónico de "Top Ranking", os Blonde Redhead comprovam que a opção por novos caminhos se revelou bem sucedida.A banda não desbrava aqui novos territórios, mas sabe como renovar muitos sinais reconhecíveis, desde o shoegaze de uns My Bloody Valentine ou Lush ao rock esparso, negro e amargurado, próximo dos Radiohead ou Archive (estes últimos reflectem-se sobretudo nas canções cantadas por Amedeo Pace, como a óptima "Spring and by Summer Fall ou "S.W.").O savoir faire do grupo traduz-se num disco que alia eficazmente elegância e mistério - ainda que o tema final, "My Impure Air", não o termine da melhor forma - mas ao qual faltam momentos que o atirem para um nível mais apaixonante.Seja como for, "23" é um álbum seguro e recomendável, em especial para apreciadores de dream pop bem feita, algo pelo qual uma editora como a 4AD sempre se destacou e cuja reputação os Blonde Redhead não comprometem. E O VEREDICTO É: 3/5 - BOMBlonde Redhead - "23"