gonn1000: TERNA É A NOITE

30-06-2011
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"Sapatos Pretos" ou "Ganhar a Vida" já tinham comprovado a singularidade de João Canijo no panorama do cinema português actual, e o título mais recente do realizador, "Noite Escura", volta a confirmar os méritos do cineasta, impondo-se como um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos.Inspirado na tragédia grega "Ifigénia em Áulis", de Eurípedes, "Noite Escura" apresenta um visceral drama familiar centrado em tensos ambientes nocturnos. A tragédia propaga-se por todos os recantos do bar de alterne onde decorre o filme, interligando as vidas dos quatro elementos da família que gere aquele espaço.Nelson (Fernando Luís), o proprietário, vê-se forçado a entregar a filha mais nova, Sónia (Cleia Almeida) à máfia russa, de forma a reparar uma dívida e reduzir alguma da inquietação e temor que contamina a sua vida. Esta decisão desperta um ciclo de acontecimentos cada vez mais claustrofóbicos e carregados de tensão, uma vez que Celeste (Rita Blanco), a mãe, e Carla (Beatriz Batarda), a filha mais velha, tentam a todo o custo evitar que a sua família seja estilhaçada.Canijo retrata esta inevitável espiral descendente - embora a família tente contrariar o destino - com assinalável intensidade e fulgor, construindo personagens densas envoltas em atmosferas convincentes e perturbantes. A câmara segue de perto os protagonistas, denunciando os seus movimentos e expondo as suas vulnerabilidades, com um muito eficaz trabalho de realização a conseguir traduzir a agitação e carga sufocante que se propaga pela casa de alterne. A frequente mistura de conversas paralelas deixa transparecer a atmosfera nebulosa que invade aquele espaço, e o rigoroso e sedutor cuidado na iluminação, com fortes contrastes de verdes e vermelhos, gera uma hipnótica efervescência visual, perfeitamente adequada.Para além de um ambiente de cortar à faca, "Noite Escura" tem ainda a seu favor uma boa direcção de actores, dispondo de um elenco competente e capaz de dar alma às personagens (algo que, infelizmente, nem sempre ocorre no cinema português). Beatriz Batarda e Rita Blanco são particularmente soberbas, compondo duas figuras marcantes e surpreendentes que terão um papel decisivo no portentoso desenlace.Com uma profícua combinação de ingredientes, "Noite Escura" é uma das boas surpresas cinematográficas de 2004 e um dos mais sólidos filmes portugueses dos últimos tempos. Um memorável murro no estômago e um sinal de vitalidade para o cinema nacional.E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM


"Sapatos Pretos" ou "Ganhar a Vida" já tinham comprovado a singularidade de João Canijo no panorama do cinema português actual, e o título mais recente do realizador, "Noite Escura", volta a confirmar os méritos do cineasta, impondo-se como um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos.Inspirado na tragédia grega "Ifigénia em Áulis", de Eurípedes, "Noite Escura" apresenta um visceral drama familiar centrado em tensos ambientes nocturnos. A tragédia propaga-se por todos os recantos do bar de alterne onde decorre o filme, interligando as vidas dos quatro elementos da família que gere aquele espaço.Nelson (Fernando Luís), o proprietário, vê-se forçado a entregar a filha mais nova, Sónia (Cleia Almeida) à máfia russa, de forma a reparar uma dívida e reduzir alguma da inquietação e temor que contamina a sua vida. Esta decisão desperta um ciclo de acontecimentos cada vez mais claustrofóbicos e carregados de tensão, uma vez que Celeste (Rita Blanco), a mãe, e Carla (Beatriz Batarda), a filha mais velha, tentam a todo o custo evitar que a sua família seja estilhaçada.Canijo retrata esta inevitável espiral descendente - embora a família tente contrariar o destino - com assinalável intensidade e fulgor, construindo personagens densas envoltas em atmosferas convincentes e perturbantes. A câmara segue de perto os protagonistas, denunciando os seus movimentos e expondo as suas vulnerabilidades, com um muito eficaz trabalho de realização a conseguir traduzir a agitação e carga sufocante que se propaga pela casa de alterne. A frequente mistura de conversas paralelas deixa transparecer a atmosfera nebulosa que invade aquele espaço, e o rigoroso e sedutor cuidado na iluminação, com fortes contrastes de verdes e vermelhos, gera uma hipnótica efervescência visual, perfeitamente adequada.Para além de um ambiente de cortar à faca, "Noite Escura" tem ainda a seu favor uma boa direcção de actores, dispondo de um elenco competente e capaz de dar alma às personagens (algo que, infelizmente, nem sempre ocorre no cinema português). Beatriz Batarda e Rita Blanco são particularmente soberbas, compondo duas figuras marcantes e surpreendentes que terão um papel decisivo no portentoso desenlace.Com uma profícua combinação de ingredientes, "Noite Escura" é uma das boas surpresas cinematográficas de 2004 e um dos mais sólidos filmes portugueses dos últimos tempos. Um memorável murro no estômago e um sinal de vitalidade para o cinema nacional.E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

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