Coordenação e convergência sem vento nem casamento

26-12-2011
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Debate Portugal e Espanha

A União Europeia conhece um período conturbado. São múltiplos os problemas que a assolam e não surgem no horizonte soluções fáceis nem caminhos livres de perigos. As decisões do último Conselho Europeu terão ainda de passar o teste da sua aplicação e, sobre isso, já muitos rios de tinta foram escritos. Enquanto os mais pessimistas prenunciam o fim da União e a erosão das democracias nacionais, os mais optimistas regozijam-se com a solução encontrada e com o caminho aberto para maior integração. Julgo que estaremos no bom caminho mas não antecipo triunfos. Antes espero dificuldades.

A Europa a várias velocidades ou, pelos menos, a vários níveis de concertação que se vem tornando cada vez mais evidente é uma realidade acerca da qual podemos enunciar as mais variadas teorias e reagir com diversos estados de alma, mas que, apesar disso, não deixará de existir. Para tristeza dos defensores da igualdade entre os Estados, é clara e de certo modo inevitável a supremacia dos maiores países da União e o modo como estes preparam e coordenam as suas posições em momentos anteriores às reuniões mais decisivas, nomeadamente através da realização de cimeiras destinadas a esse efeito. A forma de agir da Alemanha e da França, vimo-lo recentemente, é o maior exemplo disso mesmo e constitui um claro desafio aos países médios e pequenos, que terão de procurar meios adequados para defender os seus interesses num cenário que lhes é particularmente adverso. Portugal não é excepção.

Recordo que o nosso país foi deixado pelo governo socialista numa situação de menoridade perante os demais Estados-membros. A verdade é esta: sem ajuda externa não haveria dinheiro para o Estado pagar os salários no final do ano. O governo PSD-CDS tem procurado inverter este rumo e devolver-nos a credibilidade e a fiabilidade de que precisamos. Mas, por maior e melhor que seja o esforço governativo, este não produzirá efeitos se Portugal não tiver presente a necessidade de obter os melhores resultados junto dos seus parceiros da União e não for capaz de influenciar positivamente as políticas que se definem e executam a partir dela. Para isso, cabe ao nosso país escolher um rumo, os seus parceiros preferenciais e procurar fazer valer junto deles as nossas posições. O nosso país deve aquilatar que alianças estão ao seu dispor e quais são as que melhor o servem, em particular no seio da zona euro.

Não pretendendo citar José Sócrates, a resposta parece-me óbvia: Espanha. Ao contrário daqueles que advogam que Portugal deve procurar integrar um grupo alargado de países médios e articular-se preferencialmente com eles, julgo que teremos muito mais a ganhar se assumirmos que Espanha é um dos nossos aliados potenciais no quadro europeu e soubermos fazer desse facto não a realização da união ibérica por outros meios, mas, muito pelo contrário, a afirmação da nossa independência enquanto Estado soberano mas empenhado na construção europeia e, por isso, capaz de estabelecer consensos alargados com parceiros estratégicos.

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Se não pode deixar de reconhecer-se que a integração de Portugal na sua órbita de influência é uma tentação constante da política externa espanhola não é menos verdade que, parafraseando Rui Veloso, muito mais é o que une Portugal e Espanha no quadro europeu do que aquilo que os separa. Pela sua história, cultura, sociedade, localização e interesses geopolíticos, os dois países comungam de perspectivas semelhantes e de ângulos de visão aproximados em múltiplas matérias.

A capacidade de Portugal afirmar um diálogo permanente, construtivo e constante com Espanha - aproveitando até a circunstância feliz de ambos os governos serem da mesma família política europeia -, eventualmente através do estabelecimento de cimeiras bilaterais que, à luz do modelo franco-alemão, antecipem os Conselhos Europeus e permitam alcançar posições de interesse comum, dará à Espanha, o peso negocial estável que lhe falta para se afirmar como um entre os grandes e a Portugal a faculdade de ser indispensável para que tal suceda. Caber-nos-á saber tirar partido desse poder.

Antero de Quental escreveu acerca do iberismo que "O único acto possível e lógico do verdadeiro patriotismo consiste em renegar a nacionalidade." Tal como a maioria dos portugueses de então e de hoje, discordo absolutamente desta visão e proponho outra em alternativa: O único acto possível e lógico do verdadeiro patriotismo consiste em afirmar a nacionalidade e interesses portugueses no quadro europeu e fazê-lo decidida e descomplexadamente. O tempo de instabilidade e de incerteza quanto ao futuro que conhecemos recomenda essa lucidez. Aconselha a que apoiemos os imensos esforços que a Comissão Europeia, que convém relembrar é presidida por um português, Durão Barroso, tem feito no sentido da estabilidade, crescimento e solidariedade na zona euro.

Debate Portugal e Espanha

A União Europeia conhece um período conturbado. São múltiplos os problemas que a assolam e não surgem no horizonte soluções fáceis nem caminhos livres de perigos. As decisões do último Conselho Europeu terão ainda de passar o teste da sua aplicação e, sobre isso, já muitos rios de tinta foram escritos. Enquanto os mais pessimistas prenunciam o fim da União e a erosão das democracias nacionais, os mais optimistas regozijam-se com a solução encontrada e com o caminho aberto para maior integração. Julgo que estaremos no bom caminho mas não antecipo triunfos. Antes espero dificuldades.

A Europa a várias velocidades ou, pelos menos, a vários níveis de concertação que se vem tornando cada vez mais evidente é uma realidade acerca da qual podemos enunciar as mais variadas teorias e reagir com diversos estados de alma, mas que, apesar disso, não deixará de existir. Para tristeza dos defensores da igualdade entre os Estados, é clara e de certo modo inevitável a supremacia dos maiores países da União e o modo como estes preparam e coordenam as suas posições em momentos anteriores às reuniões mais decisivas, nomeadamente através da realização de cimeiras destinadas a esse efeito. A forma de agir da Alemanha e da França, vimo-lo recentemente, é o maior exemplo disso mesmo e constitui um claro desafio aos países médios e pequenos, que terão de procurar meios adequados para defender os seus interesses num cenário que lhes é particularmente adverso. Portugal não é excepção.

Recordo que o nosso país foi deixado pelo governo socialista numa situação de menoridade perante os demais Estados-membros. A verdade é esta: sem ajuda externa não haveria dinheiro para o Estado pagar os salários no final do ano. O governo PSD-CDS tem procurado inverter este rumo e devolver-nos a credibilidade e a fiabilidade de que precisamos. Mas, por maior e melhor que seja o esforço governativo, este não produzirá efeitos se Portugal não tiver presente a necessidade de obter os melhores resultados junto dos seus parceiros da União e não for capaz de influenciar positivamente as políticas que se definem e executam a partir dela. Para isso, cabe ao nosso país escolher um rumo, os seus parceiros preferenciais e procurar fazer valer junto deles as nossas posições. O nosso país deve aquilatar que alianças estão ao seu dispor e quais são as que melhor o servem, em particular no seio da zona euro.

Não pretendendo citar José Sócrates, a resposta parece-me óbvia: Espanha. Ao contrário daqueles que advogam que Portugal deve procurar integrar um grupo alargado de países médios e articular-se preferencialmente com eles, julgo que teremos muito mais a ganhar se assumirmos que Espanha é um dos nossos aliados potenciais no quadro europeu e soubermos fazer desse facto não a realização da união ibérica por outros meios, mas, muito pelo contrário, a afirmação da nossa independência enquanto Estado soberano mas empenhado na construção europeia e, por isso, capaz de estabelecer consensos alargados com parceiros estratégicos.

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Se não pode deixar de reconhecer-se que a integração de Portugal na sua órbita de influência é uma tentação constante da política externa espanhola não é menos verdade que, parafraseando Rui Veloso, muito mais é o que une Portugal e Espanha no quadro europeu do que aquilo que os separa. Pela sua história, cultura, sociedade, localização e interesses geopolíticos, os dois países comungam de perspectivas semelhantes e de ângulos de visão aproximados em múltiplas matérias.

A capacidade de Portugal afirmar um diálogo permanente, construtivo e constante com Espanha - aproveitando até a circunstância feliz de ambos os governos serem da mesma família política europeia -, eventualmente através do estabelecimento de cimeiras bilaterais que, à luz do modelo franco-alemão, antecipem os Conselhos Europeus e permitam alcançar posições de interesse comum, dará à Espanha, o peso negocial estável que lhe falta para se afirmar como um entre os grandes e a Portugal a faculdade de ser indispensável para que tal suceda. Caber-nos-á saber tirar partido desse poder.

Antero de Quental escreveu acerca do iberismo que "O único acto possível e lógico do verdadeiro patriotismo consiste em renegar a nacionalidade." Tal como a maioria dos portugueses de então e de hoje, discordo absolutamente desta visão e proponho outra em alternativa: O único acto possível e lógico do verdadeiro patriotismo consiste em afirmar a nacionalidade e interesses portugueses no quadro europeu e fazê-lo decidida e descomplexadamente. O tempo de instabilidade e de incerteza quanto ao futuro que conhecemos recomenda essa lucidez. Aconselha a que apoiemos os imensos esforços que a Comissão Europeia, que convém relembrar é presidida por um português, Durão Barroso, tem feito no sentido da estabilidade, crescimento e solidariedade na zona euro.

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