Seguro cede a ultimato interno e evita revolta na sua bancada

29-11-2011
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Líder do PS justifica mudança repentina para a abstenção com falta de resposta da maioria. Governo diz que PS está "baralhado"

Quando António José Seguro entrou ontem de manhã no plenário, a poucos minutos da votação, levava debaixo do braço a aprovação do PS às alterações da maioria parlamentar aos cortes nos subsídios de férias e de Natal da função pública e pensionistas. Desde que se sentou na primeira fila da bancada socialista até ao momento do voto, tudo mudou.

O líder do PS começou a receber dezenas de emails dos seus deputados contestando a decisão de votar a favor das subidas dos limites mínimos a partir do quais se aplicariam os cortes (ver caixa). Foi também interpelado directamente, já decorria a sessão, para mudar o sentido de voto. E viu-se confrontado com um ultimato dos seus pares: ou recuava ou teria de enfrentar uma revolta na sua bancada, com dezenas de deputados a quebrarem a disciplina de voto.

A mudança (o PS absteve-se) tornou-se evidente nas duas intervenções do deputado socialista Pedro Marques, que demonstraram nitidamente a alteração do voto. "Finalmente parece que recuaram para diminuir um pouco as injustiças, mas recuaram pouco. Podiam ter ido mais longe", afirmou, dirigindo-se ao PSD e CDS.

À medida que o debate prosseguia, a primeira fila da bancada socialista dava sinais de inquietação e nervosismo. Seguro ia dando indicações a Marques e este escrevia. Quando pediu a palavra pela segunda vez, foi para dizer que o PS estava "decepcionado" com a proposta da maioria e lançou um desafio: "Está esta maioria disponível para ir mais além?". Seguro tinha então já decidido que o seu grupo iria abster-se. Nas bancadas da maioria viu-se alguma surpresa e ninguém se levantou para responder ao PS.

No final da votação, alguns socialistas apontavam a contradição que representaria um voto favorável a uma proposta muito diferente da do PS (que propunha cortar apenas um dos subsídios). Outros, como José Lello e Eduardo Cabrita, explicaram ao PÚBLICO que existia apenas uma orientação política: "Nós estamos vinculados ao mandato da comissão política [do PS], isso vale para todos, inclusive para a direcção", sustentou Cabrita.

Durante a votação, Isabel Moreira, deputada independente eleita pelo PS, fez-se notar. Votou contra a proposta de alteração do PS e a favor da eliminação dos cortes, defendida pelo BE, PCP e Verdes. "Não se devolve o que nunca se devia ter tirado", justificou, numa referência ao voto contra o projecto dos socialistas.

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No fim da discussão havia quem, na bancada do PS, cantasse vitória sobre a "derrota" de Seguro, notando que o secretário-geral foi obrigado a recuar sob a ameaça de ficar isolado entre os seus pares. O líder, contudo, tinha uma visão diferente do que sucedera no plenário. Confirmou ter mudado de posição "durante o debate", mas devido "à evolução da leitura da proposta da maioria e da ausência de resposta" ao desafio de Pedro Marques. "A maioria não respondeu, não disse sequer nada", acrescentou, à saída do hemiciclo. Confrontado com as movimentações internas, Seguro afirmou apenas: "No PS há liberdade de expressão." Para justificar a abstenção (e não o voto contra), disse que, apesar de tudo, a alteração representava uma melhoria "mínima". Pouco antes, Carlos Zorrinho, líder da bancada, falava numa "enorme desilusão" perante as alterações propostas pela maioria, argumentando assim a abstenção.

Para o Governo foi "tonteria"

Se para as bancadas da maioria PSD e CDS o episódio foi um sinal de que os socialistas não são de confiança, para o Governo, ao mais alto nível, a alteração do sentido de voto à última hora, foi interpretado como uma "tonteria". "Estão baralhados", disse ao PÚBLICO fonte governamental.

Ontem, Miguel Relvas, ministro dos Assuntos Parlamentares, não quis comentar a abstenção do PS, dizendo apenas que as alterações apresentadas pela maioria resultaram da abertura a "sugestões" e à procura de "outras soluções". O Governo, afirmou, demonstrou "saber ouvir para saber agir". Só não disse quem foi ouvido. com S.R.

Líder do PS justifica mudança repentina para a abstenção com falta de resposta da maioria. Governo diz que PS está "baralhado"

Quando António José Seguro entrou ontem de manhã no plenário, a poucos minutos da votação, levava debaixo do braço a aprovação do PS às alterações da maioria parlamentar aos cortes nos subsídios de férias e de Natal da função pública e pensionistas. Desde que se sentou na primeira fila da bancada socialista até ao momento do voto, tudo mudou.

O líder do PS começou a receber dezenas de emails dos seus deputados contestando a decisão de votar a favor das subidas dos limites mínimos a partir do quais se aplicariam os cortes (ver caixa). Foi também interpelado directamente, já decorria a sessão, para mudar o sentido de voto. E viu-se confrontado com um ultimato dos seus pares: ou recuava ou teria de enfrentar uma revolta na sua bancada, com dezenas de deputados a quebrarem a disciplina de voto.

A mudança (o PS absteve-se) tornou-se evidente nas duas intervenções do deputado socialista Pedro Marques, que demonstraram nitidamente a alteração do voto. "Finalmente parece que recuaram para diminuir um pouco as injustiças, mas recuaram pouco. Podiam ter ido mais longe", afirmou, dirigindo-se ao PSD e CDS.

À medida que o debate prosseguia, a primeira fila da bancada socialista dava sinais de inquietação e nervosismo. Seguro ia dando indicações a Marques e este escrevia. Quando pediu a palavra pela segunda vez, foi para dizer que o PS estava "decepcionado" com a proposta da maioria e lançou um desafio: "Está esta maioria disponível para ir mais além?". Seguro tinha então já decidido que o seu grupo iria abster-se. Nas bancadas da maioria viu-se alguma surpresa e ninguém se levantou para responder ao PS.

No final da votação, alguns socialistas apontavam a contradição que representaria um voto favorável a uma proposta muito diferente da do PS (que propunha cortar apenas um dos subsídios). Outros, como José Lello e Eduardo Cabrita, explicaram ao PÚBLICO que existia apenas uma orientação política: "Nós estamos vinculados ao mandato da comissão política [do PS], isso vale para todos, inclusive para a direcção", sustentou Cabrita.

Durante a votação, Isabel Moreira, deputada independente eleita pelo PS, fez-se notar. Votou contra a proposta de alteração do PS e a favor da eliminação dos cortes, defendida pelo BE, PCP e Verdes. "Não se devolve o que nunca se devia ter tirado", justificou, numa referência ao voto contra o projecto dos socialistas.

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No fim da discussão havia quem, na bancada do PS, cantasse vitória sobre a "derrota" de Seguro, notando que o secretário-geral foi obrigado a recuar sob a ameaça de ficar isolado entre os seus pares. O líder, contudo, tinha uma visão diferente do que sucedera no plenário. Confirmou ter mudado de posição "durante o debate", mas devido "à evolução da leitura da proposta da maioria e da ausência de resposta" ao desafio de Pedro Marques. "A maioria não respondeu, não disse sequer nada", acrescentou, à saída do hemiciclo. Confrontado com as movimentações internas, Seguro afirmou apenas: "No PS há liberdade de expressão." Para justificar a abstenção (e não o voto contra), disse que, apesar de tudo, a alteração representava uma melhoria "mínima". Pouco antes, Carlos Zorrinho, líder da bancada, falava numa "enorme desilusão" perante as alterações propostas pela maioria, argumentando assim a abstenção.

Para o Governo foi "tonteria"

Se para as bancadas da maioria PSD e CDS o episódio foi um sinal de que os socialistas não são de confiança, para o Governo, ao mais alto nível, a alteração do sentido de voto à última hora, foi interpretado como uma "tonteria". "Estão baralhados", disse ao PÚBLICO fonte governamental.

Ontem, Miguel Relvas, ministro dos Assuntos Parlamentares, não quis comentar a abstenção do PS, dizendo apenas que as alterações apresentadas pela maioria resultaram da abertura a "sugestões" e à procura de "outras soluções". O Governo, afirmou, demonstrou "saber ouvir para saber agir". Só não disse quem foi ouvido. com S.R.

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