Cinema Notebook: La Science des Rêves (2006)

02-07-2011
marcar artigo


Doloroso. “A Ciência dos Sonhos”, o filme mais recente de Michel Gondry não passa de um enorme pesadelo cinematográfico. Imaginação e criatividade só servem quando usados com pés e cabeça, com um sentido e significado.Mas bem, não coloquemos “a carroça à frente dos bois” e começemos pela sinopse oficial de “La Science des Rêves”: A vida parece melhorar para o envergonhado e distante Stephane (Gael García Bernal) quando este é convencido, pela mãe que lhe promete trabalho, a voltar à sua casa de infância em França. Bastante criativo, a sua fantasiosa e por vezes perturbada vida ‘de sonhos’ ameaça constantemente o seu mundo quando acordado. Porém, a sua vida pode mudar quando conhece a nova vizinha, Stephanie (Charlotte Gainsbourg) e a sua amiga, Zoe (Emma de Caunes). Inicialmente atraído por Zoe, ele rapidamente se deixa levar por Stephanie cuja imaginação facilmente se combina com a dele. Quase inexplicavelmente levada pelo seu charme, ela de alguma forma encontra a chave do frágil coração de artista de Stephane. Entretanto, à medida que o seu relacionamento se desenvolve, a vida “de sonhos” começa a sobrepor-se à sua vida real e Stephane enfrenta um dilema que poderá não ser capaz de resolver, mesmo com a ajuda da sua “Ciência dos Sonhos".Com um conceito tão sumarento, um realizador competente e criativo - “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, apesar de altamente sobrevalorizado, foi uma obra de valor indiscutível e único – e todos os meios sócio-técnicos para triunfar, Gondry falha redundantemente e converte uma premissa interessante numa execução absolutamente confusa, infantil, e, a certo ponto, dependente de piadas de carácter sexual para mantêr o público atento. Michel Gondry sentiu-se tão em casa com o tema do filme, construído à medida da sua imaginação, que relaxou demasiado e esqueceu que realizar um filme não é o mesmo que pintar um quadro. Existem regras. As personagens não podem ser tão humanas quanto bonecos de papel. Um filme que articula sonhos e realidade não pode basear todo o seu entretenimento em piadas sexuais.Mesmo assim, Gael García Bernal brilha, num estilo muito próprio e acaba por ser o único aspecto positivo de “A Ciência dos Sonhos” (além da personagem de Alain Chabat, que aqui e ali desanuviava o ambiente). As restantes não passam de personagens estampadas, pouco desenvolvidas, e que pouco ou nada acrescentam a este verdadeiro derrapanço qualitativo de Gondry. Disparando para todos os flancos “imaginações sem sentido” e sem interligação, “La Science de Rêves” vale apenas (apesar de pouco!) por alguns momentos que ocorrem na realidade argumentativa. O resto é para esquecer. Um filme sobre sonhos merecia muito mais. Será que Gondry consegue arranjar-me aquela máquina do tempo para eu voltar atrás e recuperar as minhas duas horas perdidas?


Doloroso. “A Ciência dos Sonhos”, o filme mais recente de Michel Gondry não passa de um enorme pesadelo cinematográfico. Imaginação e criatividade só servem quando usados com pés e cabeça, com um sentido e significado.Mas bem, não coloquemos “a carroça à frente dos bois” e começemos pela sinopse oficial de “La Science des Rêves”: A vida parece melhorar para o envergonhado e distante Stephane (Gael García Bernal) quando este é convencido, pela mãe que lhe promete trabalho, a voltar à sua casa de infância em França. Bastante criativo, a sua fantasiosa e por vezes perturbada vida ‘de sonhos’ ameaça constantemente o seu mundo quando acordado. Porém, a sua vida pode mudar quando conhece a nova vizinha, Stephanie (Charlotte Gainsbourg) e a sua amiga, Zoe (Emma de Caunes). Inicialmente atraído por Zoe, ele rapidamente se deixa levar por Stephanie cuja imaginação facilmente se combina com a dele. Quase inexplicavelmente levada pelo seu charme, ela de alguma forma encontra a chave do frágil coração de artista de Stephane. Entretanto, à medida que o seu relacionamento se desenvolve, a vida “de sonhos” começa a sobrepor-se à sua vida real e Stephane enfrenta um dilema que poderá não ser capaz de resolver, mesmo com a ajuda da sua “Ciência dos Sonhos".Com um conceito tão sumarento, um realizador competente e criativo - “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, apesar de altamente sobrevalorizado, foi uma obra de valor indiscutível e único – e todos os meios sócio-técnicos para triunfar, Gondry falha redundantemente e converte uma premissa interessante numa execução absolutamente confusa, infantil, e, a certo ponto, dependente de piadas de carácter sexual para mantêr o público atento. Michel Gondry sentiu-se tão em casa com o tema do filme, construído à medida da sua imaginação, que relaxou demasiado e esqueceu que realizar um filme não é o mesmo que pintar um quadro. Existem regras. As personagens não podem ser tão humanas quanto bonecos de papel. Um filme que articula sonhos e realidade não pode basear todo o seu entretenimento em piadas sexuais.Mesmo assim, Gael García Bernal brilha, num estilo muito próprio e acaba por ser o único aspecto positivo de “A Ciência dos Sonhos” (além da personagem de Alain Chabat, que aqui e ali desanuviava o ambiente). As restantes não passam de personagens estampadas, pouco desenvolvidas, e que pouco ou nada acrescentam a este verdadeiro derrapanço qualitativo de Gondry. Disparando para todos os flancos “imaginações sem sentido” e sem interligação, “La Science de Rêves” vale apenas (apesar de pouco!) por alguns momentos que ocorrem na realidade argumentativa. O resto é para esquecer. Um filme sobre sonhos merecia muito mais. Será que Gondry consegue arranjar-me aquela máquina do tempo para eu voltar atrás e recuperar as minhas duas horas perdidas?

marcar artigo