Semanário O Diabo: Finis Mundi: A arte de João Sousa

17-07-2011
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A Galeria João Sousa encontra-se na Av. São João de Deus
Tão habituados estamos aos plásticos industriais que nos surpreendemos quando nos deparamos com peças de artesanato tradicionais e de uso comum, tanto nos habituamos a relegar o artesanato para as lojas de turistas onde se exibem imensas peças de olaria aparentemente local e que os turistas mais incautos levam na bagagem como sendo uma recordação das férias, os mais cautelosos acabam por notar na incontornável etiqueta “Made in China”.
Felizmente ainda existem algumas excepções, uma delas é a arte de João Sousa, um dos poucos jovens portugueses que decidiu dedicar a sua vida à perpetuação de uma ancestral tradição portuguesa que, como muitas outras, desaparece ao mesmo ritmo que os seus idosos mestres: a olaria tradicional.
Tijelinhas, canecas, vasos, louças e canecos não faltam na sua galeria, mas a sua arte é mais notável nos incontornáveis objectos decorativos, no modo como esculpe o barro, além de o modelar, unindo os seus dotes de oleiro aos de escultor, e à originalidade e ousadia de ser o único oleiro português, que se saiba, a pesquisar e a recuperar objectos musicais em barro! Essa pesquisa já deu os primeiros frutos e a colecção de 2011 inclui já vários modelos de ocarina que têm sido alvo de encomendas tanto no território nacional, normalmente por parte de músicos, como oriundas do estrangeiro.
Crê-se que este instrumento de sopro exista há mais de 12.000 anos na China, no Japão e na América pré-colombiana, embora só no Séc. XIX se tenha tornado popular na Europa, graças ao oleiro italiano Giuseppe Donati, criador daquela que actualmente é apodada de “ocarina clássica”.
A particularidade na recuperação deste tradicional instrumento de sopro é que, embora utilize o mesmo material ancestral (o barro vermelho) e a mesma técnica de fabrico, o jovem 'mestre' Sousa modernizou o desenho, tornando-o mais contemporâneo, e afinou os sons tornando-os mais apelativos aos intérpretes actuais, embora o mais provável seja que grande parte dos compradores relegue o instrumento para a prateleira dos bibelots lá da sala, indiferente ao esforço investido na recuperação deste como instrumento musical de direito próprio.
Esperemos que esta seja apenas a primeira recuperação “arqueofuturista” de João Sousa, uma vez que as tradições passadas, caso da olaria, podem e devem renascer e perpetuar-se, assimilando-se hoje naqueles que recusam deixar que estas morram com os mestres de outrora. A Galeria João Sousa encontra-se na Av. São João de Deus (Areeiro), nº 71. Um lugar de Tradição que merece, certamente, a sua visita.
Flávio Gonçalves

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A Galeria João Sousa encontra-se na Av. São João de Deus
Tão habituados estamos aos plásticos industriais que nos surpreendemos quando nos deparamos com peças de artesanato tradicionais e de uso comum, tanto nos habituamos a relegar o artesanato para as lojas de turistas onde se exibem imensas peças de olaria aparentemente local e que os turistas mais incautos levam na bagagem como sendo uma recordação das férias, os mais cautelosos acabam por notar na incontornável etiqueta “Made in China”.
Felizmente ainda existem algumas excepções, uma delas é a arte de João Sousa, um dos poucos jovens portugueses que decidiu dedicar a sua vida à perpetuação de uma ancestral tradição portuguesa que, como muitas outras, desaparece ao mesmo ritmo que os seus idosos mestres: a olaria tradicional.
Tijelinhas, canecas, vasos, louças e canecos não faltam na sua galeria, mas a sua arte é mais notável nos incontornáveis objectos decorativos, no modo como esculpe o barro, além de o modelar, unindo os seus dotes de oleiro aos de escultor, e à originalidade e ousadia de ser o único oleiro português, que se saiba, a pesquisar e a recuperar objectos musicais em barro! Essa pesquisa já deu os primeiros frutos e a colecção de 2011 inclui já vários modelos de ocarina que têm sido alvo de encomendas tanto no território nacional, normalmente por parte de músicos, como oriundas do estrangeiro.
Crê-se que este instrumento de sopro exista há mais de 12.000 anos na China, no Japão e na América pré-colombiana, embora só no Séc. XIX se tenha tornado popular na Europa, graças ao oleiro italiano Giuseppe Donati, criador daquela que actualmente é apodada de “ocarina clássica”.
A particularidade na recuperação deste tradicional instrumento de sopro é que, embora utilize o mesmo material ancestral (o barro vermelho) e a mesma técnica de fabrico, o jovem 'mestre' Sousa modernizou o desenho, tornando-o mais contemporâneo, e afinou os sons tornando-os mais apelativos aos intérpretes actuais, embora o mais provável seja que grande parte dos compradores relegue o instrumento para a prateleira dos bibelots lá da sala, indiferente ao esforço investido na recuperação deste como instrumento musical de direito próprio.
Esperemos que esta seja apenas a primeira recuperação “arqueofuturista” de João Sousa, uma vez que as tradições passadas, caso da olaria, podem e devem renascer e perpetuar-se, assimilando-se hoje naqueles que recusam deixar que estas morram com os mestres de outrora. A Galeria João Sousa encontra-se na Av. São João de Deus (Areeiro), nº 71. Um lugar de Tradição que merece, certamente, a sua visita.
Flávio Gonçalves

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