Storytelling – a arte de contar “Era uma vez…”

16-10-2012
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A rapariga chega num velho carocha à beira de um penhasco com o mar ao fundo. Triste e desalentada, algo de grave se passou - uma separação, uma morte, talvez...

Sentada ao volante, a rapariga puxa de uma caneca cujo líquido aquece com uma resistência que liga ao isqueiro do carro. A bebida é reconfortante e o estado de espírito muda rapidamente ao som de I feel good, de James Brown.

Qual é a marca que consegue manter uma recordatória de uma campanha tão antiga? Nescafé, claro! Quente, reconfortante, transportável ...

Na sua essência, o Marketing é a arte de contar histórias. Contar a história de uma marca pressupõe a ideia de uma narrativa que reflicta os valores, atitudes e o estilo de vida dos seus produtos ou serviços. Sabemos hoje que uma narrativa aumenta o envolvimento com a mensagem e a sua compreensão. Mas será que qualquer história consegue esta proeza, nesta era em que o retro ganhou um novo encanto e as redes sociais amplificam narrativas de todo o tipo?

Cada marca tem a sua história mas algumas possuem verdadeiros tesouros capazes de construir apelativos contos de encantar, reforçando associações únicas, favoráveis e distintivas.

As marcas mais lendárias têm todas histórias memoráveis; desde a Levi's, dos mineiros e fazendeiros americanos, até ao tónico de John Pemberton que, em 1886, criou uma mistura líquida de cor de caramelo, hoje a marca mais conhecida do mundo.

Quem vê as modernas estações dos CTT dificilmente recordará o primeiro serviço de correio público criado pelo rei D. Manuel. A distribuição domiciliária, a partir de 1821 em Lisboa, transforma a figura do carteiro, que palmilha ruas e becos, num ícone de esperança e de emoções. Esta associação de proximidade e de ligação sentimental é, ainda hoje, parte do capital de confiança da marca CTT.

A marca Tivoli tem o hotel lisboeta tradicionalmente mais frequentado pelo mundo dos negócios e da política. Intimamente ligadas à figura de Beatriz Costa, que nele viveu mais de quatro décadas, as salas do Tivoli contam histórias de mistério e sedução numa Lisboa cosmopolita.

A Sagres, por outro lado, a cerveja criada para representar a Central de Cervejas na exposição do Mundo Português, em 1940, tem uma história notável que acompanha várias gerações.

O Montepio, associação mutualista de meados do século XIX, tomou como símbolo o pelicano debruçado sobre as suas crias que acolhia os seus associados. Símbolo do altruísmo, o pelicano retira a si próprio para dar aos filhos. Uma postura de abnegação que vale a pena conhecer actualmente.

Outras marcas como a OMO, cujo nome era a abreviatura de Old Mother Owl (velha mãe coruja), representando o zelo materno e a sabedoria dos seu primeiro símbolo - a coruja - ou a Nestlé (pequeno ninho) que pretendeu, com uma farinha, resolver o problema da desnutrição infantil, têm histórias que poderiam começar com "Era uma vez".

Consumer storytelling é uma das 150 tendências que o Marketing FutureCast Lab vem a analisar ao longo dos últimos cinco anos com as empresas parceiras.

____

Carmo Leal, Professora do ISCTE Investigadora MFCL.

A rapariga chega num velho carocha à beira de um penhasco com o mar ao fundo. Triste e desalentada, algo de grave se passou - uma separação, uma morte, talvez...

Sentada ao volante, a rapariga puxa de uma caneca cujo líquido aquece com uma resistência que liga ao isqueiro do carro. A bebida é reconfortante e o estado de espírito muda rapidamente ao som de I feel good, de James Brown.

Qual é a marca que consegue manter uma recordatória de uma campanha tão antiga? Nescafé, claro! Quente, reconfortante, transportável ...

Na sua essência, o Marketing é a arte de contar histórias. Contar a história de uma marca pressupõe a ideia de uma narrativa que reflicta os valores, atitudes e o estilo de vida dos seus produtos ou serviços. Sabemos hoje que uma narrativa aumenta o envolvimento com a mensagem e a sua compreensão. Mas será que qualquer história consegue esta proeza, nesta era em que o retro ganhou um novo encanto e as redes sociais amplificam narrativas de todo o tipo?

Cada marca tem a sua história mas algumas possuem verdadeiros tesouros capazes de construir apelativos contos de encantar, reforçando associações únicas, favoráveis e distintivas.

As marcas mais lendárias têm todas histórias memoráveis; desde a Levi's, dos mineiros e fazendeiros americanos, até ao tónico de John Pemberton que, em 1886, criou uma mistura líquida de cor de caramelo, hoje a marca mais conhecida do mundo.

Quem vê as modernas estações dos CTT dificilmente recordará o primeiro serviço de correio público criado pelo rei D. Manuel. A distribuição domiciliária, a partir de 1821 em Lisboa, transforma a figura do carteiro, que palmilha ruas e becos, num ícone de esperança e de emoções. Esta associação de proximidade e de ligação sentimental é, ainda hoje, parte do capital de confiança da marca CTT.

A marca Tivoli tem o hotel lisboeta tradicionalmente mais frequentado pelo mundo dos negócios e da política. Intimamente ligadas à figura de Beatriz Costa, que nele viveu mais de quatro décadas, as salas do Tivoli contam histórias de mistério e sedução numa Lisboa cosmopolita.

A Sagres, por outro lado, a cerveja criada para representar a Central de Cervejas na exposição do Mundo Português, em 1940, tem uma história notável que acompanha várias gerações.

O Montepio, associação mutualista de meados do século XIX, tomou como símbolo o pelicano debruçado sobre as suas crias que acolhia os seus associados. Símbolo do altruísmo, o pelicano retira a si próprio para dar aos filhos. Uma postura de abnegação que vale a pena conhecer actualmente.

Outras marcas como a OMO, cujo nome era a abreviatura de Old Mother Owl (velha mãe coruja), representando o zelo materno e a sabedoria dos seu primeiro símbolo - a coruja - ou a Nestlé (pequeno ninho) que pretendeu, com uma farinha, resolver o problema da desnutrição infantil, têm histórias que poderiam começar com "Era uma vez".

Consumer storytelling é uma das 150 tendências que o Marketing FutureCast Lab vem a analisar ao longo dos últimos cinco anos com as empresas parceiras.

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Carmo Leal, Professora do ISCTE Investigadora MFCL.

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