Semanário O Diabo: PARA QUE SERVE (ENTÃO) A POLÍCIA?*

18-07-2011
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Fui educado num tempo em que Polícia era sinónimo de Autoridade e esta era a base de qualquer tipo de organização hierarquizada. Não sendo possível uma tradução directa da velha “auctoritas” romana, uma vez que autoridade é apenas uma parte do seu significado mais vasto, ainda assim cada vez mais parece ser clara a oposição à eterna contraposição da “auctoritas”, a “potestas”, ou seja o poder como é reconhecido, tolerado, aceite pela “sociedade”. Levar-nos-iam estas considerações jus-filosóficas muito longe e o objectivo desta crónica é falar da Polícia no Portugal de hoje.
Creio que, para alguém minimamente lúcido, é facilmente constatável que atravessamos hoje uma profunda crise de valores, assistindo-se a uma total inversão de estatutos e consequentes papéis. Os bons de ontem são cada vez mais hoje os vilãos e os vilãos alcandorados aos altares das mais miríficas virtudes. Declaro, para que fique claro, a minha completa inadaptabilidade a este mundo de valores invertidos e a minha incapacidade de me movimentar fora de conceitos claros: bom/mau, normal/anormal, certo/errado, etc.
Assiste-se, e não apenas no nosso país (oh maravilhas da globalização…), a uma limitação total dos poderes policiais que levam a que, lucidamente, devamos perguntar: pretendem acabar com a polícia ou apenas desprovê-la de toda e qualquer autoridade, remanescendo como um adorno que ninguém respeita e que, mais grave, não se pode fazer respeitar?
Os exemplos recentes entre nós são eloquentes. No decurso de uma perseguição policial, motivada pelo não cumprimento de paragem obrigatória numa operação “stop”, que atravessou toda a cidade de Lisboa, um guarda atinge uma viatura daí decorrendo a morte do fugitivo (é assim que se deve chamar e não, “jovem”), a acusação clama por homicídio voluntário e pede 25 anos.
Numa penitenciária, nossa por ser por nós paga, um associal transforma a sua cela numa esterqueira. Atento ao historial da besta (o termo parece forte mas adequa-se particularmente ao estado em que a cela se encontrava), com diversas agressões a guardas e por necessidade de transferência para local mais próprio, a criatura é manietada com “tasers”. A esquerda par(a)lamentar vocifera: bárbaras agressões e exige cabeças…
*Este ensaio não faz uso de terminologia nem de concepções politicamente correctas.
Texto completo na edição de 01 de MarçoHumberto Nuno Oliveira

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Fui educado num tempo em que Polícia era sinónimo de Autoridade e esta era a base de qualquer tipo de organização hierarquizada. Não sendo possível uma tradução directa da velha “auctoritas” romana, uma vez que autoridade é apenas uma parte do seu significado mais vasto, ainda assim cada vez mais parece ser clara a oposição à eterna contraposição da “auctoritas”, a “potestas”, ou seja o poder como é reconhecido, tolerado, aceite pela “sociedade”. Levar-nos-iam estas considerações jus-filosóficas muito longe e o objectivo desta crónica é falar da Polícia no Portugal de hoje.
Creio que, para alguém minimamente lúcido, é facilmente constatável que atravessamos hoje uma profunda crise de valores, assistindo-se a uma total inversão de estatutos e consequentes papéis. Os bons de ontem são cada vez mais hoje os vilãos e os vilãos alcandorados aos altares das mais miríficas virtudes. Declaro, para que fique claro, a minha completa inadaptabilidade a este mundo de valores invertidos e a minha incapacidade de me movimentar fora de conceitos claros: bom/mau, normal/anormal, certo/errado, etc.
Assiste-se, e não apenas no nosso país (oh maravilhas da globalização…), a uma limitação total dos poderes policiais que levam a que, lucidamente, devamos perguntar: pretendem acabar com a polícia ou apenas desprovê-la de toda e qualquer autoridade, remanescendo como um adorno que ninguém respeita e que, mais grave, não se pode fazer respeitar?
Os exemplos recentes entre nós são eloquentes. No decurso de uma perseguição policial, motivada pelo não cumprimento de paragem obrigatória numa operação “stop”, que atravessou toda a cidade de Lisboa, um guarda atinge uma viatura daí decorrendo a morte do fugitivo (é assim que se deve chamar e não, “jovem”), a acusação clama por homicídio voluntário e pede 25 anos.
Numa penitenciária, nossa por ser por nós paga, um associal transforma a sua cela numa esterqueira. Atento ao historial da besta (o termo parece forte mas adequa-se particularmente ao estado em que a cela se encontrava), com diversas agressões a guardas e por necessidade de transferência para local mais próprio, a criatura é manietada com “tasers”. A esquerda par(a)lamentar vocifera: bárbaras agressões e exige cabeças…
*Este ensaio não faz uso de terminologia nem de concepções politicamente correctas.
Texto completo na edição de 01 de MarçoHumberto Nuno Oliveira

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