O Estado da Campanha. Metáforas pirosas ou fresquinhas, e uns quantos assuntos sérios

28-06-2020
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Com menos Tancos que nos últimos dias - mas Cristas continuou a massacrar Costa com o assunto - , as caravanas esperam pela decisão que Ferro Rodrigues deve tomar esta quarta-feira de manhã: convoca ou não a comissão permanente da Assembleia da República para os deputados discutirem o caso antes das eleições? Se sim, é inédito e perturbador um Parlamento que se despede entrar na campanha eleitoral; se não, parece que o PS está com medo de ser confrontado. Suspense... Faltam só cinco dias para as eleições. (Oiça aqui sobre estes temas o podcast "Comissão Política", com o David Dinis, o Filipe Santos Costa, a Ângela Silva e o Hugo Franco).

O furacão Lorenzo será outro fator de incerteza: António Costa cancelou agenda anunciando que poderá ir aos Açores em caso de catástrofe. Será uma tentativa de continuar a levitar sobre o caso de Tancos? Aliás, é comum as campanhas se desenvolverem recheadas de casos ou de percalços,como a morte de Amália Rodrigues há 20 anos, o falecimento da irmã Lúcia há 14 ou temas não menos conspirativos, como o Freeport ou as escutas de Belém.

Entretanto, a corrida parece ganhar mais interesse à medida que vão saindo estudos de opinião (mesmo que não haja emoção quanto ao possível vencedor). Esta terça-feira, as sondagens da Católica para o Público e a RTP e da Pitagórica para TSF/JN e TVI deram-nos a tendência: a diferença entre os dois primeiros está a encolher e ambos os inquéritos lhes dão uma distância de sete pontos percentuais. O PS está a desacelerar (será o efeito Tancos?) e a afastar-se cada vez de uma possível maioria absoluta, enquanto o PSD cresce com um líder mais vivo - mas a deixar-se entusiasmar...

Talvez motivado pelas projeções positivas, Rui Rio - voltando a posicionar-se ao centro, onde está a "virtude" - teve um ataque de metáforas na noite de ontem, mas há figuras de estilo que exigem cautelas. A campanha está em estado de sítio por causa de Tancos, em estado de expetativa por causa do furacão e em estado piroso por causa do que Rui Rio se lembrou de dizer no comício de Viseu. "Não lembra ao careca", como diria o comentador mor da República na anterior encarnação: Rui Rio afirmou (mesmo) que quer ser o novo Viriato para conquistar os lusitanos (má escolha, porque esse morreu traído às mãos dos companheiros), mas isso não chegou. Rio ia embalado e sem travões para a segunda comparação: queria ser como um rio, como o Tejo que desce de Espanha e fica grande em Lisboa. O exercício poético é inócuo, embora de qualidade duvidosa, e comprova que o portuense é mesmo mais números (apesar das conferências de Mário Centeno).

Na onda metafórica que varreu a noite, António Costa apresentou Pedro Nuno Santos, em Aveiro, como "fresquinho da Costa" para desancar na direita. Pedro Nuno, a jogar em casa, não desiludiu: atirou-se à direita com um discurso (como de costume) marcadamente ideológico para evidenciar as diferenças e a servir dois propósitos: atacar e distanciar-se do PSD e do CDS, mas provar à esquerda que no PS há muita esquerda, evitando o voto útil no Bloco.

Ora se Costa chama para o palco um jogador fresquinho, Rui Rio anunciou durante a manhã um nome antigo: Arlindo Cunha será o ministro da Agricultura se o PSD for Governo. Ora a recuperação de um ex-ministro do cavaquismo mereceu uma réplica irónica de de Costa: "É um grande sinal de rejuvenescimento do PSD. Nada como partidos que se abrem e rejuvenescem.” (Há aqui um porém: o primeiro-ministro não dá muito conta das caras que tem do tempo do socratismo no Governo e o seu próprio ministro da Agricultura não está assim como uma alface). Mas adiante.

Assunção Cristas também jogou metaforicamente, a debulhar milho e a dançar o vira no Minho na esperança de a campanha virar - sim, eles usaram o trocadilho, vale mesmo tudo no folclore político - mas não há meio das sondagens darem o CDS a descolar.

De resto, joga-se. O PAN já trabalha descaradamente para a possibilidade de viabilizar um Governo socialista e, à imagem de Catarina Martins em 2015, traça as suas linhas vermelhas. Se Costa quer um novo parceiro, terá de pensar melhor nos aviões e nos pássaros do estuário do Tejo. "Montijo jamais" (ou jamé como diria o outro), garantiu André Silva.

Mais a sério e sem grandes truques de linguagem esteve a esquerda. Catarina Martins evitou entrar em polémicas (outra vez) com figuras do PS e não entrou em debate com o PSD. Apenas constatou: É “estranho” que “tão perto das eleições não se perceba o programa de alguns partidos.” Mais tarde, o Bloco juntou vários cuidadores informais e ouviu histórias impressionantes. Com Marisa Matias na caravana, a coordenadora bloquista havia de fazer mais um apelo enfático aos indecisos e uma priorização de temas para a legislatura: investimento público e leis laborais.

O PCP continuou a sua campanha nos moldes tradicionais - mas a carrinha de Jerónimo de Sousa e respetivos camaradas-seguranças foi mesmo motivo para um artigo dos enviados do Expresso em todas as candidaturas sobre os carros de vidros fumados, os híbridos ou diesel, ou a segurança das comitivas (leia aqui que pode ter algumas supresas). O secretário-geral comunista acabou por estar onde se sente melhor: junto aos trabalhadores, à saída do turnos de uma fábrica, depois de pela manhã ter denunciado os casos gritantes de salários mínimos num call center - metáfora do realismo que ninguém quer ser.

Com menos Tancos que nos últimos dias - mas Cristas continuou a massacrar Costa com o assunto - , as caravanas esperam pela decisão que Ferro Rodrigues deve tomar esta quarta-feira de manhã: convoca ou não a comissão permanente da Assembleia da República para os deputados discutirem o caso antes das eleições? Se sim, é inédito e perturbador um Parlamento que se despede entrar na campanha eleitoral; se não, parece que o PS está com medo de ser confrontado. Suspense... Faltam só cinco dias para as eleições. (Oiça aqui sobre estes temas o podcast "Comissão Política", com o David Dinis, o Filipe Santos Costa, a Ângela Silva e o Hugo Franco).

O furacão Lorenzo será outro fator de incerteza: António Costa cancelou agenda anunciando que poderá ir aos Açores em caso de catástrofe. Será uma tentativa de continuar a levitar sobre o caso de Tancos? Aliás, é comum as campanhas se desenvolverem recheadas de casos ou de percalços,como a morte de Amália Rodrigues há 20 anos, o falecimento da irmã Lúcia há 14 ou temas não menos conspirativos, como o Freeport ou as escutas de Belém.

Entretanto, a corrida parece ganhar mais interesse à medida que vão saindo estudos de opinião (mesmo que não haja emoção quanto ao possível vencedor). Esta terça-feira, as sondagens da Católica para o Público e a RTP e da Pitagórica para TSF/JN e TVI deram-nos a tendência: a diferença entre os dois primeiros está a encolher e ambos os inquéritos lhes dão uma distância de sete pontos percentuais. O PS está a desacelerar (será o efeito Tancos?) e a afastar-se cada vez de uma possível maioria absoluta, enquanto o PSD cresce com um líder mais vivo - mas a deixar-se entusiasmar...

Talvez motivado pelas projeções positivas, Rui Rio - voltando a posicionar-se ao centro, onde está a "virtude" - teve um ataque de metáforas na noite de ontem, mas há figuras de estilo que exigem cautelas. A campanha está em estado de sítio por causa de Tancos, em estado de expetativa por causa do furacão e em estado piroso por causa do que Rui Rio se lembrou de dizer no comício de Viseu. "Não lembra ao careca", como diria o comentador mor da República na anterior encarnação: Rui Rio afirmou (mesmo) que quer ser o novo Viriato para conquistar os lusitanos (má escolha, porque esse morreu traído às mãos dos companheiros), mas isso não chegou. Rio ia embalado e sem travões para a segunda comparação: queria ser como um rio, como o Tejo que desce de Espanha e fica grande em Lisboa. O exercício poético é inócuo, embora de qualidade duvidosa, e comprova que o portuense é mesmo mais números (apesar das conferências de Mário Centeno).

Na onda metafórica que varreu a noite, António Costa apresentou Pedro Nuno Santos, em Aveiro, como "fresquinho da Costa" para desancar na direita. Pedro Nuno, a jogar em casa, não desiludiu: atirou-se à direita com um discurso (como de costume) marcadamente ideológico para evidenciar as diferenças e a servir dois propósitos: atacar e distanciar-se do PSD e do CDS, mas provar à esquerda que no PS há muita esquerda, evitando o voto útil no Bloco.

Ora se Costa chama para o palco um jogador fresquinho, Rui Rio anunciou durante a manhã um nome antigo: Arlindo Cunha será o ministro da Agricultura se o PSD for Governo. Ora a recuperação de um ex-ministro do cavaquismo mereceu uma réplica irónica de de Costa: "É um grande sinal de rejuvenescimento do PSD. Nada como partidos que se abrem e rejuvenescem.” (Há aqui um porém: o primeiro-ministro não dá muito conta das caras que tem do tempo do socratismo no Governo e o seu próprio ministro da Agricultura não está assim como uma alface). Mas adiante.

Assunção Cristas também jogou metaforicamente, a debulhar milho e a dançar o vira no Minho na esperança de a campanha virar - sim, eles usaram o trocadilho, vale mesmo tudo no folclore político - mas não há meio das sondagens darem o CDS a descolar.

De resto, joga-se. O PAN já trabalha descaradamente para a possibilidade de viabilizar um Governo socialista e, à imagem de Catarina Martins em 2015, traça as suas linhas vermelhas. Se Costa quer um novo parceiro, terá de pensar melhor nos aviões e nos pássaros do estuário do Tejo. "Montijo jamais" (ou jamé como diria o outro), garantiu André Silva.

Mais a sério e sem grandes truques de linguagem esteve a esquerda. Catarina Martins evitou entrar em polémicas (outra vez) com figuras do PS e não entrou em debate com o PSD. Apenas constatou: É “estranho” que “tão perto das eleições não se perceba o programa de alguns partidos.” Mais tarde, o Bloco juntou vários cuidadores informais e ouviu histórias impressionantes. Com Marisa Matias na caravana, a coordenadora bloquista havia de fazer mais um apelo enfático aos indecisos e uma priorização de temas para a legislatura: investimento público e leis laborais.

O PCP continuou a sua campanha nos moldes tradicionais - mas a carrinha de Jerónimo de Sousa e respetivos camaradas-seguranças foi mesmo motivo para um artigo dos enviados do Expresso em todas as candidaturas sobre os carros de vidros fumados, os híbridos ou diesel, ou a segurança das comitivas (leia aqui que pode ter algumas supresas). O secretário-geral comunista acabou por estar onde se sente melhor: junto aos trabalhadores, à saída do turnos de uma fábrica, depois de pela manhã ter denunciado os casos gritantes de salários mínimos num call center - metáfora do realismo que ninguém quer ser.

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