Podem ajudar-me a explicar ao meu irmão de 17 anos…

28-01-2012
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Podem ajudar-me a explicar ao meu irmão de 17 anos…

Não cheguei a perceber quem era o Bruno que, na passada terça-feira, me fez chegar aquela que considerei ser a pergunta mais interessante do debate que moderei entre representantes de três das candidaturas à liderança do PSD. Pedia ele que lhe dessem motivos para explicar ao seu irmão de 17 anos por que razão haveria de votar no PSD em vez de votar no Bloco de Esquerda. José Luís Arnaut, que representava Paulo Rangel, e Pedro Pinto, que falava por Pedro Passos Coelho, acharam que era fácil explicar pois os dois partidos são muito diferentes. Já Diogo Vasconcelos, mandatário de José Pedro Aguiar Branco, levou a pergunta a sério e sublinhou que o PSD não pode esperar voltar a ganhar “se não souber encontrar uma nova narrativa” que ultrapasse o “discurso da dívida” e possa “atrair a imaginação dos eleitores”.

Ontem, no blogue PsicoLaranja – o blogue que organizou o debate – encontrei um curioso testemunho de um dos presentes. Ei-lo: “Os jovens dividem voto entre Bloco e PSD… Pois hoje vinha no autocarro e vinha um grupo de cerca de 15 jovens para a manif no Saldanha que falavam disso mesmo. Votas Bloco ou PSD? Curioso que eu não tinha esta perspectiva e de repente, em menos de 10 horas, vejo a questão colocada dentro e fora do partido…”

Pois é. O drama do PSD, que muito provavelmente não será ultrapassado com a escolha de uma nova liderança nas eleições internas de hoje, é ter não só perdido o contacto com a realidade e o sentimento do eleitorado, como não entender a importância do debate de ideias, antes valorizando o seu mítico “pragmatismo”. Isto para além de o seu aparelho se ter tornado tão ou mais clientelar do que o do PS.

De facto, se algo não aconteceu durante a campanha para a liderança do PSD foi aparecer alguém capaz de capturar não só a imaginação como, ao mesmo tempo, as expectativas do eleitorado.

Pedro Passos Coelho tem tanto de água destilada como Paulo Rangel tem de vulcânico, mas se o primeiro não conseguiu desfazer a imagem de alguma artificialidade cosmética, o segundo também não reuniu à sua volta uma equipa sólida. Já José Pedro Aguiar Branco, que terá apresentado a moção de estratégia mais inovadora e interessante, mostrou muita energia no contra-ataque mas pouca capacidade para mostrar que não será apenas mais do mesmo actual PSD. Quanto a Castanheira Barros não conta, nunca contou, nesta disputa.

A pergunta do Bruno, apesar de parecer surpreendente para muitos, era e é pertinente. Sobretudo porque não é possível responder-lhe com as fórmulas gastas e retóricas do passado.

Por exemplo: o Bloco situa-se numa área ideológica muito distinta da do PSD? Pois situa. Mas quem fala hoje de ideologias? Muito pouca gente, sobretudo em sociedades como aquela em que vivemos onde é crescente a tendência para a atomização social e para os interesses imediatos do “eu” se sobreporem à lógica de um qualquer “nós”. E num país dividido entre os que estão saturados do actual primeiro-ministro e os que ainda o vêm como um mal menor, para contrariar o populismo de esquerda e o populismo de direita é necessário o PSD precisava de construir um discurso capaz de fazer acreditar que Portugal pode ser melhor.

Como, perguntam alguns, quando “o PS de Sócrates ocupou o espaço do PSD”? Talvez começando por provar que isso é falso, como fez Diogo Vasconcelos naquele debate – o que não deixou de ser curioso e sintomático pois aquele quadro da Cisco vive hoje a maior parte do ano fora de Portugal. Talvez tendo mais mundo, horizontes mais largos, e mostrando que a inovação, em Portugal, tem muito mais a ver com a devolução de autonomia aos cidadãos e às empresas do que com a expansão de uma rede de fibra óptica. Talvez regressando ao essencial da política, que são as ideias, e ter consciência de que quando não se conquistam as pessoas para as nossas ideias, não só as eleições passam a ser um concurso de competências como, sobretudo, nunca se será capaz de colocar essas ideias em prática.

Quase nada disto se viu nesta campanha para a liderança do PSD. E se é verdade que o partido teve cinco meses para preparar a sucessão, agora ou o vencedor das directas é capaz de surpreender, ou é bem possível que o Bruno continue sem boas respostas para as perguntas do seu irmão quando este for votar pela primeira vez. Jornalista

Não cheguei a perceber quem era o Bruno que, na passada terça-feira, me fez chegar aquela que considerei ser a pergunta mais interessante do debate que moderei entre representantes de três das candidaturas à liderança do PSD. Pedia ele que lhe dessem motivos para explicar ao seu irmão de 17 anos por que razão haveria de votar no PSD em vez de votar no Bloco de Esquerda. José Luís Arnaut, que representava Paulo Rangel, e Pedro Pinto, que falava por Pedro Passos Coelho, acharam que era fácil explicar pois os dois partidos são muito diferentes. Já Diogo Vasconcelos, mandatário de José Pedro Aguiar Branco, levou a pergunta a sério e sublinhou que o PSD não pode esperar voltar a ganhar “se não souber encontrar uma nova narrativa” que ultrapasse o “discurso da dívida” e possa “atrair a imaginação dos eleitores”.

Ontem, no blogue PsicoLaranja – o blogue que organizou o debate – encontrei um curioso testemunho de um dos presentes. Ei-lo: “Os jovens dividem voto entre Bloco e PSD… Pois hoje vinha no autocarro e vinha um grupo de cerca de 15 jovens para a manif no Saldanha que falavam disso mesmo. Votas Bloco ou PSD? Curioso que eu não tinha esta perspectiva e de repente, em menos de 10 horas, vejo a questão colocada dentro e fora do partido…”

Pois é. O drama do PSD, que muito provavelmente não será ultrapassado com a escolha de uma nova liderança nas eleições internas de hoje, é ter não só perdido o contacto com a realidade e o sentimento do eleitorado, como não entender a importância do debate de ideias, antes valorizando o seu mítico “pragmatismo”. Isto para além de o seu aparelho se ter tornado tão ou mais clientelar do que o do PS.

De facto, se algo não aconteceu durante a campanha para a liderança do PSD foi aparecer alguém capaz de capturar não só a imaginação como, ao mesmo tempo, as expectativas do eleitorado.

Pedro Passos Coelho tem tanto de água destilada como Paulo Rangel tem de vulcânico, mas se o primeiro não conseguiu desfazer a imagem de alguma artificialidade cosmética, o segundo também não reuniu à sua volta uma equipa sólida. Já José Pedro Aguiar Branco, que terá apresentado a moção de estratégia mais inovadora e interessante, mostrou muita energia no contra-ataque mas pouca capacidade para mostrar que não será apenas mais do mesmo actual PSD. Quanto a Castanheira Barros não conta, nunca contou, nesta disputa.

A pergunta do Bruno, apesar de parecer surpreendente para muitos, era e é pertinente. Sobretudo porque não é possível responder-lhe com as fórmulas gastas e retóricas do passado.

Por exemplo: o Bloco situa-se numa área ideológica muito distinta da do PSD? Pois situa. Mas quem fala hoje de ideologias? Muito pouca gente, sobretudo em sociedades como aquela em que vivemos onde é crescente a tendência para a atomização social e para os interesses imediatos do “eu” se sobreporem à lógica de um qualquer “nós”. E num país dividido entre os que estão saturados do actual primeiro-ministro e os que ainda o vêm como um mal menor, para contrariar o populismo de esquerda e o populismo de direita é necessário o PSD precisava de construir um discurso capaz de fazer acreditar que Portugal pode ser melhor.

Como, perguntam alguns, quando “o PS de Sócrates ocupou o espaço do PSD”? Talvez começando por provar que isso é falso, como fez Diogo Vasconcelos naquele debate – o que não deixou de ser curioso e sintomático pois aquele quadro da Cisco vive hoje a maior parte do ano fora de Portugal. Talvez tendo mais mundo, horizontes mais largos, e mostrando que a inovação, em Portugal, tem muito mais a ver com a devolução de autonomia aos cidadãos e às empresas do que com a expansão de uma rede de fibra óptica. Talvez regressando ao essencial da política, que são as ideias, e ter consciência de que quando não se conquistam as pessoas para as nossas ideias, não só as eleições passam a ser um concurso de competências como, sobretudo, nunca se será capaz de colocar essas ideias em prática.

Quase nada disto se viu nesta campanha para a liderança do PSD. E se é verdade que o partido teve cinco meses para preparar a sucessão, agora ou o vencedor das directas é capaz de surpreender, ou é bem possível que o Bruno continue sem boas respostas para as perguntas do seu irmão quando este for votar pela primeira vez.

Público, 26 de Março de 2010

Podem ajudar-me a explicar ao meu irmão de 17 anos…

Não cheguei a perceber quem era o Bruno que, na passada terça-feira, me fez chegar aquela que considerei ser a pergunta mais interessante do debate que moderei entre representantes de três das candidaturas à liderança do PSD. Pedia ele que lhe dessem motivos para explicar ao seu irmão de 17 anos por que razão haveria de votar no PSD em vez de votar no Bloco de Esquerda. José Luís Arnaut, que representava Paulo Rangel, e Pedro Pinto, que falava por Pedro Passos Coelho, acharam que era fácil explicar pois os dois partidos são muito diferentes. Já Diogo Vasconcelos, mandatário de José Pedro Aguiar Branco, levou a pergunta a sério e sublinhou que o PSD não pode esperar voltar a ganhar “se não souber encontrar uma nova narrativa” que ultrapasse o “discurso da dívida” e possa “atrair a imaginação dos eleitores”.

Ontem, no blogue PsicoLaranja – o blogue que organizou o debate – encontrei um curioso testemunho de um dos presentes. Ei-lo: “Os jovens dividem voto entre Bloco e PSD… Pois hoje vinha no autocarro e vinha um grupo de cerca de 15 jovens para a manif no Saldanha que falavam disso mesmo. Votas Bloco ou PSD? Curioso que eu não tinha esta perspectiva e de repente, em menos de 10 horas, vejo a questão colocada dentro e fora do partido…”

Pois é. O drama do PSD, que muito provavelmente não será ultrapassado com a escolha de uma nova liderança nas eleições internas de hoje, é ter não só perdido o contacto com a realidade e o sentimento do eleitorado, como não entender a importância do debate de ideias, antes valorizando o seu mítico “pragmatismo”. Isto para além de o seu aparelho se ter tornado tão ou mais clientelar do que o do PS.

De facto, se algo não aconteceu durante a campanha para a liderança do PSD foi aparecer alguém capaz de capturar não só a imaginação como, ao mesmo tempo, as expectativas do eleitorado.

Pedro Passos Coelho tem tanto de água destilada como Paulo Rangel tem de vulcânico, mas se o primeiro não conseguiu desfazer a imagem de alguma artificialidade cosmética, o segundo também não reuniu à sua volta uma equipa sólida. Já José Pedro Aguiar Branco, que terá apresentado a moção de estratégia mais inovadora e interessante, mostrou muita energia no contra-ataque mas pouca capacidade para mostrar que não será apenas mais do mesmo actual PSD. Quanto a Castanheira Barros não conta, nunca contou, nesta disputa.

A pergunta do Bruno, apesar de parecer surpreendente para muitos, era e é pertinente. Sobretudo porque não é possível responder-lhe com as fórmulas gastas e retóricas do passado.

Por exemplo: o Bloco situa-se numa área ideológica muito distinta da do PSD? Pois situa. Mas quem fala hoje de ideologias? Muito pouca gente, sobretudo em sociedades como aquela em que vivemos onde é crescente a tendência para a atomização social e para os interesses imediatos do “eu” se sobreporem à lógica de um qualquer “nós”. E num país dividido entre os que estão saturados do actual primeiro-ministro e os que ainda o vêm como um mal menor, para contrariar o populismo de esquerda e o populismo de direita é necessário o PSD precisava de construir um discurso capaz de fazer acreditar que Portugal pode ser melhor.

Como, perguntam alguns, quando “o PS de Sócrates ocupou o espaço do PSD”? Talvez começando por provar que isso é falso, como fez Diogo Vasconcelos naquele debate – o que não deixou de ser curioso e sintomático pois aquele quadro da Cisco vive hoje a maior parte do ano fora de Portugal. Talvez tendo mais mundo, horizontes mais largos, e mostrando que a inovação, em Portugal, tem muito mais a ver com a devolução de autonomia aos cidadãos e às empresas do que com a expansão de uma rede de fibra óptica. Talvez regressando ao essencial da política, que são as ideias, e ter consciência de que quando não se conquistam as pessoas para as nossas ideias, não só as eleições passam a ser um concurso de competências como, sobretudo, nunca se será capaz de colocar essas ideias em prática.

Quase nada disto se viu nesta campanha para a liderança do PSD. E se é verdade que o partido teve cinco meses para preparar a sucessão, agora ou o vencedor das directas é capaz de surpreender, ou é bem possível que o Bruno continue sem boas respostas para as perguntas do seu irmão quando este for votar pela primeira vez. Jornalista

Não cheguei a perceber quem era o Bruno que, na passada terça-feira, me fez chegar aquela que considerei ser a pergunta mais interessante do debate que moderei entre representantes de três das candidaturas à liderança do PSD. Pedia ele que lhe dessem motivos para explicar ao seu irmão de 17 anos por que razão haveria de votar no PSD em vez de votar no Bloco de Esquerda. José Luís Arnaut, que representava Paulo Rangel, e Pedro Pinto, que falava por Pedro Passos Coelho, acharam que era fácil explicar pois os dois partidos são muito diferentes. Já Diogo Vasconcelos, mandatário de José Pedro Aguiar Branco, levou a pergunta a sério e sublinhou que o PSD não pode esperar voltar a ganhar “se não souber encontrar uma nova narrativa” que ultrapasse o “discurso da dívida” e possa “atrair a imaginação dos eleitores”.

Ontem, no blogue PsicoLaranja – o blogue que organizou o debate – encontrei um curioso testemunho de um dos presentes. Ei-lo: “Os jovens dividem voto entre Bloco e PSD… Pois hoje vinha no autocarro e vinha um grupo de cerca de 15 jovens para a manif no Saldanha que falavam disso mesmo. Votas Bloco ou PSD? Curioso que eu não tinha esta perspectiva e de repente, em menos de 10 horas, vejo a questão colocada dentro e fora do partido…”

Pois é. O drama do PSD, que muito provavelmente não será ultrapassado com a escolha de uma nova liderança nas eleições internas de hoje, é ter não só perdido o contacto com a realidade e o sentimento do eleitorado, como não entender a importância do debate de ideias, antes valorizando o seu mítico “pragmatismo”. Isto para além de o seu aparelho se ter tornado tão ou mais clientelar do que o do PS.

De facto, se algo não aconteceu durante a campanha para a liderança do PSD foi aparecer alguém capaz de capturar não só a imaginação como, ao mesmo tempo, as expectativas do eleitorado.

Pedro Passos Coelho tem tanto de água destilada como Paulo Rangel tem de vulcânico, mas se o primeiro não conseguiu desfazer a imagem de alguma artificialidade cosmética, o segundo também não reuniu à sua volta uma equipa sólida. Já José Pedro Aguiar Branco, que terá apresentado a moção de estratégia mais inovadora e interessante, mostrou muita energia no contra-ataque mas pouca capacidade para mostrar que não será apenas mais do mesmo actual PSD. Quanto a Castanheira Barros não conta, nunca contou, nesta disputa.

A pergunta do Bruno, apesar de parecer surpreendente para muitos, era e é pertinente. Sobretudo porque não é possível responder-lhe com as fórmulas gastas e retóricas do passado.

Por exemplo: o Bloco situa-se numa área ideológica muito distinta da do PSD? Pois situa. Mas quem fala hoje de ideologias? Muito pouca gente, sobretudo em sociedades como aquela em que vivemos onde é crescente a tendência para a atomização social e para os interesses imediatos do “eu” se sobreporem à lógica de um qualquer “nós”. E num país dividido entre os que estão saturados do actual primeiro-ministro e os que ainda o vêm como um mal menor, para contrariar o populismo de esquerda e o populismo de direita é necessário o PSD precisava de construir um discurso capaz de fazer acreditar que Portugal pode ser melhor.

Como, perguntam alguns, quando “o PS de Sócrates ocupou o espaço do PSD”? Talvez começando por provar que isso é falso, como fez Diogo Vasconcelos naquele debate – o que não deixou de ser curioso e sintomático pois aquele quadro da Cisco vive hoje a maior parte do ano fora de Portugal. Talvez tendo mais mundo, horizontes mais largos, e mostrando que a inovação, em Portugal, tem muito mais a ver com a devolução de autonomia aos cidadãos e às empresas do que com a expansão de uma rede de fibra óptica. Talvez regressando ao essencial da política, que são as ideias, e ter consciência de que quando não se conquistam as pessoas para as nossas ideias, não só as eleições passam a ser um concurso de competências como, sobretudo, nunca se será capaz de colocar essas ideias em prática.

Quase nada disto se viu nesta campanha para a liderança do PSD. E se é verdade que o partido teve cinco meses para preparar a sucessão, agora ou o vencedor das directas é capaz de surpreender, ou é bem possível que o Bruno continue sem boas respostas para as perguntas do seu irmão quando este for votar pela primeira vez.

Público, 26 de Março de 2010

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