“Missão Impossível – Nação Secreta”. Licença para surrealizar

20-08-2015
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Será que Tom Cruise não envelhece? Já se passaram quase 20 anos desde o primeiro filme de “Missão Impossível”, e o actor parece quase tão jovem como quando deu o pontapé de saída da série, em 1996, o que levou o meu colega Anthony Lane, da “The New Yorker”, a chamar-lhe “o Dorian Gray dos filmes de acção”. Serão efeitos da Cientologia? Terá um cirurgião plástico miraculoso? Fez um pacto com o mafarrico? Não contente com esta juventude aparentemente perene, e em andar a fazer marcação cerrada a James Bond desde o primeiro “Missão Impossível”, Cruise, através da personagem do agente secreto Ethan Hunt, comunga também de poderes só próprios dos super-heróis. Em “Missão: Impossível 3”, de J.J. Abrams, Hunt morria durante alguns segundos até ser ressuscitado por uma colega, o que volta a suceder no quinto filme, “Missão Impossível-Nação Secreta” (isto para além de sair sem um arranhão de uma queda de moto que atiraria qualquer outro mortal para uma cama de hospital durante um ano). Tom Cruise não é apenas o Dorian Gray e o maior rival de 007 dos filmes de acção, é já também uma figura do universo Marvel, invulnerável e a namorar a imortalidade.

“Trailer” de “Missão Impossível-Nação Secreta”

Este quinto filme da “Missão Impossível”, realizado e co-escrito por Christopher McQuarrie (“Jack Reacher”), conta, sintomaticamente, entre os seus produtores, com um canal de televisão chinês e com o gigante de comércio “online” Alibaba, também chinês (nunca subestimar a importância fundamental deste mercado, e do asiático, para Hollywood), e esmera-se, mais uma vez, em fazer os possíveis e (sobretudo) os impossíveis para ultrapassar a série James Bond a toda a velocidade pela direita e, enquanto desaparece no horizonte, virar-se para atrás e gritar “Nha, nha, nha, nha!” para 007.

Entrevista com Tom Cruise

Nos bastidores da rodagem

Um grupo de espiões renegados e de terroristas, o Sindicato, liderado por um vilão misterioso e sem pinga de escrúpulos, ameaça a vida de vários governantes europeus e quer dominar o mundo pelo terror. A história de “Missão Impossível-Nação Secreta” é mais transparente do que papel vegetal e tão vertiginosamente espectacular com portentosamente inverosímil, atirando Hunt e os membros da sua equipa super-secreta – agora à revelia da tutela estatal e em colisão com o director da CIA – de uma gala da Ópera de Viena para as vielas de Casablanca, das entranhas de uma central nuclear no deserto para a invernosa Londres, entre acrobacias aéreas, perseguições de carro e de moto com uma grande equipa de “duplos”, proezas físicas desvairadas, feitos tecnológicos que dir-se-ia já terem parte com a magia, e tiroteios para todos os paladares, entre diálogos e tiradas de um ridículo ou de um pretensiosismo sublimes (“Sr. Primeiro-Ministro, Ethan Hunt é a manifestação viva do destino”, diz a certa altura a personagem de Alec Baldwin, com o ar mais sério deste mundo.)

Entrevista com o realizador Christopher McQuarrie

A ideia de McQuarrie em “Missão Impossível-Nação Secreta” – que tem sido, aliás, a ideia-força da série, mais forte, intensa e elaborada a cada filme que passa -, é manter os espectadores de tal forma estonteados graças à sucessão de sequências de acção e tensão com o equivalente cinematográfico da sétima velocidade de um Fórmula 1 metida a fundo, que eles não tenham cinco segundos livres para respirar e ganharem alguma distância daquilo que se está a passar no ecrã. E repararem que o que estão a ver não faz o menor sentido, é de um absurdo abissal, passa-se num mundo parecido com o nosso mas na realidade paralelo, e que se o James Bond de Daniel Craig tem licença para matar, o Ethan Hunt de Tom Cruise tem licença para surrealizar.

Será que Tom Cruise não envelhece? Já se passaram quase 20 anos desde o primeiro filme de “Missão Impossível”, e o actor parece quase tão jovem como quando deu o pontapé de saída da série, em 1996, o que levou o meu colega Anthony Lane, da “The New Yorker”, a chamar-lhe “o Dorian Gray dos filmes de acção”. Serão efeitos da Cientologia? Terá um cirurgião plástico miraculoso? Fez um pacto com o mafarrico? Não contente com esta juventude aparentemente perene, e em andar a fazer marcação cerrada a James Bond desde o primeiro “Missão Impossível”, Cruise, através da personagem do agente secreto Ethan Hunt, comunga também de poderes só próprios dos super-heróis. Em “Missão: Impossível 3”, de J.J. Abrams, Hunt morria durante alguns segundos até ser ressuscitado por uma colega, o que volta a suceder no quinto filme, “Missão Impossível-Nação Secreta” (isto para além de sair sem um arranhão de uma queda de moto que atiraria qualquer outro mortal para uma cama de hospital durante um ano). Tom Cruise não é apenas o Dorian Gray e o maior rival de 007 dos filmes de acção, é já também uma figura do universo Marvel, invulnerável e a namorar a imortalidade.

“Trailer” de “Missão Impossível-Nação Secreta”

Este quinto filme da “Missão Impossível”, realizado e co-escrito por Christopher McQuarrie (“Jack Reacher”), conta, sintomaticamente, entre os seus produtores, com um canal de televisão chinês e com o gigante de comércio “online” Alibaba, também chinês (nunca subestimar a importância fundamental deste mercado, e do asiático, para Hollywood), e esmera-se, mais uma vez, em fazer os possíveis e (sobretudo) os impossíveis para ultrapassar a série James Bond a toda a velocidade pela direita e, enquanto desaparece no horizonte, virar-se para atrás e gritar “Nha, nha, nha, nha!” para 007.

Entrevista com Tom Cruise

Nos bastidores da rodagem

Um grupo de espiões renegados e de terroristas, o Sindicato, liderado por um vilão misterioso e sem pinga de escrúpulos, ameaça a vida de vários governantes europeus e quer dominar o mundo pelo terror. A história de “Missão Impossível-Nação Secreta” é mais transparente do que papel vegetal e tão vertiginosamente espectacular com portentosamente inverosímil, atirando Hunt e os membros da sua equipa super-secreta – agora à revelia da tutela estatal e em colisão com o director da CIA – de uma gala da Ópera de Viena para as vielas de Casablanca, das entranhas de uma central nuclear no deserto para a invernosa Londres, entre acrobacias aéreas, perseguições de carro e de moto com uma grande equipa de “duplos”, proezas físicas desvairadas, feitos tecnológicos que dir-se-ia já terem parte com a magia, e tiroteios para todos os paladares, entre diálogos e tiradas de um ridículo ou de um pretensiosismo sublimes (“Sr. Primeiro-Ministro, Ethan Hunt é a manifestação viva do destino”, diz a certa altura a personagem de Alec Baldwin, com o ar mais sério deste mundo.)

Entrevista com o realizador Christopher McQuarrie

A ideia de McQuarrie em “Missão Impossível-Nação Secreta” – que tem sido, aliás, a ideia-força da série, mais forte, intensa e elaborada a cada filme que passa -, é manter os espectadores de tal forma estonteados graças à sucessão de sequências de acção e tensão com o equivalente cinematográfico da sétima velocidade de um Fórmula 1 metida a fundo, que eles não tenham cinco segundos livres para respirar e ganharem alguma distância daquilo que se está a passar no ecrã. E repararem que o que estão a ver não faz o menor sentido, é de um absurdo abissal, passa-se num mundo parecido com o nosso mas na realidade paralelo, e que se o James Bond de Daniel Craig tem licença para matar, o Ethan Hunt de Tom Cruise tem licença para surrealizar.

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