IMPRIMIR
Que lições devem os investidores tirar após o caso BES
01 Jun 2015 DECO
O que podemos aprender com os testemunhos dos investidores do BES?
Mesmo os investidores menos experientes já terão ouvido a maioria dos conselhos tradicionais de investimento: não colocar os ovos todos no mesmo cesto, comprar ativos quando estão baratos e vender quando estão caros, investir a longo prazo, etc.
Mas, como se apercebem todos os que começam a investir, manter-se fiel a estes princípios pode revelar-se um grande desafio, desde logo porque o nosso instinto pode ser contrariar os princípios que pretendemos respeitar.
O escândalo do Banco Espírito Santo teve contornos que ultrapassam o normal risco de um investimento em ações, ao ponto de a DECO avançar com ações judiciais em defesa dos acionistas lesados. Mas, ao analisar os muitos testemunhos que a associação de consumidores recebeu por parte dos investidores prejudicados, tornou-se claro que a dificuldade em respeitar as regras de ouro do investimento contribuiu para agravar as perdas sofridas.
Que lições podemos então aprender com a queda do BES?
NÃO SE DEIXE CONTROLAR
PELA AVERSÃO ÀS PERDAS
"Tinha ações compradas em 2010 cujo valor médio era de 3,45 euros. Quando surge o aumento de capital do BES, não perdi esta oportunidade de fazer baixar o valor de modo a conseguir vender minimizando o prejuízo. Depois de ouvir várias vozes oficiais a assegurar que o banco estava bem, volto a comprar mais ações, com valores muito baixos para descer a tal média."
Numerosos acionistas que contactaram a DECO mencionaram que tentaram "baixar o preço médio" das ações que detinham, ou seja, à medida que a cotação caía, foram adquirindo mais e mais ações do BES, a preços mais baixos, para tentar compensar as perdas, caso a cotação recuperasse. É um comportamento natural: vários estudos demonstraram já que a maioria das pessoas têm uma forte aversão às perdas, o que leva investidores menos experientes (e, por vezes, até os mais experientes) a agarrarem-se a ações sem futuro (para não materializar a perda) e a vender cedo demais ações onde estão a ganhar.Reforçar um investimento, ficando com um custo médio de aquisição mais baixo, pode não ser uma má ideia, no contexto certo e desde que não desequilibre a nossa carteira. Os problemas surgem quando esta decisão é motivada apenas pela aversão às perdas e a tentativa de "salvar" aquele investimento que está a correr mal. Como na prática se trata de fazer um novo investimento a questão que deve colocar é: "Eu investiria nesta ação, hoje, caso não tivesse já feito o investimento anterior?". Se ao preço atual não faria o investimento, muito menos deverá fazê-lo só porque já está com uma posição perdedora. Em vez de se focar naquele título específico, olhe para a sua carteira de investimentos como um todo. Fará algum sentido que se concentre ainda mais em ações onde o desempenho é pior, em detrimento das que lhe estão a trazer ganhos?
Conselho: É necessário aceitar que nem todos os negócios vão correr bem. Respeite a diversificação e resista à tentação de reforçar excessivamente apostas perdedoras.
NÃO ASSUMA QUE UMA
AÇÃO EM QUEDA ESTÁ BARATA
"Quando verifiquei que as ações do BES se encontravam num valor baixo em relação ao que vinham a ser cotadas nos últimos meses, e suportado pelas garantias dadas pelas autoridades de que tudo estava bem, em meados de julho comprei ações. Pensei que podiam recuperar pelo menos até 1 euro."
É um raciocínio comum entre os investidores olhar para o histórico da cotação de uma ação e tomar um valor máximo mais ou menos recente como referência para o potencial de ganho de um investimento. Esta perspetiva não leva em conta alterações na atividade da empresa que podem afetá-la de forma estrutural. Por exemplo, uma firma que é forçada a alienar ativos ou a abandonar um mercado ou segmento de negócio forçosamente terá um potencial de lucro e de crescimento diferente do que tinha anteriormente. Ou o setor em que a empresa opera pode estar a atravessar mudanças estruturais. O investidor tem de reconhecer a nova realidade ao avaliar o mérito do investimento. A análise fundamental que a Proteste Investe faz permite contextualizar o preço de uma empresa em relação aos seus resultados atuais e ao seu potencial futuro. No caso concreto, desde outubro de 2013 que a publicação da DECO mantinha o conselho de venda para o BES: devido à degradação dos resultados. O banco não estava atrativo: ao contrário do que poderia pensar um investidor que visse apenas a queda da cotação.
Conselho: Consulte a PROTESTE INVESTE ou outras fontes, para perceber o contexto da empresa e concluir se uma ação em queda corresponde efetivamente a uma oportunidade de compra.
NÃO INVISTA CAPITAL
QUE NÃO PODE ARRISCAR
"Comprei ações no aumento de capital, a seguir acreditei no governador do Banco de Portugal e reforcei a posição para baixar o preço médio. Cheguei a vender, mas arrependi-me e voltei a comprar. Investi em ações que agora nada valem e fiquei sem dinheiro para as adversidades."
No caso do BES, as repetidas afirmações por parte de várias figuras de autoridade que o banco estava com uma posição financeira sólida terão contribuído erradamente para que muitos investidores subestimassem o risco de investir nas ações do banco.
Mas os investidores devem fazer uma prudente gestão do risco. Mesmo que as perspetivas sejam boas, no que toca a ativos de risco elevado apenas deve investir uma quantia em que possa arriscar a possibilidade de sofrer perdas, e que deve estar disposto a manter a longo prazo (no contexto de uma carteira diversificada). Não só pelo risco de perda de capital propriamente dito, mas também porque a pressão psicológica adicional de sofrer perdas que não pode suportar torna mais difícil ao investidor "manter a cabeça fria" e respeitar os bons princípios de investimento.
Conselho: respeite o seu perfil de risco. Todos os investidores devem ter uma reserva de segurança, e os investimentos de risco devem ser ponderados em função da finalidade a dar ao capital, do prazo (mínimo cinco anos) em que prevê necessitar do mesmo, e das características pessoais do investidor (idade, património, experiência, etc.).
NÃO INVISTA EM PRODUTOS
QUE NÃO CONHECE
"Tenho investido no BES em vários produtos durante todos estes anos. A minha profissão no setor da saúde não me permite conhecimentos profundos sobre economia, e nunca pensei que estava a ser envolvida em produtos tóxicos."
Os mercados financeiros, pela complexidade dos produtos e pelo jargão técnico utilizado, podem parecer algo impenetráveis para quem não tem formação ou experiência na área. É pelos piores motivos que muitos portugueses têm hoje uma noção do que é o papel comercial, ou da diferença entre obrigações subordinadas (que ficaram no banco "mau") e não subordinadas (que passaram para o banco "bom").
Mas existem alternativas entre confiar cegamente no banco, ou colocar o seu dinheiro "debaixo do colchão". Tal como não se baseiam apenas na publicidade das companhias farmacêuticas para escolher produtos de saúde, ou recorrem a um advogado para elaborar um contrato, enquanto investidores é necessário que os portugueses tenham quem os auxilie a tomar opções financeiras. Ao subscrever a PROTESTE INVESTE, tem acesso a uma boa fonte de informação financeira que é das poucas verdadeiramente independente em Portugal. Faça-se valer disso. Se lhe propõem um produto que ainda não foi analisado nas páginas da revista, o subscritor poderá usar o serviço de Avaliação a Pedido da DECO - terá a análise em alguns dias. Se pretende tirar uma dúvida sobre algum aspeto específico do produto (tem risco? Posso movimentar o capital?) o Serviço de Informação Financeira da associação de consumidores está ao seu dispor - um telefonema é rápido, e mais vale prevenir do que remediar, quando são as suas poupanças que estão em jogo.
Conselho: se uma proposta de investimento não lhe é familiar, peça uma avaliação independente à PROTESTE INVESTE. Na dúvida, não invista.
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Que lições devem os investidores tirar após o caso BES
01 Jun 2015 DECO
O que podemos aprender com os testemunhos dos investidores do BES?
Mesmo os investidores menos experientes já terão ouvido a maioria dos conselhos tradicionais de investimento: não colocar os ovos todos no mesmo cesto, comprar ativos quando estão baratos e vender quando estão caros, investir a longo prazo, etc.
Mas, como se apercebem todos os que começam a investir, manter-se fiel a estes princípios pode revelar-se um grande desafio, desde logo porque o nosso instinto pode ser contrariar os princípios que pretendemos respeitar.
O escândalo do Banco Espírito Santo teve contornos que ultrapassam o normal risco de um investimento em ações, ao ponto de a DECO avançar com ações judiciais em defesa dos acionistas lesados. Mas, ao analisar os muitos testemunhos que a associação de consumidores recebeu por parte dos investidores prejudicados, tornou-se claro que a dificuldade em respeitar as regras de ouro do investimento contribuiu para agravar as perdas sofridas.
Que lições podemos então aprender com a queda do BES?
NÃO SE DEIXE CONTROLAR
PELA AVERSÃO ÀS PERDAS
"Tinha ações compradas em 2010 cujo valor médio era de 3,45 euros. Quando surge o aumento de capital do BES, não perdi esta oportunidade de fazer baixar o valor de modo a conseguir vender minimizando o prejuízo. Depois de ouvir várias vozes oficiais a assegurar que o banco estava bem, volto a comprar mais ações, com valores muito baixos para descer a tal média."
Numerosos acionistas que contactaram a DECO mencionaram que tentaram "baixar o preço médio" das ações que detinham, ou seja, à medida que a cotação caía, foram adquirindo mais e mais ações do BES, a preços mais baixos, para tentar compensar as perdas, caso a cotação recuperasse. É um comportamento natural: vários estudos demonstraram já que a maioria das pessoas têm uma forte aversão às perdas, o que leva investidores menos experientes (e, por vezes, até os mais experientes) a agarrarem-se a ações sem futuro (para não materializar a perda) e a vender cedo demais ações onde estão a ganhar.Reforçar um investimento, ficando com um custo médio de aquisição mais baixo, pode não ser uma má ideia, no contexto certo e desde que não desequilibre a nossa carteira. Os problemas surgem quando esta decisão é motivada apenas pela aversão às perdas e a tentativa de "salvar" aquele investimento que está a correr mal. Como na prática se trata de fazer um novo investimento a questão que deve colocar é: "Eu investiria nesta ação, hoje, caso não tivesse já feito o investimento anterior?". Se ao preço atual não faria o investimento, muito menos deverá fazê-lo só porque já está com uma posição perdedora. Em vez de se focar naquele título específico, olhe para a sua carteira de investimentos como um todo. Fará algum sentido que se concentre ainda mais em ações onde o desempenho é pior, em detrimento das que lhe estão a trazer ganhos?
Conselho: É necessário aceitar que nem todos os negócios vão correr bem. Respeite a diversificação e resista à tentação de reforçar excessivamente apostas perdedoras.
NÃO ASSUMA QUE UMA
AÇÃO EM QUEDA ESTÁ BARATA
"Quando verifiquei que as ações do BES se encontravam num valor baixo em relação ao que vinham a ser cotadas nos últimos meses, e suportado pelas garantias dadas pelas autoridades de que tudo estava bem, em meados de julho comprei ações. Pensei que podiam recuperar pelo menos até 1 euro."
É um raciocínio comum entre os investidores olhar para o histórico da cotação de uma ação e tomar um valor máximo mais ou menos recente como referência para o potencial de ganho de um investimento. Esta perspetiva não leva em conta alterações na atividade da empresa que podem afetá-la de forma estrutural. Por exemplo, uma firma que é forçada a alienar ativos ou a abandonar um mercado ou segmento de negócio forçosamente terá um potencial de lucro e de crescimento diferente do que tinha anteriormente. Ou o setor em que a empresa opera pode estar a atravessar mudanças estruturais. O investidor tem de reconhecer a nova realidade ao avaliar o mérito do investimento. A análise fundamental que a Proteste Investe faz permite contextualizar o preço de uma empresa em relação aos seus resultados atuais e ao seu potencial futuro. No caso concreto, desde outubro de 2013 que a publicação da DECO mantinha o conselho de venda para o BES: devido à degradação dos resultados. O banco não estava atrativo: ao contrário do que poderia pensar um investidor que visse apenas a queda da cotação.
Conselho: Consulte a PROTESTE INVESTE ou outras fontes, para perceber o contexto da empresa e concluir se uma ação em queda corresponde efetivamente a uma oportunidade de compra.
NÃO INVISTA CAPITAL
QUE NÃO PODE ARRISCAR
"Comprei ações no aumento de capital, a seguir acreditei no governador do Banco de Portugal e reforcei a posição para baixar o preço médio. Cheguei a vender, mas arrependi-me e voltei a comprar. Investi em ações que agora nada valem e fiquei sem dinheiro para as adversidades."
No caso do BES, as repetidas afirmações por parte de várias figuras de autoridade que o banco estava com uma posição financeira sólida terão contribuído erradamente para que muitos investidores subestimassem o risco de investir nas ações do banco.
Mas os investidores devem fazer uma prudente gestão do risco. Mesmo que as perspetivas sejam boas, no que toca a ativos de risco elevado apenas deve investir uma quantia em que possa arriscar a possibilidade de sofrer perdas, e que deve estar disposto a manter a longo prazo (no contexto de uma carteira diversificada). Não só pelo risco de perda de capital propriamente dito, mas também porque a pressão psicológica adicional de sofrer perdas que não pode suportar torna mais difícil ao investidor "manter a cabeça fria" e respeitar os bons princípios de investimento.
Conselho: respeite o seu perfil de risco. Todos os investidores devem ter uma reserva de segurança, e os investimentos de risco devem ser ponderados em função da finalidade a dar ao capital, do prazo (mínimo cinco anos) em que prevê necessitar do mesmo, e das características pessoais do investidor (idade, património, experiência, etc.).
NÃO INVISTA EM PRODUTOS
QUE NÃO CONHECE
"Tenho investido no BES em vários produtos durante todos estes anos. A minha profissão no setor da saúde não me permite conhecimentos profundos sobre economia, e nunca pensei que estava a ser envolvida em produtos tóxicos."
Os mercados financeiros, pela complexidade dos produtos e pelo jargão técnico utilizado, podem parecer algo impenetráveis para quem não tem formação ou experiência na área. É pelos piores motivos que muitos portugueses têm hoje uma noção do que é o papel comercial, ou da diferença entre obrigações subordinadas (que ficaram no banco "mau") e não subordinadas (que passaram para o banco "bom").
Mas existem alternativas entre confiar cegamente no banco, ou colocar o seu dinheiro "debaixo do colchão". Tal como não se baseiam apenas na publicidade das companhias farmacêuticas para escolher produtos de saúde, ou recorrem a um advogado para elaborar um contrato, enquanto investidores é necessário que os portugueses tenham quem os auxilie a tomar opções financeiras. Ao subscrever a PROTESTE INVESTE, tem acesso a uma boa fonte de informação financeira que é das poucas verdadeiramente independente em Portugal. Faça-se valer disso. Se lhe propõem um produto que ainda não foi analisado nas páginas da revista, o subscritor poderá usar o serviço de Avaliação a Pedido da DECO - terá a análise em alguns dias. Se pretende tirar uma dúvida sobre algum aspeto específico do produto (tem risco? Posso movimentar o capital?) o Serviço de Informação Financeira da associação de consumidores está ao seu dispor - um telefonema é rápido, e mais vale prevenir do que remediar, quando são as suas poupanças que estão em jogo.
Conselho: se uma proposta de investimento não lhe é familiar, peça uma avaliação independente à PROTESTE INVESTE. Na dúvida, não invista.