A última volta

10-10-2014
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A última volta

Miguel Cabrita

01 Out 2014

Enredado nas suas próprias contradições e dificuldades, que se têm agravado ao longo do tempo, o Governo beneficiou de uma imerecida folga com o arrastar, evitável, da definição da nova liderança do PS.

Essa folga terminou, para mal de Passos Coelho, com um desfecho claro, com um processo de eleições primárias que foi um êxito, que mobilizou muita gente, incluindo muitas pessoas afastadas da política. Em suma, o PS ficou mais forte.

E ficou mais forte quando entramos na última etapa de uma legislatura e já todos perceberam que não apenas as opções básicas da estratégia do Governo para lidar com os problemas do país foram erradas mas que também na gestão e nas políticas se acumulam falhas demasiado graves.

Que o Governo falhara na sua orientação estratégica já se sabia. Agora, findo o período de vigência da troika, é ainda mais claro que a recuperação económica é uma miragem, a consolidação orçamental uma ficção e a dívida, essa, continua a crescer implacavelmente.

Que o Governo falhara na relação com o tribunal constitucional, com os parceiros sociais, com os partidos da oposição, era também claro.

Mas o Governo, prova-se agora mais uma vez, falha também demasiado até em coisas básicas, como assegurar o funcionamento de serviços públicos essenciais. E vive bem com o não assumir das responsabilidades pelos titulares políticos quando há falhas clamorosas.

O que se tem passado na justiça por causa de uma reforma mal preparada e mal executada, e o que se passa com a colocação dos professores, são duas provas de que a incompetência até em questões basilares se tornou aceitável.

É bem provável que, apesar das fraquezas e das contradições internas, o Governo procure agora, se ainda tiver tempo, inventar algumas boas notícias e atenuar o pesadelo em que nos mergulhou em vão.

Só que, se a memória em política é curta, ela também depende dos protagonistas e da capacidade para gerar confiança, apoio e esperança para uma alternativa. E, a este respeito as notícias das primárias do PS não podiam ser piores para a direita.

Não estaremos ainda na última curva, mas à entrada para a última volta o governo tem como garantido que as dificuldades para passar entre os pingos da chuva vão aumentar.

A última volta

Miguel Cabrita

01 Out 2014

Enredado nas suas próprias contradições e dificuldades, que se têm agravado ao longo do tempo, o Governo beneficiou de uma imerecida folga com o arrastar, evitável, da definição da nova liderança do PS.

Essa folga terminou, para mal de Passos Coelho, com um desfecho claro, com um processo de eleições primárias que foi um êxito, que mobilizou muita gente, incluindo muitas pessoas afastadas da política. Em suma, o PS ficou mais forte.

E ficou mais forte quando entramos na última etapa de uma legislatura e já todos perceberam que não apenas as opções básicas da estratégia do Governo para lidar com os problemas do país foram erradas mas que também na gestão e nas políticas se acumulam falhas demasiado graves.

Que o Governo falhara na sua orientação estratégica já se sabia. Agora, findo o período de vigência da troika, é ainda mais claro que a recuperação económica é uma miragem, a consolidação orçamental uma ficção e a dívida, essa, continua a crescer implacavelmente.

Que o Governo falhara na relação com o tribunal constitucional, com os parceiros sociais, com os partidos da oposição, era também claro.

Mas o Governo, prova-se agora mais uma vez, falha também demasiado até em coisas básicas, como assegurar o funcionamento de serviços públicos essenciais. E vive bem com o não assumir das responsabilidades pelos titulares políticos quando há falhas clamorosas.

O que se tem passado na justiça por causa de uma reforma mal preparada e mal executada, e o que se passa com a colocação dos professores, são duas provas de que a incompetência até em questões basilares se tornou aceitável.

É bem provável que, apesar das fraquezas e das contradições internas, o Governo procure agora, se ainda tiver tempo, inventar algumas boas notícias e atenuar o pesadelo em que nos mergulhou em vão.

Só que, se a memória em política é curta, ela também depende dos protagonistas e da capacidade para gerar confiança, apoio e esperança para uma alternativa. E, a este respeito as notícias das primárias do PS não podiam ser piores para a direita.

Não estaremos ainda na última curva, mas à entrada para a última volta o governo tem como garantido que as dificuldades para passar entre os pingos da chuva vão aumentar.

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