Voar baixinho contra Costa

08-06-2015
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Voar baixinho contra Costa

05 Jun 2015 Raul Vaz

Em vez de promessas há garantias. Em vez de amanhãs que cantam há continuidade.

Em vez de risco há segurança. O que se viu do programa da direita é um texto enxuto, a voar baixinho. E desiludam-se os que pensam que isto é mel para o PS. Mel seria o mau da fita querer, agora, vestir a pele de cordeiro.

Passos e Portas não foram por aí. "Temos uma estratégia que o país conhece", será a frase-chave da direita nos próximos meses. E até as aparentes surpresas que a coligação coloca na mesa são, afinal, contas de um velho rosário.

Está a fazer um ano que o primeiro-ministro avisou que havia um problema com a Segurança Social. O Governo tinha acabado de sofrer mais um chumbo do Tribunal Constitucional e Passos não iria apresentar nenhuma proposta até ao fim da legislatura porque seria imprescindível um acordo com o PS. É onde estamos.

Enquanto António Costa arrisca prometer a baixa da TSU sem dizer como compensa a inevitável descapitalização do sistema, a direita fica na sua: há um problema, não haverá mais dinheiro nos bolsos, há cortes a fazer, como e a quem ver-se-á, num plano que terá forçosamente que passar por um entendimento alargado, essencial para uma reforma estrutural que todos sabem inevitável.

Foi a pista que o Constitucional deixou e é a pista que o Governo deixa ao PS e ao país. A ministra das Finanças, que tanto atormentou as mentes que só pensam em votos, limitou-se a dizer o óbvio: se nada for feito, até as actuais pensões podem sofrer. A direita devia apresentar uma solução? Todos deviam. Se a tragédia espreita, a responsabilidade exige que o tema não seja congelado. Pelo contrário. Perder a oportunidade será criminoso.

Esta não vai ser uma campanha de feiras. O país está farto de arraiais e os quatro anos de míngua foram uma vacina contra pieguices. Mas é bom que sejam os responsáveis políticos os primeiros a fazer-se à vida e a dizer ao que vêm. Seja na Segurança Social, seja na dívida, os dois dramas óbvios da agenda que aí está.

Passos e Portas insistem em pôr na Constituição um travão à dívida (e assim o PSD recupera a ideia-chave com que entrou em cena, a necessidade de uma revisão constitucional). E Costa prefere esperar que a Europa facilite, sem saber se a Europa o fará. É o segundo grande eixo do combate que, em grande parte, se vai travar entre o certo e o incerto.

No resto, a direita preveniu-se contra os que a quererão colar à agenda liberal, com loas ao Estado Social, ao Serviço Nacional de Saúde e aos planos estatais contra a pobreza. São três garantias de Passos e Portas, enxutas e fáceis de apreender. Somadas com a promessa de que o rigor veio para ficar - "Portugal não terá défices excessivos"-, e o crescimento e o emprego enquanto "prioridades máximas", eis o desenho de um guião que não é pêra doce.

Ninguém sabe ao certo quanto é que o país vai crescer. Nem o que estará a Europa disposta a perdoar. Nem que impacto terá um estoiro da Grécia. Com tanta incógnita no horizonte, ter um adversário prudente e coerente pode, para António Costa, ser um verdadeiro berbicacho.

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Voar baixinho contra Costa

05 Jun 2015 Raul Vaz

Em vez de promessas há garantias. Em vez de amanhãs que cantam há continuidade.

Em vez de risco há segurança. O que se viu do programa da direita é um texto enxuto, a voar baixinho. E desiludam-se os que pensam que isto é mel para o PS. Mel seria o mau da fita querer, agora, vestir a pele de cordeiro.

Passos e Portas não foram por aí. "Temos uma estratégia que o país conhece", será a frase-chave da direita nos próximos meses. E até as aparentes surpresas que a coligação coloca na mesa são, afinal, contas de um velho rosário.

Está a fazer um ano que o primeiro-ministro avisou que havia um problema com a Segurança Social. O Governo tinha acabado de sofrer mais um chumbo do Tribunal Constitucional e Passos não iria apresentar nenhuma proposta até ao fim da legislatura porque seria imprescindível um acordo com o PS. É onde estamos.

Enquanto António Costa arrisca prometer a baixa da TSU sem dizer como compensa a inevitável descapitalização do sistema, a direita fica na sua: há um problema, não haverá mais dinheiro nos bolsos, há cortes a fazer, como e a quem ver-se-á, num plano que terá forçosamente que passar por um entendimento alargado, essencial para uma reforma estrutural que todos sabem inevitável.

Foi a pista que o Constitucional deixou e é a pista que o Governo deixa ao PS e ao país. A ministra das Finanças, que tanto atormentou as mentes que só pensam em votos, limitou-se a dizer o óbvio: se nada for feito, até as actuais pensões podem sofrer. A direita devia apresentar uma solução? Todos deviam. Se a tragédia espreita, a responsabilidade exige que o tema não seja congelado. Pelo contrário. Perder a oportunidade será criminoso.

Esta não vai ser uma campanha de feiras. O país está farto de arraiais e os quatro anos de míngua foram uma vacina contra pieguices. Mas é bom que sejam os responsáveis políticos os primeiros a fazer-se à vida e a dizer ao que vêm. Seja na Segurança Social, seja na dívida, os dois dramas óbvios da agenda que aí está.

Passos e Portas insistem em pôr na Constituição um travão à dívida (e assim o PSD recupera a ideia-chave com que entrou em cena, a necessidade de uma revisão constitucional). E Costa prefere esperar que a Europa facilite, sem saber se a Europa o fará. É o segundo grande eixo do combate que, em grande parte, se vai travar entre o certo e o incerto.

No resto, a direita preveniu-se contra os que a quererão colar à agenda liberal, com loas ao Estado Social, ao Serviço Nacional de Saúde e aos planos estatais contra a pobreza. São três garantias de Passos e Portas, enxutas e fáceis de apreender. Somadas com a promessa de que o rigor veio para ficar - "Portugal não terá défices excessivos"-, e o crescimento e o emprego enquanto "prioridades máximas", eis o desenho de um guião que não é pêra doce.

Ninguém sabe ao certo quanto é que o país vai crescer. Nem o que estará a Europa disposta a perdoar. Nem que impacto terá um estoiro da Grécia. Com tanta incógnita no horizonte, ter um adversário prudente e coerente pode, para António Costa, ser um verdadeiro berbicacho.

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