Transparência?

09-10-2014
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Transparência?
José Manuel Moreira
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O espectáculo continua a dar: do “big brother” ao “strip tease” mais político. Até à implosão final: para o que por certo muito contribuirá o novo partido de Marinho e Pinto.
Sempre que deparo "com os meus melhores cumprimentos", pasmo com o desatino desta usual forma de despedida. E como ela ganhou a "respeitosos (ou afectuosos) cumprimentos". Espanto que, contudo, fica aquém da magia de transparência. Moda tornada tão politicamente correcta que tudo contamina: das "contas claras e transparentes" às "eleições justas e transparentes". Há até movimentos de "ética e transparência". Sem se ver a sua insustentabilidade: tanto mais que um ser humano nem para si mesmo é transparente. Não por acaso "pessoa" significa "máscara". E se tecem elogios ao nosso "Pessoa" e aos seus heterónimos. Glen Greenwald quis corrigir a loucura: "Para aqueles que exercem poderes e cargos públicos, transparência. Para todos os outros, privacidade". Só que cedeu à moda. Sujeitar a escrutínio redobrado quem tem esses "poderes e cargos" é prudente, mas já temos melhor: verdade, honestidade, coerência e cumprimento da palavra dada. Expressões de decência que perderam para o tique da transparência, que vingou, em especial, na vida política: dos submarinos ao BPN e ao BES, do Freeport à Tecnoforma, que serviu a Seguro para desafiar Passos a autorizar o levantamento do sigilo bancário. Com o visado a dizer recusar fazer o "stripe tease" das suas contas. Demagogia que Marinho e Pinto aceitou, para os (públicos) recibos do seu vencimento como eurodeputado. Julgo que a seguir mostrará as contas de todos os anos em que exerceu "poderes e cargos públicos". Admito ter chegado a hora de se ir mais longe na transparência da vida política: substituindo as eleições por voto secreto (e em urna) pelo transparente braço no ar. E já agora acabar com a roupa, abrindo caminho a uma sociedade despida de preconceitos. A começar pelo início da vida, que deve passar a ser gerada à vista de todos.Pensando bem talvez o termo adequado ao espírito da coisa não seja transparência, mas "strip tease": ao permitir ganhar com o mostrar, o trans(a)parecer e o esconder. Traço comum a quem se despe para ter benefícios, ao mesmo tempo que exige privacidade. Coisa que o alemão Günther Oettinger, indicado para comissário para a área digital, já declarou não ir fazer: proteger as celebridades "estúpidas o suficiente para serem fotografadas nuas". Entretanto, por cá, o espectáculo continua a dar: do "big brother" ao "strip tease" mais político. Até à implosão final: para o que por certo muito contribuirá o novo partido de Marinho e Pinto.Resta-nos a ironia da revista "Tabu": "Mário Soares promove um debate sobre transparência na política com o patrocínio da família Espirito Santo". E apreciar a troca de lealdades em processos eleitorais - do PS ao Brasil, que, como nós, só conta com partidos social-socialistas - com o olhar "transparente" de von Mises: "A pior coisa que pode acontecer a um socialista é ter o seu país governado por socialistas que não são seus amigos".

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Sempre que deparo "com os meus melhores cumprimentos", pasmo com o desatino desta usual forma de despedida. E como ela ganhou a "respeitosos (ou afectuosos) cumprimentos". Espanto que, contudo, fica aquém da magia de transparência. Moda tornada tão politicamente correcta que tudo contamina: das "contas claras e transparentes" às "eleições justas e transparentes". Há até movimentos de "ética e transparência". Sem se ver a sua insustentabilidade: tanto mais que um ser humano nem para si mesmo é transparente. Não por acaso "pessoa" significa "máscara". E se tecem elogios ao nosso "Pessoa" e aos seus heterónimos. Glen Greenwald quis corrigir a loucura: "Para aqueles que exercem poderes e cargos públicos, transparência. Para todos os outros, privacidade". Só que cedeu à moda. Sujeitar a escrutínio redobrado quem tem esses "poderes e cargos" é prudente, mas já temos melhor: verdade, honestidade, coerência e cumprimento da palavra dada. Expressões de decência que perderam para o tique da transparência, que vingou, em especial, na vida política: dos submarinos ao BPN e ao BES, do Freeport à Tecnoforma, que serviu a Seguro para desafiar Passos a autorizar o levantamento do sigilo bancário. Com o visado a dizer recusar fazer o "stripe tease" das suas contas. Demagogia que Marinho e Pinto aceitou, para os (públicos) recibos do seu vencimento como eurodeputado. Julgo que a seguir mostrará as contas de todos os anos em que exerceu "poderes e cargos públicos". Admito ter chegado a hora de se ir mais longe na transparência da vida política: substituindo as eleições por voto secreto (e em urna) pelo transparente braço no ar. E já agora acabar com a roupa, abrindo caminho a uma sociedade despida de preconceitos. A começar pelo início da vida, que deve passar a ser gerada à vista de todos.Pensando bem talvez o termo adequado ao espírito da coisa não seja transparência, mas "strip tease": ao permitir ganhar com o mostrar, o trans(a)parecer e o esconder. Traço comum a quem se despe para ter benefícios, ao mesmo tempo que exige privacidade. Coisa que o alemão Günther Oettinger, indicado para comissário para a área digital, já declarou não ir fazer: proteger as celebridades "estúpidas o suficiente para serem fotografadas nuas". Entretanto, por cá, o espectáculo continua a dar: do "big brother" ao "strip tease" mais político. Até à implosão final: para o que por certo muito contribuirá o novo partido de Marinho e Pinto.Resta-nos a ironia da revista "Tabu": "Mário Soares promove um debate sobre transparência na política com o patrocínio da família Espirito Santo". E apreciar a troca de lealdades em processos eleitorais - do PS ao Brasil, que, como nós, só conta com partidos social-socialistas - com o olhar "transparente" de von Mises: "A pior coisa que pode acontecer a um socialista é ter o seu país governado por socialistas que não são seus amigos".

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