O dia correu bem, mas a vida continua “difícil” para o PCP

23-03-2020
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O momento do dia:

A arruada na Baixa da Banheira foi a primeira prova de rua destas legislativas para Jerónimo de Sousa. Foram precisos 11 dias até que o líder comunista 'arruasse'. A campanha está mais "tranquila" admitiu o próprio aos jornalistas, que têm estranhado esta falta de comparência do secretário-geral do PCP em ações de rua, junto das populações, distribuindo beijos e abraços por onde passa. Uma ausência tanto mais notada, quanto a presença do secretário-geral no terreno tendo sido sempre um dos principais trunfos na manga de qualquer das campanhas organizadas pela máquina do partido. As pessoas gostam de o ver, esperam ansiosas pela sua passagem e furam as barreiras de segurança para lhe poderem tocar, abraçar e beijar. E, claro, Jerónimo foi um sucesso. Os mais velhos - sobretudo as mulheres - ficam comovidas ao vê-lo, esperam pelo fim do comício para lhe irem dar um abraço sentido e que, a muitas, deixam os olhos rasos de lágrimas. É quase comovente. Jerónimo ficou reconhecido com "a força e emotividade" e pela "forma até apaixonada" como foi recebido. Amanhã, no Barreiro e no Chiado terá dose dupla de arruadas. A campanha comunista está a guardar os principais cartuxos para o fim da guerra eleitoral.

A frase do dia:

"Não tinha grande jeito convocar [a comissão permanente da AR] esta semana, quando pode perfeitamente reunir-se para a próxima. É uma questão de bom senso e de lógica."

Jerónimo de Sousa, líder do PCP, justificando o chumbo comunista à proposta do PSD de reabrir o caso Tancos antes das eleições.

O personagem:

Francisco Lopes, o histórico cabeça de lista por Setúbal é um dos homens fortes da direção comunista. Hoje, quando a caravana passou pelo seu distrito e pelas praças fortes de Almada, Seixal, Moita e Setúbal, o homem que está na short list para ser o próximo secretário-geral, mostrou que continua a dominar o território. Nenhuma falha de participação, nenhuma lacuna de organização. E mesmo se não é nos discursos que Francisco Lopes mais se destaca, o certo é que consegue agarrar os militantes e levá-los a comparecer a todas as chamadas do partido. E, nos tempos que correm, ter um exército disciplinado e fiel "não é coisa pouca", como Jerónimo costuma dizer.

A fotografia:

"A sala está cheia, não posso deixar entrar", disse o porteiro ao grupo de quatro homens que pretendia entrar no comício da CDU. É certo que chegaram atrasados, mas tambem Jerónimo de Sousa ainda não tinha começado a falar. E, além disso, a concorrência da Champions (com o Benfica a jogar) na mesma noite e à mesma hora do comício da campanha comunista, faz vacilar até o mais disciplinado dos revolucionários.

Mas, regras são regras. E as ordens do Teatro Luisa Todi, em Setúbal são para cumprir. O teatro é da Câmara que, mesmo nas mãos do PCP, não admite excessos. Sejam eles de lotação, ou outros quaisquer. Por isso, disciplinadamente e sem protesto, os homens voltaram para trás e o comício ficou com quatro baixas.

Não é costume ver iniciativas partidárias com "excesso de lotação". Muito menos, pelos lados desta campanha comunista, mais marcada pelas casas meio cheias ou comícios que deixam muito a desejar em relação a passados bem recentes. Mas o exemplo do comício desta noite, serve para demonstrar como o dia correu bem,

Tão bem que Jerónimo de Sousa teve mesmo direito ao seu primeiro "banho de multidão" quando, na Baixa da Banheira, finalmente, fez a primeira arruada da campanha. Em terreno fértil para a colheita comunista, é verdade. A freguesia é comunista e pertence a um dos concelhos comunistas que resistiu à onda rosa das últimas autárquicas que levou outras Câmaras mesmo ali ao lado a cair nas mãos do PS. Mas também é verdade, que o povo comunista fez ali questão de não deixar os seus créditos por mãos alheias e de mostrar que a tradição ainda é o que era.

Aderiu em força, trouxe para a rua beijos repenicados, abraços apertados e até saudações militares. Isso mesmo, de boina e tudo, um sargento reformado da GNR, fez questão de fazer continência e de se apresentar em sentido perante o líder comunista. "Um militar da guarda, mesmo reformado, é assim que deve saudar um deputado, que faz parte de um orgão de soberania", explica ao Expresso. "É uma questão de respeito, minha senhora!", afirma em tom de aula de protocolo.

Jerónimo gostou. Ali o lema da campanha de "a CDU avança, com toda a confiança" ainda faz sentido e não soa a desfasado da realidade, quando as presenças são escassas e o ânimo baixo em muitas das ações já feitas ao longo dos últimos dias. Mais tarde, no comício em Setúbal, o líder comunista voltava a ver uma casa cheia de gente entusiasmada com perspectiva de se avançar nos resultados eleitorais. Mas, melhor que ninguem, Jerónimo sabe que as coisas estão longe de correrem de feição. "É preciso continuar, mas não é uma batalha fácil". As reservas quanto ao futuro próximo começam a ser claras no discurso do secretário-geral que não esconde que "será, com certeza, um caminho mais acidentado" aquele que vai surgir logo após as eleições.

A maioria absoluta do PS é uma assombração, mas a simples subida eleitoral socialista com uma descida dos votos comunistas é uma dificuldade que começa a tornar-se demasiado próxima. Jerónimo tenta dar a volta. É díficil? "Mas alguma vez, camaradas, a nossa vida foi fácil? Nunca foi", disse aos militantes de Setubal. O partido prepara-se para as trincheiras.

O momento do dia:

A arruada na Baixa da Banheira foi a primeira prova de rua destas legislativas para Jerónimo de Sousa. Foram precisos 11 dias até que o líder comunista 'arruasse'. A campanha está mais "tranquila" admitiu o próprio aos jornalistas, que têm estranhado esta falta de comparência do secretário-geral do PCP em ações de rua, junto das populações, distribuindo beijos e abraços por onde passa. Uma ausência tanto mais notada, quanto a presença do secretário-geral no terreno tendo sido sempre um dos principais trunfos na manga de qualquer das campanhas organizadas pela máquina do partido. As pessoas gostam de o ver, esperam ansiosas pela sua passagem e furam as barreiras de segurança para lhe poderem tocar, abraçar e beijar. E, claro, Jerónimo foi um sucesso. Os mais velhos - sobretudo as mulheres - ficam comovidas ao vê-lo, esperam pelo fim do comício para lhe irem dar um abraço sentido e que, a muitas, deixam os olhos rasos de lágrimas. É quase comovente. Jerónimo ficou reconhecido com "a força e emotividade" e pela "forma até apaixonada" como foi recebido. Amanhã, no Barreiro e no Chiado terá dose dupla de arruadas. A campanha comunista está a guardar os principais cartuxos para o fim da guerra eleitoral.

A frase do dia:

"Não tinha grande jeito convocar [a comissão permanente da AR] esta semana, quando pode perfeitamente reunir-se para a próxima. É uma questão de bom senso e de lógica."

Jerónimo de Sousa, líder do PCP, justificando o chumbo comunista à proposta do PSD de reabrir o caso Tancos antes das eleições.

O personagem:

Francisco Lopes, o histórico cabeça de lista por Setúbal é um dos homens fortes da direção comunista. Hoje, quando a caravana passou pelo seu distrito e pelas praças fortes de Almada, Seixal, Moita e Setúbal, o homem que está na short list para ser o próximo secretário-geral, mostrou que continua a dominar o território. Nenhuma falha de participação, nenhuma lacuna de organização. E mesmo se não é nos discursos que Francisco Lopes mais se destaca, o certo é que consegue agarrar os militantes e levá-los a comparecer a todas as chamadas do partido. E, nos tempos que correm, ter um exército disciplinado e fiel "não é coisa pouca", como Jerónimo costuma dizer.

A fotografia:

"A sala está cheia, não posso deixar entrar", disse o porteiro ao grupo de quatro homens que pretendia entrar no comício da CDU. É certo que chegaram atrasados, mas tambem Jerónimo de Sousa ainda não tinha começado a falar. E, além disso, a concorrência da Champions (com o Benfica a jogar) na mesma noite e à mesma hora do comício da campanha comunista, faz vacilar até o mais disciplinado dos revolucionários.

Mas, regras são regras. E as ordens do Teatro Luisa Todi, em Setúbal são para cumprir. O teatro é da Câmara que, mesmo nas mãos do PCP, não admite excessos. Sejam eles de lotação, ou outros quaisquer. Por isso, disciplinadamente e sem protesto, os homens voltaram para trás e o comício ficou com quatro baixas.

Não é costume ver iniciativas partidárias com "excesso de lotação". Muito menos, pelos lados desta campanha comunista, mais marcada pelas casas meio cheias ou comícios que deixam muito a desejar em relação a passados bem recentes. Mas o exemplo do comício desta noite, serve para demonstrar como o dia correu bem,

Tão bem que Jerónimo de Sousa teve mesmo direito ao seu primeiro "banho de multidão" quando, na Baixa da Banheira, finalmente, fez a primeira arruada da campanha. Em terreno fértil para a colheita comunista, é verdade. A freguesia é comunista e pertence a um dos concelhos comunistas que resistiu à onda rosa das últimas autárquicas que levou outras Câmaras mesmo ali ao lado a cair nas mãos do PS. Mas também é verdade, que o povo comunista fez ali questão de não deixar os seus créditos por mãos alheias e de mostrar que a tradição ainda é o que era.

Aderiu em força, trouxe para a rua beijos repenicados, abraços apertados e até saudações militares. Isso mesmo, de boina e tudo, um sargento reformado da GNR, fez questão de fazer continência e de se apresentar em sentido perante o líder comunista. "Um militar da guarda, mesmo reformado, é assim que deve saudar um deputado, que faz parte de um orgão de soberania", explica ao Expresso. "É uma questão de respeito, minha senhora!", afirma em tom de aula de protocolo.

Jerónimo gostou. Ali o lema da campanha de "a CDU avança, com toda a confiança" ainda faz sentido e não soa a desfasado da realidade, quando as presenças são escassas e o ânimo baixo em muitas das ações já feitas ao longo dos últimos dias. Mais tarde, no comício em Setúbal, o líder comunista voltava a ver uma casa cheia de gente entusiasmada com perspectiva de se avançar nos resultados eleitorais. Mas, melhor que ninguem, Jerónimo sabe que as coisas estão longe de correrem de feição. "É preciso continuar, mas não é uma batalha fácil". As reservas quanto ao futuro próximo começam a ser claras no discurso do secretário-geral que não esconde que "será, com certeza, um caminho mais acidentado" aquele que vai surgir logo após as eleições.

A maioria absoluta do PS é uma assombração, mas a simples subida eleitoral socialista com uma descida dos votos comunistas é uma dificuldade que começa a tornar-se demasiado próxima. Jerónimo tenta dar a volta. É díficil? "Mas alguma vez, camaradas, a nossa vida foi fácil? Nunca foi", disse aos militantes de Setubal. O partido prepara-se para as trincheiras.

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