Jerónimo e o perigo dos votos que "caem no regaço do PS"

28-06-2020
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O momento do dia:

Em Alpiarça, um dos bastiões comunistas que resistiu ao desaire das últimas autárquicas, deu-se um raro encontro entre dois "constituintes". Jerónimo de Sousa e Custódio Ferreira, foram, em 1975, eleitos deputados pelo PCP nas primeiras eleições livres da democracia portuguesa. O almoço-comício que constava do programa da campanha, serviu para juntar os dois antigos deputados. O líder comunista fez questão de ir cumprimentar o velho camarada de luta que, aos 80 anos, continua militante ferrenho, porque essa é uma 'carreira' sem direito a reforma. O abraço entre os dois foi comovente. A luta, para eles, continua sempre.

A frase:

"Um grande resultado eleitoral está como a romã madura no ramo. Pronto para ser apanhado"

João Oliveira, cabeça de lista por Évora, no comício no Teatro Garcia de Resende

O personagem:

Augusto Figueiredo, professor e militante do núcleo comunista de Rio Maior foi um dos mais entusiastas participantes no comício de Alpiarça. De bandeira comunista às costas (entalada no blaser cinzento) filmou com o telemóvel todo o discurso de Jerónimo, batia palmas e gritava pela CDU. Mas, a sua maior proeza foi a de conseguir trazer um autocarro com 25 pessoas diretamente de Rio Maior para Alpiarça. Com direito a bilhete de ida e volta, explicou com orgulho, que o trabalho partidário local não era fácil, mas, mesmo assim, conseguiu fazer "três baptismos" naquele dia. "Baptismos?", pergunta o Expresso. "Sim, são três pessoas que nunca tinha participado em nenhuma ação do partido", explica sem reservas. Carla Silva, cabeleireira e estudante de Recursos Humanos, foi uma das batpizadas. Explica que "esta é das poucas forças que está presente e consegue fazer aquilo que quer" e que, por isso, decidiu "vir ver". Não se arrependeu. Pelo menos, por enquanto.

A fotografia:

Um dia que começou com os problemas de acessibilidade nos comboios portugueses e acabou com os avisos de Jerónimo de Sousa sobre os perigos de uma escorregadela eleitoral. Pelo meio, a campanha da CDU teve ainda direito a um momento alto, quando a equipa jogou em casa e, como toda a gente sabe, "ter a casa cheia" é sempre "um conforto muito grande e uma força" que Jerónimo agradece.

"Mas não chega", assumiu o próprio líder. Em Alpiarça, onde o PCP, mesmo com o último desaire autárquico, conseguiu segurar a Câmara,o ânimo esteve em alta. Só que "aqui os votos estão ganhos", disse Jerónimo e para os convencidos, nem seria preciso fazer campanha eleitoral. "Aqui ganhamos sempre, o pior é o resto", resumiu o mais velho comunista da região ("com as quotas em dia", faz questão de sublinhar). Manuel Miguel, aos 96 anos e 80 de partido, sabe do que fala.

O problema da campanha comunista é mesmo esse. O voto dos de sempre pode não chegar para compor um bom resultado eleitoral e os que ajudam à festa nas várias legislativas pode estar a derrapar. As bases sentem isso mesmo. Em Moura, uma militante lamentava o facto de agora andar "tudo encantado com o Costa". Em Alpiarça, Elvira, uma comunista dos sete costados, nascida e criada na aldeia do Couço vai no mesmo sentido de análise política. "Uns aproveitam, enquanto os outros pôem as culpas sempre para o PCP".

Elvira nem sequer tinha ouvido Santos Silva, a tentar descartar os comunistas do cenário da próxima legislatura, ocupada que estava a "ajudar nas limpezas para o almoço" de Alpiarça. Mas Jerónimo de Sousa ouviu bem as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros de António Costa. Horas depois, no comício em Évora, o líder comunista atirou-se aos que "por aí fazem grandes proclamações prometendo futuros risonhos, jurando que jamais se voltará atrás". "Mas de proclamações e de promessas se foi enchendo o inferno", avisa.

"É preciso não ir em cantigas", diz perante um Teatro Garcia de Resende bem composto mas que, noutros tempos, já conheceu enchentes bem maiores para ouvir o líder do PCP. Os tempos estão duros, a batalha eleitoral está difícil e Jerónimo sabe porquê. O esforço nesta "recta final" é sobretudo para evitar que o voto do eleitorado comunista "não caia no regaço do PS". E para isso, não se pode deitar a toalha ao chão. "Não digam que já só falta uma semana. Digam antes que ainda falta uma semana", disse, apelando a que os motores do activismo sejam ligados no máximo.

O momento do dia:

Em Alpiarça, um dos bastiões comunistas que resistiu ao desaire das últimas autárquicas, deu-se um raro encontro entre dois "constituintes". Jerónimo de Sousa e Custódio Ferreira, foram, em 1975, eleitos deputados pelo PCP nas primeiras eleições livres da democracia portuguesa. O almoço-comício que constava do programa da campanha, serviu para juntar os dois antigos deputados. O líder comunista fez questão de ir cumprimentar o velho camarada de luta que, aos 80 anos, continua militante ferrenho, porque essa é uma 'carreira' sem direito a reforma. O abraço entre os dois foi comovente. A luta, para eles, continua sempre.

A frase:

"Um grande resultado eleitoral está como a romã madura no ramo. Pronto para ser apanhado"

João Oliveira, cabeça de lista por Évora, no comício no Teatro Garcia de Resende

O personagem:

Augusto Figueiredo, professor e militante do núcleo comunista de Rio Maior foi um dos mais entusiastas participantes no comício de Alpiarça. De bandeira comunista às costas (entalada no blaser cinzento) filmou com o telemóvel todo o discurso de Jerónimo, batia palmas e gritava pela CDU. Mas, a sua maior proeza foi a de conseguir trazer um autocarro com 25 pessoas diretamente de Rio Maior para Alpiarça. Com direito a bilhete de ida e volta, explicou com orgulho, que o trabalho partidário local não era fácil, mas, mesmo assim, conseguiu fazer "três baptismos" naquele dia. "Baptismos?", pergunta o Expresso. "Sim, são três pessoas que nunca tinha participado em nenhuma ação do partido", explica sem reservas. Carla Silva, cabeleireira e estudante de Recursos Humanos, foi uma das batpizadas. Explica que "esta é das poucas forças que está presente e consegue fazer aquilo que quer" e que, por isso, decidiu "vir ver". Não se arrependeu. Pelo menos, por enquanto.

A fotografia:

Um dia que começou com os problemas de acessibilidade nos comboios portugueses e acabou com os avisos de Jerónimo de Sousa sobre os perigos de uma escorregadela eleitoral. Pelo meio, a campanha da CDU teve ainda direito a um momento alto, quando a equipa jogou em casa e, como toda a gente sabe, "ter a casa cheia" é sempre "um conforto muito grande e uma força" que Jerónimo agradece.

"Mas não chega", assumiu o próprio líder. Em Alpiarça, onde o PCP, mesmo com o último desaire autárquico, conseguiu segurar a Câmara,o ânimo esteve em alta. Só que "aqui os votos estão ganhos", disse Jerónimo e para os convencidos, nem seria preciso fazer campanha eleitoral. "Aqui ganhamos sempre, o pior é o resto", resumiu o mais velho comunista da região ("com as quotas em dia", faz questão de sublinhar). Manuel Miguel, aos 96 anos e 80 de partido, sabe do que fala.

O problema da campanha comunista é mesmo esse. O voto dos de sempre pode não chegar para compor um bom resultado eleitoral e os que ajudam à festa nas várias legislativas pode estar a derrapar. As bases sentem isso mesmo. Em Moura, uma militante lamentava o facto de agora andar "tudo encantado com o Costa". Em Alpiarça, Elvira, uma comunista dos sete costados, nascida e criada na aldeia do Couço vai no mesmo sentido de análise política. "Uns aproveitam, enquanto os outros pôem as culpas sempre para o PCP".

Elvira nem sequer tinha ouvido Santos Silva, a tentar descartar os comunistas do cenário da próxima legislatura, ocupada que estava a "ajudar nas limpezas para o almoço" de Alpiarça. Mas Jerónimo de Sousa ouviu bem as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros de António Costa. Horas depois, no comício em Évora, o líder comunista atirou-se aos que "por aí fazem grandes proclamações prometendo futuros risonhos, jurando que jamais se voltará atrás". "Mas de proclamações e de promessas se foi enchendo o inferno", avisa.

"É preciso não ir em cantigas", diz perante um Teatro Garcia de Resende bem composto mas que, noutros tempos, já conheceu enchentes bem maiores para ouvir o líder do PCP. Os tempos estão duros, a batalha eleitoral está difícil e Jerónimo sabe porquê. O esforço nesta "recta final" é sobretudo para evitar que o voto do eleitorado comunista "não caia no regaço do PS". E para isso, não se pode deitar a toalha ao chão. "Não digam que já só falta uma semana. Digam antes que ainda falta uma semana", disse, apelando a que os motores do activismo sejam ligados no máximo.

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