@rtavares, uma eleição não é uma nomeação e a democracia é representativa, infelizmente. @miguel e marisa, quando escreverem e votarem resoluções para abrir caminho às intervenções da NATO

10-07-2011
marcar artigo

O Rui Tavares diz que vota o que lhe dá na real gana com o mandato que recebeu dos eleitores. É um direito formalmente inquestionável mas eticamente muito duvidoso, uma vez que as pessoas que o elegeram fizeram-no com base num programa político e não pelo seu maior ou menor brilhantismo parlamentar. É um bom esclarecimento. Diz o Rui que “no PE a regra é a liberdade de voto, felizmente”, justificando de seguida os motivos pelos quais votou a famigerada alínea 10 da não menos famigerada resolução que abre caminho à intervenção da NATO na Líbia, e que, como o Bruno desmontou e se deduz do tuit acima, para lá do seu nome estar entre os signatários o texto até pode ter sido escrito pelo Miguel Portas.

Sem nenhum respeito por este tipo de magistraturas, de políticos que se julgam eleitos pela sua mais ou menos esbelta compleição física, cor dos olhos ou dress code, tenho vontade de deixar a conversa por aqui, ainda para mais porque o Rui Tavares ainda se dá ao despudor de colorir as suas explicações caracterizando a vigilância democrática dos eleitos pelos eleitores por “fúria inquisitorial”, insinuando também sobre a minha maior ou menor capacidade como jornalista. Para quem diz querer fazer um debate sério sobre a intervenção militar do Ocidente na Líbia é no mínimo um mau começo. Em nome da fidelidade ao programa com o qual pediram aos cidadãos os seus votos deveriam ter ido pelo caminho com que estavam comprometidos.

Afirma o Rui Tavares para justificar a sua opção pela intervenção militar: “Temos na Líbia um ditador armado até aos dentes”. Ora, sabendo nós que o Rui Tavares acha o mesmo de uma boa dúzia de chefes de Estado, impõe-se a pergunta: para quando uma resolução sobre cada um desses espaços aéreos, de Luanda a Pyongyang, de Havana a Gaza? Esta frase, por outro lado, também nos leva a concluir, e o camarada independente que o desminta, que “os ditadores armado até aos dentes” de Bagdad, Cabul e Belgrado tiveram o que mereceram da comunidade internacional. Lamentavelmente os respectivos povos passaram a ter não um mas dois tiranos com quem tiveram que lutar, não um mas dois exércitos dos quais se tiveram que se defender, não um mas duas artilharias que descarregavam sobre eles o seu fósforo branco, o seu urânio empobrecido ou a sua pólvora democrática. Está bom de ver que esses povos ficaram muito melhor depois das referidas intervenções e para que não reste qualquer dúvida basta ver o histórico das vítimas civís em cada um desses países.

Rui Tavares, insolente, acusa os que não estão nem com Kadhafi nem com a NATO de estarem a “marimbar-se” para a resistência líbia, que estamos a deixar “que eles se lixem”, mas pelo menos deixa claro que tem consciência do leitmotiv desta discussão e das portas que a resolução que aprovou abre: “o mundo não é feito só da “melhor das hipóteses”, e quero ser honesto com os problemas que uma zona de exclusão aérea pode criar. Uma zona de exclusão aérea pode criar um casus belli e uma pressão para uma intervenção militar e/ou ocupação da Líbia.”

Ao contrário do que pensa o Rui Tavares esta não é uma discussão nova e não foi preciso esperar pelos deputados do BE no PE para haver quem encontre mil maneiras elegantes de contribuir ou acabar na trincheira do imperialismo. A este propósito, nada como reler uma passagem da entrevista que Trotsky deu a Mateo Fossa: “Existe actualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos entretanto que, amanhã, a Inglaterra entra em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática“. Porquê? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões, por trás de qualquer máscara que eles utilizem!”.

Libyan leader Moamer Kadhafi (C) poses with Arab leaders for a family pictures at the opening of the Arab Summit on March 27, 2010. Sudanese President Omar Al-Beshir, Yemeni President Ali Abdullah Saleh, Kadhafi, Chairperson of the African Union Commission Jean Ping, Tunisian President Zine El Abidine Ben Ali, and Italian President Silvio Berlusconi; Morrocan Prince Moulay Rachid, Egyptian Premier Ahmed Nazif, Arab League Secretary General Amr Mussa, UN Secretary General Ban Ki-Moon, Turkish Premier Recep Tayyip Erdogan and Omani Vice Premier Fahd bin Mahmud Al Said.

Ora, mesmo sabendo que qualquer um dos três deputados não defende uma saída revolucionária, o mínimo que seria de esperar, e porque todos dizem estar contra uma ocupação militar, é que fossem coerentes com essa posição. Não querer a NATO em Portugal nem Portugal na NATO mas colaborar para que a NATO venha a entrar noutro país não só não tem qualquer sentido como as suas consequências serão pagas exclusivamente pelo povo líbio.

O BE ficou mal na fotografia e neste caso não vai a tempo de emendar a mão. A máquina de guerra, como se viu das declarações da NATO na sequência da moção que aprovaram, está em marcha.

O Rui Tavares diz que vota o que lhe dá na real gana com o mandato que recebeu dos eleitores. É um direito formalmente inquestionável mas eticamente muito duvidoso, uma vez que as pessoas que o elegeram fizeram-no com base num programa político e não pelo seu maior ou menor brilhantismo parlamentar. É um bom esclarecimento. Diz o Rui que “no PE a regra é a liberdade de voto, felizmente”, justificando de seguida os motivos pelos quais votou a famigerada alínea 10 da não menos famigerada resolução que abre caminho à intervenção da NATO na Líbia, e que, como o Bruno desmontou e se deduz do tuit acima, para lá do seu nome estar entre os signatários o texto até pode ter sido escrito pelo Miguel Portas.

Sem nenhum respeito por este tipo de magistraturas, de políticos que se julgam eleitos pela sua mais ou menos esbelta compleição física, cor dos olhos ou dress code, tenho vontade de deixar a conversa por aqui, ainda para mais porque o Rui Tavares ainda se dá ao despudor de colorir as suas explicações caracterizando a vigilância democrática dos eleitos pelos eleitores por “fúria inquisitorial”, insinuando também sobre a minha maior ou menor capacidade como jornalista. Para quem diz querer fazer um debate sério sobre a intervenção militar do Ocidente na Líbia é no mínimo um mau começo. Em nome da fidelidade ao programa com o qual pediram aos cidadãos os seus votos deveriam ter ido pelo caminho com que estavam comprometidos.

Afirma o Rui Tavares para justificar a sua opção pela intervenção militar: “Temos na Líbia um ditador armado até aos dentes”. Ora, sabendo nós que o Rui Tavares acha o mesmo de uma boa dúzia de chefes de Estado, impõe-se a pergunta: para quando uma resolução sobre cada um desses espaços aéreos, de Luanda a Pyongyang, de Havana a Gaza? Esta frase, por outro lado, também nos leva a concluir, e o camarada independente que o desminta, que “os ditadores armado até aos dentes” de Bagdad, Cabul e Belgrado tiveram o que mereceram da comunidade internacional. Lamentavelmente os respectivos povos passaram a ter não um mas dois tiranos com quem tiveram que lutar, não um mas dois exércitos dos quais se tiveram que se defender, não um mas duas artilharias que descarregavam sobre eles o seu fósforo branco, o seu urânio empobrecido ou a sua pólvora democrática. Está bom de ver que esses povos ficaram muito melhor depois das referidas intervenções e para que não reste qualquer dúvida basta ver o histórico das vítimas civís em cada um desses países.

Rui Tavares, insolente, acusa os que não estão nem com Kadhafi nem com a NATO de estarem a “marimbar-se” para a resistência líbia, que estamos a deixar “que eles se lixem”, mas pelo menos deixa claro que tem consciência do leitmotiv desta discussão e das portas que a resolução que aprovou abre: “o mundo não é feito só da “melhor das hipóteses”, e quero ser honesto com os problemas que uma zona de exclusão aérea pode criar. Uma zona de exclusão aérea pode criar um casus belli e uma pressão para uma intervenção militar e/ou ocupação da Líbia.”

Ao contrário do que pensa o Rui Tavares esta não é uma discussão nova e não foi preciso esperar pelos deputados do BE no PE para haver quem encontre mil maneiras elegantes de contribuir ou acabar na trincheira do imperialismo. A este propósito, nada como reler uma passagem da entrevista que Trotsky deu a Mateo Fossa: “Existe actualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos entretanto que, amanhã, a Inglaterra entra em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática“. Porquê? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões, por trás de qualquer máscara que eles utilizem!”.

Libyan leader Moamer Kadhafi (C) poses with Arab leaders for a family pictures at the opening of the Arab Summit on March 27, 2010. Sudanese President Omar Al-Beshir, Yemeni President Ali Abdullah Saleh, Kadhafi, Chairperson of the African Union Commission Jean Ping, Tunisian President Zine El Abidine Ben Ali, and Italian President Silvio Berlusconi; Morrocan Prince Moulay Rachid, Egyptian Premier Ahmed Nazif, Arab League Secretary General Amr Mussa, UN Secretary General Ban Ki-Moon, Turkish Premier Recep Tayyip Erdogan and Omani Vice Premier Fahd bin Mahmud Al Said.

Ora, mesmo sabendo que qualquer um dos três deputados não defende uma saída revolucionária, o mínimo que seria de esperar, e porque todos dizem estar contra uma ocupação militar, é que fossem coerentes com essa posição. Não querer a NATO em Portugal nem Portugal na NATO mas colaborar para que a NATO venha a entrar noutro país não só não tem qualquer sentido como as suas consequências serão pagas exclusivamente pelo povo líbio.

O BE ficou mal na fotografia e neste caso não vai a tempo de emendar a mão. A máquina de guerra, como se viu das declarações da NATO na sequência da moção que aprovaram, está em marcha.

marcar artigo