O Bom Senso: Até Quando?

30-06-2011
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Os portugueses, não haja dúvida, são proveitosa matéria para estudo comportamental.O que aqui trago para análise é a mentalidade portuguesa dada às pequenas investidas, à moderação e contenção, por vezes excessivas.Quem já não se apercebeu que nós, em toda a nossa generalidade (que penso ser muita), preferimos o nosso “cantinho”, melhor dizendo, o nosso “pequenino cantinho”, onde estamos bem instalados e estabelecidos e não nos temos que preocupar com muito porque muito é do que pouco pretendemos fazer?Em conversa, dias destes (não seriam daqueles?! Fico sempre na dúvida…), com o Luís, falávamos sobre este assunto quando ele me perguntou qual não era o português que preferia ter o seu negócio, o seu restaurante ou café, uma coisa “assim” pequenina, onde, não obstante o lucro, se dava primazia, porventura, à qualidade, mas sobretudo à sustentabilidade e estabilidade que o negócio trazia. E, de facto, nós somos mesmo assim. Preferimos ter pouco, é certo, mas, segundo o que se diz – que equivale dizer: segundo o que nós dizemos - é melhor pouco e bom, que muito e mau (é que, para nós, o muito e bom não existe; já não falo do pouco e mau, que isso, quem nos ouvisse falar, diria que estávamos pior que os africanos!). Nós fazemos bem uso do célebre provérbio: “Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”. Parece ser melhor ter pouco e estar-se seguro, do que ter muito em estado pendente. Será? Não imagino quem tenha pronunciado tal singularidade; talvez um caçador com dois cartuchos na caçadeira, em final de dia, quando se preparava para regressar a casa “de cinta a abanar”, mas eu diria mais: “Mais vale dois pássaros na mão e um a voar”. Não é preferível assim? Nunca percebi porque é que o provérbio não é deste modo…Nós temos uma natureza bastante contrária, e é o exemplo mais flagrante que encontro, aos americanos. Pense-se no exemplo do risco inerente à criação de uma empresa e nos que estão dispostos a corrê-lo: num qualquer recente artigo de uma qualquer recente revista, fiquei a saber que quase metade, se não mesmo mais de metade, dos jovens americanos pretende vir a formar uma empresa, enquanto que aqui, no nossa simplória terra do “dás-me duas cebolas, levas duas laranjas”, apenas uma ínfima percentagem, que, se não muito me falha a memória, não chegaria aos 20% dos jovens, pretende assumir esse risco. A isto é preciso acrescentar que nos Estados Unidos a concorrência é tal, devido ao número de empresas que oferecem os mesmos serviços, que é de admirar que lá se registem tais níveis, ao passo que aqui na nossa terra do “é necessário comprar isto. Não há? Então importa-se.” a concorrência não é o factor que persuade as pessoas a não quererem formar uma empresa. O factor é a nosso carácter: receamos ser ambiciosos, porque “quanto mais alto se sobe, mais baixo se vem cair”. (Será que os outros povos também têm provérbios destes como nós? Ou existirão eles para fazer face à nossa índole conformista e receosa?) O que “nos vai valendo” são aqueles que cumprem a regra de que “não há regra sem excepção” e arriscam o seu futuro, muito contribuindo para todos os portugueses e para o desenvolvimento do país.Mas nós somos assim em muitas mais coisas: preferimos comprar os nossos bens na “loja da esquina” porque se tivermos que ir reclamar “sabemos onde havemos de ir e com quem falar”, enquanto que pela Internet ou nas grandes superfícies, como nós lhes chamamos, e que são os Centros Comerciais, não sabemos se iremos ser logo atendidos, se “eles vão dar conta do recado” e se (o que, para nós, é sempre “o mais certo”) “não nos vão “passar a perna, não vá o diabo ser tendeiro!”. Preferimos ser cuidadosos (será essa a palavra apropriada?), arriscar pouco, e seguir a máxima do “Devagar se vai ao longe”, esquecendo-nos, como disse Miguel Esteves Cardoso, que demoramos é mais tempo.O filósofo José Gil fala de: “Portugal, Hoje: o medo de existir”. Aproveito, deturpando, ou não, o significado deste título pois o presente assunto me tenta a tal, para dizer que nós, Portugal, não temos medo de existir: não gostamos é de existir “em grande”; preferimos existir à medida do nosso País.Muitos de nós já pensaram que não somos uma grande potência mundial (terá mesmo alguém pensado nisso?...) mas também não temos problemas e ninguém nos incomoda. E é verdade. Não ganhamos, mas também não perdemos. Não arriscamos – não petiscamos, mas também o pior que nos pode acontecer é ficarmos na mesma. Não lutamos – podíamos vencer, mas também assim não somos derrotados. Reina a apatia.Parece que temos medo de crescer para o Mundo dos Grandes. E é assim que vamos continuando…é assim que vamos sobrevivendo…Até quando?.Nuno Miguel Santos


Os portugueses, não haja dúvida, são proveitosa matéria para estudo comportamental.O que aqui trago para análise é a mentalidade portuguesa dada às pequenas investidas, à moderação e contenção, por vezes excessivas.Quem já não se apercebeu que nós, em toda a nossa generalidade (que penso ser muita), preferimos o nosso “cantinho”, melhor dizendo, o nosso “pequenino cantinho”, onde estamos bem instalados e estabelecidos e não nos temos que preocupar com muito porque muito é do que pouco pretendemos fazer?Em conversa, dias destes (não seriam daqueles?! Fico sempre na dúvida…), com o Luís, falávamos sobre este assunto quando ele me perguntou qual não era o português que preferia ter o seu negócio, o seu restaurante ou café, uma coisa “assim” pequenina, onde, não obstante o lucro, se dava primazia, porventura, à qualidade, mas sobretudo à sustentabilidade e estabilidade que o negócio trazia. E, de facto, nós somos mesmo assim. Preferimos ter pouco, é certo, mas, segundo o que se diz – que equivale dizer: segundo o que nós dizemos - é melhor pouco e bom, que muito e mau (é que, para nós, o muito e bom não existe; já não falo do pouco e mau, que isso, quem nos ouvisse falar, diria que estávamos pior que os africanos!). Nós fazemos bem uso do célebre provérbio: “Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”. Parece ser melhor ter pouco e estar-se seguro, do que ter muito em estado pendente. Será? Não imagino quem tenha pronunciado tal singularidade; talvez um caçador com dois cartuchos na caçadeira, em final de dia, quando se preparava para regressar a casa “de cinta a abanar”, mas eu diria mais: “Mais vale dois pássaros na mão e um a voar”. Não é preferível assim? Nunca percebi porque é que o provérbio não é deste modo…Nós temos uma natureza bastante contrária, e é o exemplo mais flagrante que encontro, aos americanos. Pense-se no exemplo do risco inerente à criação de uma empresa e nos que estão dispostos a corrê-lo: num qualquer recente artigo de uma qualquer recente revista, fiquei a saber que quase metade, se não mesmo mais de metade, dos jovens americanos pretende vir a formar uma empresa, enquanto que aqui, no nossa simplória terra do “dás-me duas cebolas, levas duas laranjas”, apenas uma ínfima percentagem, que, se não muito me falha a memória, não chegaria aos 20% dos jovens, pretende assumir esse risco. A isto é preciso acrescentar que nos Estados Unidos a concorrência é tal, devido ao número de empresas que oferecem os mesmos serviços, que é de admirar que lá se registem tais níveis, ao passo que aqui na nossa terra do “é necessário comprar isto. Não há? Então importa-se.” a concorrência não é o factor que persuade as pessoas a não quererem formar uma empresa. O factor é a nosso carácter: receamos ser ambiciosos, porque “quanto mais alto se sobe, mais baixo se vem cair”. (Será que os outros povos também têm provérbios destes como nós? Ou existirão eles para fazer face à nossa índole conformista e receosa?) O que “nos vai valendo” são aqueles que cumprem a regra de que “não há regra sem excepção” e arriscam o seu futuro, muito contribuindo para todos os portugueses e para o desenvolvimento do país.Mas nós somos assim em muitas mais coisas: preferimos comprar os nossos bens na “loja da esquina” porque se tivermos que ir reclamar “sabemos onde havemos de ir e com quem falar”, enquanto que pela Internet ou nas grandes superfícies, como nós lhes chamamos, e que são os Centros Comerciais, não sabemos se iremos ser logo atendidos, se “eles vão dar conta do recado” e se (o que, para nós, é sempre “o mais certo”) “não nos vão “passar a perna, não vá o diabo ser tendeiro!”. Preferimos ser cuidadosos (será essa a palavra apropriada?), arriscar pouco, e seguir a máxima do “Devagar se vai ao longe”, esquecendo-nos, como disse Miguel Esteves Cardoso, que demoramos é mais tempo.O filósofo José Gil fala de: “Portugal, Hoje: o medo de existir”. Aproveito, deturpando, ou não, o significado deste título pois o presente assunto me tenta a tal, para dizer que nós, Portugal, não temos medo de existir: não gostamos é de existir “em grande”; preferimos existir à medida do nosso País.Muitos de nós já pensaram que não somos uma grande potência mundial (terá mesmo alguém pensado nisso?...) mas também não temos problemas e ninguém nos incomoda. E é verdade. Não ganhamos, mas também não perdemos. Não arriscamos – não petiscamos, mas também o pior que nos pode acontecer é ficarmos na mesma. Não lutamos – podíamos vencer, mas também assim não somos derrotados. Reina a apatia.Parece que temos medo de crescer para o Mundo dos Grandes. E é assim que vamos continuando…é assim que vamos sobrevivendo…Até quando?.Nuno Miguel Santos

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