A relativa importância de mudar de Governo, para dentro e fora de Espanha

20-11-2011
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Os conservadores, certos da vitória, preocupam-se com o "dia seguinte". Da dívida, da política europeia. Não têm a certeza que os mercados respeitem o ciclo da alternância democrática

"O mais importante é dar a mensagem de que as coisas vão mudar, para dentro e fora de Espanha". Deste modo, Mariano Rajoy sintetizou o alcance da mudança que proclama em campanha e o efeito da sua chegada ao Palácio da Moncloa, a sede do Executivo espanhol. O candidato conservador, sempre prudente, moderou a linguagem na última semana de campanha quando a dívida soberana do Reino de Espanha bateu sucessivos recordes no diferencial com a dívida alemã. Na quinta-feira, chegou aos 500 pontos a as taxas de juro a dez anos superaram a fasquia dos sete por cento. Mudar de Governo e de políticas pode ser de relativa importância na tarefa de tranquilizar os mercados.

"Todos precisamos de respirar de vez em quando, é para isso que serve a mudança de governos", afirma o analista financeiro Juan Ignácio Crespo. "A população necessita de assimilar as situações, atirar as culpas para alguém, por isso as campanhas eleitorais são uma psicanálise colectiva", ironiza. Para Ignácio Crespo, "através dos actos eleitorais a democracia absorve as tensões sociais". Uma concepção que limita, objectivamente, o efeito de mudança propalada pela propaganda política. "A função dos políticos é mais administrativa, claro que sempre podem existir situações de falso êxito que mais se devem à conjuntura do que à acção política", insiste.

Realismo ou cinismo? "Os governos apenas podem fazer como os "surfistas", navegar a onda como puderem", exemplifica. Talvez por isso, ou pelo cansaço de uma campanha há muito iniciada, com a consistente demolição do Executivo facilitada pela errática gestão de Rodriguez Zapatero, o Partido Popular (PP) e o seu candidato medem as palavras. Como nunca. Foi há mais de dois meses que Esteban González Pons, o operacional da comunicação dos "populares", prometeu uns quantos milhões de postos de trabalho durante a legislatura do PP. Mais do que quatro anos de redenção seriam um verdadeiro milagre. O voluntarioso González Pons passou a ser mais moderado. Já pouco fala.

"Os políticos acabaram de descobrir que quem manda são os mercados, o que comanda o Mundo não são as políticas dos governos, mas a rentabilidade dos investimentos". A frase do analista é um autêntico duche frio em tempo da campanha eleitoral espanhola. Nos últimos dias, Rajoy tem mantido regulares conservas telefónicas com Zapatero e a ministra da Economia, Elena Salgado. A situação económica ocupa estes discretos contactos, apenas revelados para demonstrar os perfis de responsabilidade do presidente do Governo e do seu sucessor.

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"Chegámos a Novembro sem que a Espanha tenha sido resgatada". Só foi uma vez que, recentemente, o "premier" espanhol praticou o seu "optimismo pragmático". Foi um deslize, apenas justificável para quem se imolou politicamente em Maio de 2010, por pressão das reformas impostas por Bruxelas. Pedro Passos Coelho, acabado de chegar ao Palácio de São Bento, em Portugal, divulgou o "murro no estômago" que sentiu pela revisão, em baixa, do "ranking" da República. Um exemplo esquecido: em Espanha pouco se acompanha as vicissitudes da política portuguesa. O vizinho não interessa.

"Queremos opinar e participar e não que nos dêem ordens", comentou Mariano Rajoy quando, esta semana, em Paris e Bona se falava de uma Europa a duas velocidades. "É surpreendente que pessoas não submetidas ao voto cheguem ao poder", lamentou o líder conservador. Patriotismo? Desafio? Arrogância? Temor? Provavelmente um pouco de tudo. No PP, existe a consciência de que o mais difícil ainda não chegou. "Vamos ver como estão as coisas", afirma Rajoy. Não lança, apenas, a suspeita sobre as contas públicas espanholas. Recorre à prevenção sobre os desconhecidos caminhos do futuro da União Europeia.

Curiosamente, com a vitória ao alcance dos votos que todas as sondagens lhe indiciam, os "populares" já falam do "dia seguinte". O momento do triunfo, sempre único e de contentamento, será um mero parêntesis de felicidade num caminho de preocupação. Já preocupa o tempo que demorará a formar o novo gabinete. A primeira reunião do Conselho de Ministros em princípio é em 23 de Dezembro. Depois da cimeira dos chefes de Estado e de Governo, na qual deverá ainda participar Zapatero. O que obrigará, certamente, a um acordo entre o presidente do Governo em funções e o seu sucessor, já eleito. Preocupa, cada vez mais, a perspectiva da dívida continuar a galopar até ferir a soberania. Então, a mudança de cor política de Governo poderá ser mesmo de relativa importância.

Os conservadores, certos da vitória, preocupam-se com o "dia seguinte". Da dívida, da política europeia. Não têm a certeza que os mercados respeitem o ciclo da alternância democrática

"O mais importante é dar a mensagem de que as coisas vão mudar, para dentro e fora de Espanha". Deste modo, Mariano Rajoy sintetizou o alcance da mudança que proclama em campanha e o efeito da sua chegada ao Palácio da Moncloa, a sede do Executivo espanhol. O candidato conservador, sempre prudente, moderou a linguagem na última semana de campanha quando a dívida soberana do Reino de Espanha bateu sucessivos recordes no diferencial com a dívida alemã. Na quinta-feira, chegou aos 500 pontos a as taxas de juro a dez anos superaram a fasquia dos sete por cento. Mudar de Governo e de políticas pode ser de relativa importância na tarefa de tranquilizar os mercados.

"Todos precisamos de respirar de vez em quando, é para isso que serve a mudança de governos", afirma o analista financeiro Juan Ignácio Crespo. "A população necessita de assimilar as situações, atirar as culpas para alguém, por isso as campanhas eleitorais são uma psicanálise colectiva", ironiza. Para Ignácio Crespo, "através dos actos eleitorais a democracia absorve as tensões sociais". Uma concepção que limita, objectivamente, o efeito de mudança propalada pela propaganda política. "A função dos políticos é mais administrativa, claro que sempre podem existir situações de falso êxito que mais se devem à conjuntura do que à acção política", insiste.

Realismo ou cinismo? "Os governos apenas podem fazer como os "surfistas", navegar a onda como puderem", exemplifica. Talvez por isso, ou pelo cansaço de uma campanha há muito iniciada, com a consistente demolição do Executivo facilitada pela errática gestão de Rodriguez Zapatero, o Partido Popular (PP) e o seu candidato medem as palavras. Como nunca. Foi há mais de dois meses que Esteban González Pons, o operacional da comunicação dos "populares", prometeu uns quantos milhões de postos de trabalho durante a legislatura do PP. Mais do que quatro anos de redenção seriam um verdadeiro milagre. O voluntarioso González Pons passou a ser mais moderado. Já pouco fala.

"Os políticos acabaram de descobrir que quem manda são os mercados, o que comanda o Mundo não são as políticas dos governos, mas a rentabilidade dos investimentos". A frase do analista é um autêntico duche frio em tempo da campanha eleitoral espanhola. Nos últimos dias, Rajoy tem mantido regulares conservas telefónicas com Zapatero e a ministra da Economia, Elena Salgado. A situação económica ocupa estes discretos contactos, apenas revelados para demonstrar os perfis de responsabilidade do presidente do Governo e do seu sucessor.

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"Chegámos a Novembro sem que a Espanha tenha sido resgatada". Só foi uma vez que, recentemente, o "premier" espanhol praticou o seu "optimismo pragmático". Foi um deslize, apenas justificável para quem se imolou politicamente em Maio de 2010, por pressão das reformas impostas por Bruxelas. Pedro Passos Coelho, acabado de chegar ao Palácio de São Bento, em Portugal, divulgou o "murro no estômago" que sentiu pela revisão, em baixa, do "ranking" da República. Um exemplo esquecido: em Espanha pouco se acompanha as vicissitudes da política portuguesa. O vizinho não interessa.

"Queremos opinar e participar e não que nos dêem ordens", comentou Mariano Rajoy quando, esta semana, em Paris e Bona se falava de uma Europa a duas velocidades. "É surpreendente que pessoas não submetidas ao voto cheguem ao poder", lamentou o líder conservador. Patriotismo? Desafio? Arrogância? Temor? Provavelmente um pouco de tudo. No PP, existe a consciência de que o mais difícil ainda não chegou. "Vamos ver como estão as coisas", afirma Rajoy. Não lança, apenas, a suspeita sobre as contas públicas espanholas. Recorre à prevenção sobre os desconhecidos caminhos do futuro da União Europeia.

Curiosamente, com a vitória ao alcance dos votos que todas as sondagens lhe indiciam, os "populares" já falam do "dia seguinte". O momento do triunfo, sempre único e de contentamento, será um mero parêntesis de felicidade num caminho de preocupação. Já preocupa o tempo que demorará a formar o novo gabinete. A primeira reunião do Conselho de Ministros em princípio é em 23 de Dezembro. Depois da cimeira dos chefes de Estado e de Governo, na qual deverá ainda participar Zapatero. O que obrigará, certamente, a um acordo entre o presidente do Governo em funções e o seu sucessor, já eleito. Preocupa, cada vez mais, a perspectiva da dívida continuar a galopar até ferir a soberania. Então, a mudança de cor política de Governo poderá ser mesmo de relativa importância.

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