Atenta Inquietude: O MIÚDO COM OS OLHOS VAZIOS

26-01-2012
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Estava o Professor Velho o que já não dá aulas, está na biblioteca e fala como os livros, na sua tarefa, falar com os livros, para poder contar mais histórias aos alunos e professores que se acolhem na biblioteca quando entrou a Professora Maria.Olá Velho tudo bem contigo? Venho aqui ver se encontro uns materiais para fazer uns trabalhos com os alunos.Queres ajuda Maria?Não Velho, obrigado, eu procuro, mas antes gostava de te falar de um menino, o Tiago, tem oito anos, que veio este ano para o meu grupo e que me inquieta um pouco. Na verdade, inquieta-me muito. O Tiago passa o tempo quase sem falar, apenas se eu ou um colega o interpelamos directamente responde de forma breve, com ar ausente e desinteressado. Não se envolve nas tarefas, olha para fora, já o mudei de lugar para não estar perto da janela, fica como os outros dizem, “na dele”. Ainda não consegui descobrir algo que o possa interessar e por aí construir uma ponte para falarmos e nos entendermos. Procuro que ele me conte uma história, alguma coisa sobre a vida dele, do sítio donde veio, da escola onde andou, mas nada. Também ainda não consegui falar com os pais, mandaram um bilhete a dizer que trabalham muito cedo e até tarde, não podem faltar para vir à escola. Estou mesmo preocupada e sabes o que me inquieta mais, Velho? Quando me aproximo e olho nos olhos do Tiago para tentar lê-lo, como tu costumas dizer, os olhos dele parecem uma página em branco, não dizem nada, nem tristeza.Velho, será por ele estar a chegar?Não Maria, acho que é por estar a partir. Está a ir-se embora dele, sem perceber para onde nem por onde. Não sabemos porque razão, mas certamente estará só. Acho que o podes ajudar, aproxima-te dele e dá-lhe a mão. Mesmo que ele não te diga nada, fala com ele, quando puderes, sempre que puderes. Sabes Maria, mesmo os barcos à deriva quando, por acaso, entram num porto de abrigo acolhedor se aquietam e, às vezes, encontram um rumo.


Estava o Professor Velho o que já não dá aulas, está na biblioteca e fala como os livros, na sua tarefa, falar com os livros, para poder contar mais histórias aos alunos e professores que se acolhem na biblioteca quando entrou a Professora Maria.Olá Velho tudo bem contigo? Venho aqui ver se encontro uns materiais para fazer uns trabalhos com os alunos.Queres ajuda Maria?Não Velho, obrigado, eu procuro, mas antes gostava de te falar de um menino, o Tiago, tem oito anos, que veio este ano para o meu grupo e que me inquieta um pouco. Na verdade, inquieta-me muito. O Tiago passa o tempo quase sem falar, apenas se eu ou um colega o interpelamos directamente responde de forma breve, com ar ausente e desinteressado. Não se envolve nas tarefas, olha para fora, já o mudei de lugar para não estar perto da janela, fica como os outros dizem, “na dele”. Ainda não consegui descobrir algo que o possa interessar e por aí construir uma ponte para falarmos e nos entendermos. Procuro que ele me conte uma história, alguma coisa sobre a vida dele, do sítio donde veio, da escola onde andou, mas nada. Também ainda não consegui falar com os pais, mandaram um bilhete a dizer que trabalham muito cedo e até tarde, não podem faltar para vir à escola. Estou mesmo preocupada e sabes o que me inquieta mais, Velho? Quando me aproximo e olho nos olhos do Tiago para tentar lê-lo, como tu costumas dizer, os olhos dele parecem uma página em branco, não dizem nada, nem tristeza.Velho, será por ele estar a chegar?Não Maria, acho que é por estar a partir. Está a ir-se embora dele, sem perceber para onde nem por onde. Não sabemos porque razão, mas certamente estará só. Acho que o podes ajudar, aproxima-te dele e dá-lhe a mão. Mesmo que ele não te diga nada, fala com ele, quando puderes, sempre que puderes. Sabes Maria, mesmo os barcos à deriva quando, por acaso, entram num porto de abrigo acolhedor se aquietam e, às vezes, encontram um rumo.

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