Mário Negreiros escreve, no Jornal de Negócios, um artigo intitulado Os senhores das alcunhas, no qual analisa o comportamento de todos aqueles que preenchem as suas horas mortas escrevendo comentários anónimos por essa Internet fora. Eis uma parte: "A Internet é reveladora de muitas coisas, e nem todas são bonitas. Revela grandes canalhas (pedofilia, racismo, terrorismo, etc). Também revela pequenos canalhas. E é dos pequenos que me ocupo hoje.Refiro-me aos que, escondidos sob alcunhas, enchem o espaço cibernáutico de uma agressividade que não pode deixar de ter algo de patológico.Praticamente todos os fóruns de discussão na internet em que caí na asneira de entrar eram dominados por esses pequenos canalhas, cuja característica mais evidente é um apreço pelas próprias opiniões tão grande quanto o desapreço por quaisquer outras opiniões. Têm uma necessidade que parece compulsiva de atribuir ignorância a quem quer que se atreva a dar palpites sobre os assuntos que só eles, os pequenos canalhas, dominam (ou seja, todos e quaisquer assuntos) (...).Os pequenos canalhas são chatos mas, individualmente, inofensivos (mas atenção, porque nada impede que um pequeno canalha seja também um grande canalha). O mal que os pequenos canalhas fazem está na quantidade: são muitos. Infestam. Dão o tom de grande parte do que se diz na internet e, assim, espalham mundo a fora a impressão de que os humanos são seres maldispostos, malcriados, mal-amados, maus.Qualquer coisa que caia no grande caldeirão da internet servirá de alimento aos senhores das alcunhas, que se põem a mandar vir, muito machos, muito irónicos, muito cínicos (nem todo o cinismo é covarde mas toda a covardia é cínica) contra o que se escreve (ou contra o que eles lêem, que não são necessariamente a mesma coisa). É pena.(…) E que por cordialidade não se entenda medo de frontalidade e de espírito crítico. O que a cordialidade inibe não é o debate, mas a agressão. Mas como poderiam os pequenos canalhas abdicar da agressão se é precisamente para agredir que eles se escondem em alcunhas e, com a baba a cair-lhes da boca, digitam rancores mal resolvidos e anónimos contra tudo e contra todos?"
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Mário Negreiros escreve, no Jornal de Negócios, um artigo intitulado Os senhores das alcunhas, no qual analisa o comportamento de todos aqueles que preenchem as suas horas mortas escrevendo comentários anónimos por essa Internet fora. Eis uma parte: "A Internet é reveladora de muitas coisas, e nem todas são bonitas. Revela grandes canalhas (pedofilia, racismo, terrorismo, etc). Também revela pequenos canalhas. E é dos pequenos que me ocupo hoje.Refiro-me aos que, escondidos sob alcunhas, enchem o espaço cibernáutico de uma agressividade que não pode deixar de ter algo de patológico.Praticamente todos os fóruns de discussão na internet em que caí na asneira de entrar eram dominados por esses pequenos canalhas, cuja característica mais evidente é um apreço pelas próprias opiniões tão grande quanto o desapreço por quaisquer outras opiniões. Têm uma necessidade que parece compulsiva de atribuir ignorância a quem quer que se atreva a dar palpites sobre os assuntos que só eles, os pequenos canalhas, dominam (ou seja, todos e quaisquer assuntos) (...).Os pequenos canalhas são chatos mas, individualmente, inofensivos (mas atenção, porque nada impede que um pequeno canalha seja também um grande canalha). O mal que os pequenos canalhas fazem está na quantidade: são muitos. Infestam. Dão o tom de grande parte do que se diz na internet e, assim, espalham mundo a fora a impressão de que os humanos são seres maldispostos, malcriados, mal-amados, maus.Qualquer coisa que caia no grande caldeirão da internet servirá de alimento aos senhores das alcunhas, que se põem a mandar vir, muito machos, muito irónicos, muito cínicos (nem todo o cinismo é covarde mas toda a covardia é cínica) contra o que se escreve (ou contra o que eles lêem, que não são necessariamente a mesma coisa). É pena.(…) E que por cordialidade não se entenda medo de frontalidade e de espírito crítico. O que a cordialidade inibe não é o debate, mas a agressão. Mas como poderiam os pequenos canalhas abdicar da agressão se é precisamente para agredir que eles se escondem em alcunhas e, com a baba a cair-lhes da boca, digitam rancores mal resolvidos e anónimos contra tudo e contra todos?"