Sobre o Passos Coelho socialista e o Governo ferido de morte

07-10-2015
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1. O principal inimigo de Passos Coelho edição 2012, que exerce as funções de Primeiro-ministro, é o Passos Coelho do passado. Afinal, confirma-se aquilo que todos já sabíamos: Passos Coelho não é social-democrata, nem é liberal - Passos Coelho é, apenas, aquilo que for mais conveniente para os seus interesses pessoais em cada momento. Através da investigação do jornal Público - jornal que por prestar diariamente um serviço à democracia e a esse bem tão valioso chamado liberdade de imprensa, se confronta hoje com dificuldades financeiras muito sérias -, ficámos a saber que Passos Coelho já foi um convicto socialista. De facto, Passos Coelho foi consultor e posteriormente, gestor de uma empresa de formação profissional que oferecia esse serviço verdadeiramente essencial de formação de pilotos para autarquias com aeródromos e helipistas. Este projecto magnífico, brilhantemente gerido por Pedro Passos Coelho, dirigia-se a um universo de, no máximo,...20 pessoas. Por muito estanho que pareça (ainda há coisas estranhas na política portuguesa?), a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro aprovou o projecto que envolvia a prestação do serviço de formação profissional para pilotos por parte da empresa de Passos Coelho, por orientação expressa do Ministro da tutela. E quem era esse Ministro? Ora, nem mais, nem menos, que o inacreditável, o inestimável...Miguel Relvas. Este Ministro, muito curiosamente, entendeu que o programa de formação de pilotos era verdadeiramente essencial. E, infelizmente, nós sabemos que esta história não se resume aos pilotos. Passos Coelho ligava sistematicamente a várias pessoas com responsabilidades públicas, sobretudo autarcas, a oferecer serviços de formação profissional para os trabalhadores das respectivas entidades públicas.

2. Pois bem, qual era o objectivo da empresa de Passos Coelho? No fundo, beneficiar, "capturar" os fundos comunitários que chegavam a Portugal no tempo em que a austeridade severa ainda era uma mera miragem no horizonte. OU seja, o Primeiro-ministro que actualmente nos tenta dar lições de moral sobre as nossas responsabilidades individuais, que nos tenta incutir a convicção de que o Estado é mau, qualquer intervenção do Estado é diabólica - é a mesma pessoa que, enquanto gestor de uma empresa, concebeu mecanismos e esquemas de pseudo-formação profissional para aproveitar-se dos dinheiros públicos que vinham de Bruxelas. Não deixa, pois, de ser engraçado (deveras engraçado!) que os companheiros políticos de Passos Coelho questionem sempre o que foi feito com o dinheiro proveniente dos fundos comunitários. Porventura, estes passistas deveriam era perguntar ao próprio Passos Coelho como é que Portugal desperdiçou avultadas quantias financeiras que recebemos supostamente para apostar no nosso desenvolvimento e na implementação de reformas estruturais há mais de uma década - eu arrisco uma resposta: os fundos comunitários serviram para empresários que transitaram do mundo da política para os negócios (como Passos Coelho e Miguel Relvas) disporem da oportunidade das suas vidas para enriquecerem à custa do Estado e dos contribuintes. A próxima vez que algum apoiante de Pedro Passos Coelho falar em desperdício de fundos comunitários, os portugueses só poderão soltar uma enorme e sonora gargalhada.

3. E este é o principal problema de toda esta história menos clara do passado de Passos Coelho. Agora perdeu qualquer autoridade moral para exigir sacrifícios aos portugueses. Como é que nós, portugueses, podemos levar a sério alguém que se afirma liberal, que o Estado tem de reduzir o seu peso na sociedade para a deixar respirar, quando sabemos que os problemas financeiros nacionais foram causados por práticas como as de Passos Coelho? Quer dizer: o Passos Coelho versão Primeiro-ministro quer dar um ar de liberal, muito amigo dos empresários e da economia; o Passos Coelho versão anterior a tomar posse como Primeiro-ministro era um convicto socialista que defendia e estimulava o papel activo do Estado na disponibilização aos seus trabalhadores (ainda que fossem só 10 ou 15) de formação profissional. Nesta fase, a despesa pública era irrelevante: o importante era enriquecer à conta do Estado. Como é que alguém que fez parte e beneficiou do sistema que nos levou ao abismo pode ser o timoneiro da recuperação nacional? Como é que Passos Coelho pode curar o nosso problema, se foi ele um dos responsáveis pela causa principal da nossa doença? Chegámos ao limite: o Primeiro-ministro e o Governo já não têm qualquer credibilidade. Portugal vive hoje com um Governo ferido de morte.

Email: politicoesfera@gmail.com

1. O principal inimigo de Passos Coelho edição 2012, que exerce as funções de Primeiro-ministro, é o Passos Coelho do passado. Afinal, confirma-se aquilo que todos já sabíamos: Passos Coelho não é social-democrata, nem é liberal - Passos Coelho é, apenas, aquilo que for mais conveniente para os seus interesses pessoais em cada momento. Através da investigação do jornal Público - jornal que por prestar diariamente um serviço à democracia e a esse bem tão valioso chamado liberdade de imprensa, se confronta hoje com dificuldades financeiras muito sérias -, ficámos a saber que Passos Coelho já foi um convicto socialista. De facto, Passos Coelho foi consultor e posteriormente, gestor de uma empresa de formação profissional que oferecia esse serviço verdadeiramente essencial de formação de pilotos para autarquias com aeródromos e helipistas. Este projecto magnífico, brilhantemente gerido por Pedro Passos Coelho, dirigia-se a um universo de, no máximo,...20 pessoas. Por muito estanho que pareça (ainda há coisas estranhas na política portuguesa?), a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro aprovou o projecto que envolvia a prestação do serviço de formação profissional para pilotos por parte da empresa de Passos Coelho, por orientação expressa do Ministro da tutela. E quem era esse Ministro? Ora, nem mais, nem menos, que o inacreditável, o inestimável...Miguel Relvas. Este Ministro, muito curiosamente, entendeu que o programa de formação de pilotos era verdadeiramente essencial. E, infelizmente, nós sabemos que esta história não se resume aos pilotos. Passos Coelho ligava sistematicamente a várias pessoas com responsabilidades públicas, sobretudo autarcas, a oferecer serviços de formação profissional para os trabalhadores das respectivas entidades públicas.

2. Pois bem, qual era o objectivo da empresa de Passos Coelho? No fundo, beneficiar, "capturar" os fundos comunitários que chegavam a Portugal no tempo em que a austeridade severa ainda era uma mera miragem no horizonte. OU seja, o Primeiro-ministro que actualmente nos tenta dar lições de moral sobre as nossas responsabilidades individuais, que nos tenta incutir a convicção de que o Estado é mau, qualquer intervenção do Estado é diabólica - é a mesma pessoa que, enquanto gestor de uma empresa, concebeu mecanismos e esquemas de pseudo-formação profissional para aproveitar-se dos dinheiros públicos que vinham de Bruxelas. Não deixa, pois, de ser engraçado (deveras engraçado!) que os companheiros políticos de Passos Coelho questionem sempre o que foi feito com o dinheiro proveniente dos fundos comunitários. Porventura, estes passistas deveriam era perguntar ao próprio Passos Coelho como é que Portugal desperdiçou avultadas quantias financeiras que recebemos supostamente para apostar no nosso desenvolvimento e na implementação de reformas estruturais há mais de uma década - eu arrisco uma resposta: os fundos comunitários serviram para empresários que transitaram do mundo da política para os negócios (como Passos Coelho e Miguel Relvas) disporem da oportunidade das suas vidas para enriquecerem à custa do Estado e dos contribuintes. A próxima vez que algum apoiante de Pedro Passos Coelho falar em desperdício de fundos comunitários, os portugueses só poderão soltar uma enorme e sonora gargalhada.

3. E este é o principal problema de toda esta história menos clara do passado de Passos Coelho. Agora perdeu qualquer autoridade moral para exigir sacrifícios aos portugueses. Como é que nós, portugueses, podemos levar a sério alguém que se afirma liberal, que o Estado tem de reduzir o seu peso na sociedade para a deixar respirar, quando sabemos que os problemas financeiros nacionais foram causados por práticas como as de Passos Coelho? Quer dizer: o Passos Coelho versão Primeiro-ministro quer dar um ar de liberal, muito amigo dos empresários e da economia; o Passos Coelho versão anterior a tomar posse como Primeiro-ministro era um convicto socialista que defendia e estimulava o papel activo do Estado na disponibilização aos seus trabalhadores (ainda que fossem só 10 ou 15) de formação profissional. Nesta fase, a despesa pública era irrelevante: o importante era enriquecer à conta do Estado. Como é que alguém que fez parte e beneficiou do sistema que nos levou ao abismo pode ser o timoneiro da recuperação nacional? Como é que Passos Coelho pode curar o nosso problema, se foi ele um dos responsáveis pela causa principal da nossa doença? Chegámos ao limite: o Primeiro-ministro e o Governo já não têm qualquer credibilidade. Portugal vive hoje com um Governo ferido de morte.

Email: politicoesfera@gmail.com

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