Caso Mário Crespo: uma vergonha para o governo PSD!

14-10-2015
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Durante o executivo liderado por José Sócrates, eu - como a larga maioria dos comentadores - critiquei severamente a tentativa descarada de o governo instrumentalizar a RTP (bem como outros órgãos de comunicação social privados, através de meios muito insidiosos e até ilegais). O PSD - e muito bem! - desde o consulado de Manuela Ferreira Leite que denunciou a falta de imparcialidade da estação pública, a qual, durante muito tempo, tomava pornograficamente partido pelo Governo. O PSD falava, então, da necessidade de uma Política de Verdade. Mais uma vez, parece que, em política, tudo é relativo: quem está no Governo, só se interessa por perpetuar o seu poder; quem está na oposição aparece com um oportunista e falso moralismo. Infelizmente, até neste aspecto, a asserção popular de que PS e PSD são iguais soa a realidade inegável.

1. Estas considerações surgem a que propósito? O leitor mais cauto certamente já acertou: surgem na sequência do caso Mário Crespo. De novo, o EXPRESSO marca agenda informativa, dando conta aos seus leitores de que Miguel Relvas, o singular ministro dos Assuntos Parlamentares, convidou Mário Crespo para ser o correspondente da RTP nos Estados Unidos da América. Hoje, o jornalista, ao pretender desmentir a notícia, acabou por confirmá-lá: o jornalista da SIC afirmou, em declarações ao EXPRESSO, que recebeu apenas um convite informal. O que é ainda mais grave. O gabinete de Miguel Relvas, em primeiro lugar, remeteu-se ao silêncio: é o chamado silêncio confirmativo envergonhado. E o caso não é para menos.

2. Antes de mais, tenho sempre dúvidas em destrinçar um convite formal de um convite informal. Meus senhores, este assunto é muito sério para andarmos com brincadeiras: ao nível ministerial, não há convites formais e convites informais. Há convites, ponto final. Qual a relevância de saber o grau de formalidade do convite? Nenhuma! É gravíssimo que um ministro anda por aí a oferecer cargozinhos, com a agravante de nem ter competência para o fazer, a amiguinhos, amigos ou amigalhaços! Então, os portugueses pagam o salário, através dos nossos impostos, ao ministro dos Assuntos Parlamentares para ele escolher o correspondente da RTP nos EUA, na Somália, na conchichina, ou noutro sítio qualquer? Mas que vergonha é esta? Se é para isso que o senhor ministro serve, então, tenho uma sugestão: para cumprir as metas acordadas com o FMI, em vez de sobrecarregar brutalmente os portugueses com aumento de impostos, demita-se o ministro! Não faz falta nenhum ao país: não está a defender os interesses coletivos de todos nós. Pode estar a defender alguns interesses, mas não o interesse de Portugal e dos portugueses. Se assim for, não faz falta. Não merece ser ministro do nosso país.

3. Dito isto, todos nós sabemos qual é a intenção do Governo: calar desde já uma voz que poderá ser incómoda no futuro. E matar um estilo de jornalismo mais interventivo, mais ao estilo americano. É verdade que Mário Crespo é mais próximo do PSD do que do PS: contudo, o governo está a actuar numa lógica de precaução, isto é, mais vale arrumar com o tipo já do que em momento posterior. Além do mais, Miguel Relvas acha profundamente que o Estado pode ser um clube de amigos: não há regras, não há procedimentos de contratação, não há competências, nada! Daí que convidar Mário Crespo, que Relvas conhece do Frente a Frente na SIC Notícias, é um acto normalíssimo. Mas não é: há uma coisa que se chama Direito e príncipio da legalidade.

4. Por último, convém tecer uma breve consideração sobre a reacção de Mário Crespo. É um jornalista que admiro, muito corajoso, que já sofreu repressálias pela sua irreverência face ao poder político. No entanto, a sua atitude desta feita desiludiu-me. E muito. Porquê? Porque quando o JN censurou a sua crónica, Mário Crespo fez um tremendo barulho falando de uma decapitação profiisional por José Sócrates. Na altura, dei-lhe razão: o governo do PS, numa atitude digna de um regime ditatorial, tentou silenciar o jornalista. Agora, o governo Passos Coelho quer calar Crespo e...este aceita sem problemas! Diferença: nesta ocasião, Passsos Coelho oferece um lugarzinho nos EUA ao jornalista! Afinal, a liberdade de expressão não é um valor fundamental para Mário Crespo? Ora, eu, como apologista da coerência, acho esta diversidade de reacção um pouco criticável. Quanto a mim, gostaria muito de poder contar com defensores acérrimos da democracia, em que o Estado de Direito e a liberdade de expressão são pedras basilares. Defensores de uma democracia a sério: não de uma democracia só Rosinha ou de uma democracia só laranjinha. As democracias monocolores não valem nada:são ditaduras mascaradas e violentas! Enfim, será muito pedir que- finalmente- alguém leve a sério a liberdade de expressão e os direitos fundamentais dos cidadãos? Ou tudo tem um preço?

E-mail: politicoesfera@gmail.com

Durante o executivo liderado por José Sócrates, eu - como a larga maioria dos comentadores - critiquei severamente a tentativa descarada de o governo instrumentalizar a RTP (bem como outros órgãos de comunicação social privados, através de meios muito insidiosos e até ilegais). O PSD - e muito bem! - desde o consulado de Manuela Ferreira Leite que denunciou a falta de imparcialidade da estação pública, a qual, durante muito tempo, tomava pornograficamente partido pelo Governo. O PSD falava, então, da necessidade de uma Política de Verdade. Mais uma vez, parece que, em política, tudo é relativo: quem está no Governo, só se interessa por perpetuar o seu poder; quem está na oposição aparece com um oportunista e falso moralismo. Infelizmente, até neste aspecto, a asserção popular de que PS e PSD são iguais soa a realidade inegável.

1. Estas considerações surgem a que propósito? O leitor mais cauto certamente já acertou: surgem na sequência do caso Mário Crespo. De novo, o EXPRESSO marca agenda informativa, dando conta aos seus leitores de que Miguel Relvas, o singular ministro dos Assuntos Parlamentares, convidou Mário Crespo para ser o correspondente da RTP nos Estados Unidos da América. Hoje, o jornalista, ao pretender desmentir a notícia, acabou por confirmá-lá: o jornalista da SIC afirmou, em declarações ao EXPRESSO, que recebeu apenas um convite informal. O que é ainda mais grave. O gabinete de Miguel Relvas, em primeiro lugar, remeteu-se ao silêncio: é o chamado silêncio confirmativo envergonhado. E o caso não é para menos.

2. Antes de mais, tenho sempre dúvidas em destrinçar um convite formal de um convite informal. Meus senhores, este assunto é muito sério para andarmos com brincadeiras: ao nível ministerial, não há convites formais e convites informais. Há convites, ponto final. Qual a relevância de saber o grau de formalidade do convite? Nenhuma! É gravíssimo que um ministro anda por aí a oferecer cargozinhos, com a agravante de nem ter competência para o fazer, a amiguinhos, amigos ou amigalhaços! Então, os portugueses pagam o salário, através dos nossos impostos, ao ministro dos Assuntos Parlamentares para ele escolher o correspondente da RTP nos EUA, na Somália, na conchichina, ou noutro sítio qualquer? Mas que vergonha é esta? Se é para isso que o senhor ministro serve, então, tenho uma sugestão: para cumprir as metas acordadas com o FMI, em vez de sobrecarregar brutalmente os portugueses com aumento de impostos, demita-se o ministro! Não faz falta nenhum ao país: não está a defender os interesses coletivos de todos nós. Pode estar a defender alguns interesses, mas não o interesse de Portugal e dos portugueses. Se assim for, não faz falta. Não merece ser ministro do nosso país.

3. Dito isto, todos nós sabemos qual é a intenção do Governo: calar desde já uma voz que poderá ser incómoda no futuro. E matar um estilo de jornalismo mais interventivo, mais ao estilo americano. É verdade que Mário Crespo é mais próximo do PSD do que do PS: contudo, o governo está a actuar numa lógica de precaução, isto é, mais vale arrumar com o tipo já do que em momento posterior. Além do mais, Miguel Relvas acha profundamente que o Estado pode ser um clube de amigos: não há regras, não há procedimentos de contratação, não há competências, nada! Daí que convidar Mário Crespo, que Relvas conhece do Frente a Frente na SIC Notícias, é um acto normalíssimo. Mas não é: há uma coisa que se chama Direito e príncipio da legalidade.

4. Por último, convém tecer uma breve consideração sobre a reacção de Mário Crespo. É um jornalista que admiro, muito corajoso, que já sofreu repressálias pela sua irreverência face ao poder político. No entanto, a sua atitude desta feita desiludiu-me. E muito. Porquê? Porque quando o JN censurou a sua crónica, Mário Crespo fez um tremendo barulho falando de uma decapitação profiisional por José Sócrates. Na altura, dei-lhe razão: o governo do PS, numa atitude digna de um regime ditatorial, tentou silenciar o jornalista. Agora, o governo Passos Coelho quer calar Crespo e...este aceita sem problemas! Diferença: nesta ocasião, Passsos Coelho oferece um lugarzinho nos EUA ao jornalista! Afinal, a liberdade de expressão não é um valor fundamental para Mário Crespo? Ora, eu, como apologista da coerência, acho esta diversidade de reacção um pouco criticável. Quanto a mim, gostaria muito de poder contar com defensores acérrimos da democracia, em que o Estado de Direito e a liberdade de expressão são pedras basilares. Defensores de uma democracia a sério: não de uma democracia só Rosinha ou de uma democracia só laranjinha. As democracias monocolores não valem nada:são ditaduras mascaradas e violentas! Enfim, será muito pedir que- finalmente- alguém leve a sério a liberdade de expressão e os direitos fundamentais dos cidadãos? Ou tudo tem um preço?

E-mail: politicoesfera@gmail.com

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