"Zonas de conforto": eu, Troika, Relvas, Mário Crespo e os "Costas"

08-10-2015
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FARANAZ KESHAVJEE www.expresso.pt

Repensar. Reflectir. Re-alocar. Re-alojar. Recomeçar tudo; outra vez. A família, a escola dos miúdos, as despesas que todos estes aspectos implicam, fora as despesas com toda a papelada para submeter uma candidatura a um visto, e o tempo perdido... E o dinheiro que não se ganha quando se perde tempo. Nada é fácil. Não há em nada disto "conforto". E a "zona", oh, essa ainda é mais difícil de encontrar.

De novo escrevo de Angola. Procuro uma " zona de conforto ", entre ter os filhos em Lisboa e ter o marido a trabalhar neste pais. Não é possível conciliar tudo e encontrar uma " zona de conforto".

À procura de um tema para o blogue, sigo as notícias. De Portugal nada de novo. Ou melhor, tudo cada vez pior. A Troika continua a governar o pais e para mim, por mais repugnante que possa parecer, prefiro que seja essa entidade a fazê-lo do que os governantes que temos. Tentamos afastar os corruptos, mentirosos, e maus exemplos, para aparecerem outros piores. Prefiro mesmo que permaneçam fantoches, para não piorar mais o que já é irrecuperável, e ainda por cima, dando maus exemplos de ética e comportamento.

Ontem assisti a um espectáculo escandaloso: o Jornal das Nove de Mário Crespo. Parecia um programa de lavagem da imagem de Miguel Relvas. Bem sei que Relvas foi carregado nas palminhas das mãos de Mário Crespo para poder propagandear Passos Coelho nos "frente a frente" do mesmo programa. Ontem, este mesmo Jornal pareceu mais o jornal do Mário Crespo, do que um meio de compromisso para a informação e formação deontológica. MC permitiu a si mesmo longos minutos para defender o que chamou "uma tese" para defender um alto representante do governo que cometeu erros gravíssimos e puníveis da forma mais justa se acontecesse numa verdadeira democracia.

Criticamos os países africanos pela corrupção e conivência com interesses político-económicos. É mesmo nesses países que os Portugueses e não só, encontram "oportunidades". Não estou tão convencida no entanto, que a maioria consiga novas "zonas de conforto".

Nesta minha senda de uma "zona de conforto" olho para o meu país e para os seus governantes e pergunto-me se realmente percebem as consequências devastadoras dos seus exemplos para gente a quem dizem para sair da "zona de conforto" e olhar para a crise como uma "oportunidade".

No dia em que cheguei a Luanda entrei num apartamento onde tudo precisava de ser reposto, re-começado. O Sr.Costa, um homem de Viana do Castelo, apareceu com um rapaz angolano. Ambos trabalham para um empreiteiro. O Sr.Costa trabalhou muito, sempre com grande empenho e vontade de bem servir. Tem casa e família em Portugal. Passou o dia inteiro sem pedir nada para comer ou beber. A formação que tive não me permite receber sem oferecer algo. Havia pão e queijo e sumo. E todos comemos. De outra forma, trabalharia na mesma as 9 horas seguidas, como me disse.

Iguais a este, devem estar por cá muitos "Costas" que vieram à procura de "oportunidades" mas certamente não vão gozar de novas "zonas de conforto", pelo menos, não enquanto tiverem saúde e vida para o fazerem.

O último relatório da OCDE refere, entre outros factos importantes, o de Portugal ser um dos países onde o fosso entre ricos e pobres é dos mais significativos. Afinal, temos a infelicidade de estarmos neste momento em circunstâncias muito semelhantes aos dos países em desenvolvimento, nomeadamente os africanos, com a desoladora agravante de, em vez de anteciparmos qualquer tipo de desenvolvimento, vemos governantes tentando exercer o seu poder sobre órgãos de informação e sendo eles mesmos manipulados por interesses económicos, sem escrúpulos ou qualquer tipo de pudor.

FARANAZ KESHAVJEE www.expresso.pt

Repensar. Reflectir. Re-alocar. Re-alojar. Recomeçar tudo; outra vez. A família, a escola dos miúdos, as despesas que todos estes aspectos implicam, fora as despesas com toda a papelada para submeter uma candidatura a um visto, e o tempo perdido... E o dinheiro que não se ganha quando se perde tempo. Nada é fácil. Não há em nada disto "conforto". E a "zona", oh, essa ainda é mais difícil de encontrar.

De novo escrevo de Angola. Procuro uma " zona de conforto ", entre ter os filhos em Lisboa e ter o marido a trabalhar neste pais. Não é possível conciliar tudo e encontrar uma " zona de conforto".

À procura de um tema para o blogue, sigo as notícias. De Portugal nada de novo. Ou melhor, tudo cada vez pior. A Troika continua a governar o pais e para mim, por mais repugnante que possa parecer, prefiro que seja essa entidade a fazê-lo do que os governantes que temos. Tentamos afastar os corruptos, mentirosos, e maus exemplos, para aparecerem outros piores. Prefiro mesmo que permaneçam fantoches, para não piorar mais o que já é irrecuperável, e ainda por cima, dando maus exemplos de ética e comportamento.

Ontem assisti a um espectáculo escandaloso: o Jornal das Nove de Mário Crespo. Parecia um programa de lavagem da imagem de Miguel Relvas. Bem sei que Relvas foi carregado nas palminhas das mãos de Mário Crespo para poder propagandear Passos Coelho nos "frente a frente" do mesmo programa. Ontem, este mesmo Jornal pareceu mais o jornal do Mário Crespo, do que um meio de compromisso para a informação e formação deontológica. MC permitiu a si mesmo longos minutos para defender o que chamou "uma tese" para defender um alto representante do governo que cometeu erros gravíssimos e puníveis da forma mais justa se acontecesse numa verdadeira democracia.

Criticamos os países africanos pela corrupção e conivência com interesses político-económicos. É mesmo nesses países que os Portugueses e não só, encontram "oportunidades". Não estou tão convencida no entanto, que a maioria consiga novas "zonas de conforto".

Nesta minha senda de uma "zona de conforto" olho para o meu país e para os seus governantes e pergunto-me se realmente percebem as consequências devastadoras dos seus exemplos para gente a quem dizem para sair da "zona de conforto" e olhar para a crise como uma "oportunidade".

No dia em que cheguei a Luanda entrei num apartamento onde tudo precisava de ser reposto, re-começado. O Sr.Costa, um homem de Viana do Castelo, apareceu com um rapaz angolano. Ambos trabalham para um empreiteiro. O Sr.Costa trabalhou muito, sempre com grande empenho e vontade de bem servir. Tem casa e família em Portugal. Passou o dia inteiro sem pedir nada para comer ou beber. A formação que tive não me permite receber sem oferecer algo. Havia pão e queijo e sumo. E todos comemos. De outra forma, trabalharia na mesma as 9 horas seguidas, como me disse.

Iguais a este, devem estar por cá muitos "Costas" que vieram à procura de "oportunidades" mas certamente não vão gozar de novas "zonas de conforto", pelo menos, não enquanto tiverem saúde e vida para o fazerem.

O último relatório da OCDE refere, entre outros factos importantes, o de Portugal ser um dos países onde o fosso entre ricos e pobres é dos mais significativos. Afinal, temos a infelicidade de estarmos neste momento em circunstâncias muito semelhantes aos dos países em desenvolvimento, nomeadamente os africanos, com a desoladora agravante de, em vez de anteciparmos qualquer tipo de desenvolvimento, vemos governantes tentando exercer o seu poder sobre órgãos de informação e sendo eles mesmos manipulados por interesses económicos, sem escrúpulos ou qualquer tipo de pudor.

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