A dupla Passos Coelho/Miguel Relvas ressuscitou a tralha socrática!

11-10-2015
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Na SIC RADICAL, é transmitido um programa de comédia que retrata a vida e o perfil de um humorista egocêntrico, que embora não tenha talento nenhum, considera-se o comediante mais talentoso do mundo (o programa, já agora, chama-se mesmo " O Humorista"). Ora José Sócrates parece o "Humorista" - o homem levou Portugal à bancarrota (sim, porque convém recordar que mesmo com a aprovação do PEC IV, Portugal ficaria numa situação em que não teria dinheiro sequer para pagar aos funcionários públicos) mas apareceu hoje, volvidos dois anos, para continuar a defender as políticas que a História já considerou desastrosas - não houve um "pingo" de humildade, um acto de grandeza de reconhecimento de erros e da assunção da sua quota de responsabilidade na situação actual de Portugal. Nada disso: José Sócrates não aprendeu nada no curso de Ciência Política, excepto uma passagem da "Divina Comédia". Continua o mesmo político irascível, truculento, que não resiste à tentação de dominar os jornalistas.

Precisamente, quanto ao desempenho dos jornalistas, cumpre deixar aqui uma breve nota. Vítor Gonçalves e Paulo Ferreira estiveram francamente mal na primeira parte da entrevista, recuperando na parte final. De facto, na parte inicial aquilo não foi uma entrevista - foi um monólogo de José Sócrates, acompanhado por dois figurantes - com o pormenor pitoresco de Vítor Gonçalves, às tantas, virar-se para José Sócrates e candidamente dizer " vou-lhe fazer uma pergunta, para isto não parecer um monólogo". Depois, na parte final, Paulo Ferreira utilizou os seus vastos conhecimentos e experiência para fazer observações pertinentes e certeiras a José Sócrates.

Posto isto, passemos então a analisar o conteúdo da entrevista. Antes de mais, há que registar que não há nenhuma diferença entre o José Sócrates de hoje e o José Sócrates de quando era Primeiro-Ministro. Nenhuma. E José Sócrates, como político, tem dois traços característicos: primeiro, é uma pessoa que tem uma alergia à verdade - na minha terra, costuma-se chamar a tais pessoas um mentiroso; segundo, José Sócrates é um chico-esperto que percebe a lógica dos mecanismos da comunicação política contemporânea como ninguém. É sempre com estas duas reservas que devemos interpretar - sempre! - as intervenções políticas de José Sócrates.

Passos Coelho: o melhor aliado de José Sócrates!

Então, no meu entendimento, são de destacar três pontos da entrevista:

José Sócrates divulgou o seu caderno de encargos: entalar António José Seguro (primeiro) e Cavaco Silva (depois). Primeiro, entalar Seguro: percebe-se agora a entrada em cena e o timing dessa entrada. É muito curioso que a direcção da RTP se tenha lembrado de ir buscar José Sócrates precisamente neste momento em que o Governo está a morrer lentamente. Mas, vamos acreditar que José Sócrates é um homem de muita sorte e esta foi apenas (mais) uma coincidência feliz. Verdadeiramente, José Sócrates voltou à política portuguesa porque António Costa decidiu não se candidatar à liderança do PS, deixando os socráticos abandonados. Na falta de alguém que dê o corpo ao manifesto anti-Seguro, o patrono dos "socráticos" resolveu dar o corpo ao manifesto. O que mostra bem que José Sócrates jamais poderá ser um homem de Estado: o que o move é sempre uma vingançazinha, desta feita, com António José Seguro. E disse-o claramente, embora de forma subtil, na entrevista logo no início - efectivamente, José Sócrates afirmou que estava ali para defender a sua narrativa, pois entendia que a oposição não o fazia de forma convincente. Esta foi, sem margem para dúvidas, uma bofetada de luva branca a António José Seguro. Depois, já no final, José Sócrates cometeu a habilidade de dizer o que faria se fosse Primeiro-Ministro (sendo, neste ponto, evasivo, como seria de esperar: acabar com a austeridade!). Ora, se José Sócrates aponta o caminho que deve ser seguido, tal significa que o PS não o está a fazer devidamente. A partir de agora, sempre que José Sócrates lançar uma ideia e António José Seguro concordar, o que vai ficar é que José Sócrates condicionou, orientou o actual líder do PS. A História política portuguesa mostra que um líder partidário dificilmente se impõe se viver constantemente com um fantasma a espreitar.

Em segundo lugar, José Sócrates acabou por não explicar o ponto pelo qual deveria pedir desculpa aos portugueses. Às perguntas mais quentes, José Sócrates não respondeu - tergiversou ou mentiu. Por exemplo, José Sócrates não explicou por que razão, sabendo das dificuldades estruturais da economia portuguesa e dos níveis de endividamento do país, e gozando de uma maioria absoluta, não aproveitou as suas condições políticas excepcionais para empreender as reformas de que o Estado carecia. Se José Sócrates tivesse tido juízo, Portugal teria outra resistência face à crise financeira mundial. Mas não: José Sócrates optou por desbaratar os recursos públicos, sendo o promotor de PPP's verdadeiramente inúteis e beneficiando certos grupos económicos, inclusive nas tão famosas renováveis. Além disso, José Sócrates mentiu quando referiu que o aumento dos salários dos funcionários públicos e do salário mínimo nacional foram aceites pela oposição. Na altura, Manuela Ferreira Leite colocou reservas, sendo secundada por Miguel Frasquilho e Pacheco Pereira, que realçaram o carácter eleitoralista da medida.

A terceira nota prende-se com Cavaco Silva, mas pela dimensão dos problemas que levanta merece tratamento em texto autónomo.

Em conclusão, pergunta-se: falando José Sócrates quase como Primeiro-Ministro, num hipotético confronto entre Passos Coelho e José Sócrates, quem ganharia? Por muito que possa surpreender certas pessoas, para mim a resposta é óbvia: a maioria dos portugueses votaria em José Sócrates. E a ironia do destino é que o legado de Passos Coelho , um dia quando se fizer a história, será a revitalização do socratismo. A incompetência de Passos Coelho e o entusiasmo com que Miguel Relvas encarou a contratação de José Sócrates vão levar a que José Sócrates ainda seja um herói nacional...Há cada uma....

Notas: Vítor Gonçalves: 9 valores

Paulo Ferreira: 10 valores

José Sócrates: 11 valores - conseguiu o que pretendia com a entrevista.

Email: politicoesfera@gmail.com

Na SIC RADICAL, é transmitido um programa de comédia que retrata a vida e o perfil de um humorista egocêntrico, que embora não tenha talento nenhum, considera-se o comediante mais talentoso do mundo (o programa, já agora, chama-se mesmo " O Humorista"). Ora José Sócrates parece o "Humorista" - o homem levou Portugal à bancarrota (sim, porque convém recordar que mesmo com a aprovação do PEC IV, Portugal ficaria numa situação em que não teria dinheiro sequer para pagar aos funcionários públicos) mas apareceu hoje, volvidos dois anos, para continuar a defender as políticas que a História já considerou desastrosas - não houve um "pingo" de humildade, um acto de grandeza de reconhecimento de erros e da assunção da sua quota de responsabilidade na situação actual de Portugal. Nada disso: José Sócrates não aprendeu nada no curso de Ciência Política, excepto uma passagem da "Divina Comédia". Continua o mesmo político irascível, truculento, que não resiste à tentação de dominar os jornalistas.

Precisamente, quanto ao desempenho dos jornalistas, cumpre deixar aqui uma breve nota. Vítor Gonçalves e Paulo Ferreira estiveram francamente mal na primeira parte da entrevista, recuperando na parte final. De facto, na parte inicial aquilo não foi uma entrevista - foi um monólogo de José Sócrates, acompanhado por dois figurantes - com o pormenor pitoresco de Vítor Gonçalves, às tantas, virar-se para José Sócrates e candidamente dizer " vou-lhe fazer uma pergunta, para isto não parecer um monólogo". Depois, na parte final, Paulo Ferreira utilizou os seus vastos conhecimentos e experiência para fazer observações pertinentes e certeiras a José Sócrates.

Posto isto, passemos então a analisar o conteúdo da entrevista. Antes de mais, há que registar que não há nenhuma diferença entre o José Sócrates de hoje e o José Sócrates de quando era Primeiro-Ministro. Nenhuma. E José Sócrates, como político, tem dois traços característicos: primeiro, é uma pessoa que tem uma alergia à verdade - na minha terra, costuma-se chamar a tais pessoas um mentiroso; segundo, José Sócrates é um chico-esperto que percebe a lógica dos mecanismos da comunicação política contemporânea como ninguém. É sempre com estas duas reservas que devemos interpretar - sempre! - as intervenções políticas de José Sócrates.

Passos Coelho: o melhor aliado de José Sócrates!

Então, no meu entendimento, são de destacar três pontos da entrevista:

José Sócrates divulgou o seu caderno de encargos: entalar António José Seguro (primeiro) e Cavaco Silva (depois). Primeiro, entalar Seguro: percebe-se agora a entrada em cena e o timing dessa entrada. É muito curioso que a direcção da RTP se tenha lembrado de ir buscar José Sócrates precisamente neste momento em que o Governo está a morrer lentamente. Mas, vamos acreditar que José Sócrates é um homem de muita sorte e esta foi apenas (mais) uma coincidência feliz. Verdadeiramente, José Sócrates voltou à política portuguesa porque António Costa decidiu não se candidatar à liderança do PS, deixando os socráticos abandonados. Na falta de alguém que dê o corpo ao manifesto anti-Seguro, o patrono dos "socráticos" resolveu dar o corpo ao manifesto. O que mostra bem que José Sócrates jamais poderá ser um homem de Estado: o que o move é sempre uma vingançazinha, desta feita, com António José Seguro. E disse-o claramente, embora de forma subtil, na entrevista logo no início - efectivamente, José Sócrates afirmou que estava ali para defender a sua narrativa, pois entendia que a oposição não o fazia de forma convincente. Esta foi, sem margem para dúvidas, uma bofetada de luva branca a António José Seguro. Depois, já no final, José Sócrates cometeu a habilidade de dizer o que faria se fosse Primeiro-Ministro (sendo, neste ponto, evasivo, como seria de esperar: acabar com a austeridade!). Ora, se José Sócrates aponta o caminho que deve ser seguido, tal significa que o PS não o está a fazer devidamente. A partir de agora, sempre que José Sócrates lançar uma ideia e António José Seguro concordar, o que vai ficar é que José Sócrates condicionou, orientou o actual líder do PS. A História política portuguesa mostra que um líder partidário dificilmente se impõe se viver constantemente com um fantasma a espreitar.

Em segundo lugar, José Sócrates acabou por não explicar o ponto pelo qual deveria pedir desculpa aos portugueses. Às perguntas mais quentes, José Sócrates não respondeu - tergiversou ou mentiu. Por exemplo, José Sócrates não explicou por que razão, sabendo das dificuldades estruturais da economia portuguesa e dos níveis de endividamento do país, e gozando de uma maioria absoluta, não aproveitou as suas condições políticas excepcionais para empreender as reformas de que o Estado carecia. Se José Sócrates tivesse tido juízo, Portugal teria outra resistência face à crise financeira mundial. Mas não: José Sócrates optou por desbaratar os recursos públicos, sendo o promotor de PPP's verdadeiramente inúteis e beneficiando certos grupos económicos, inclusive nas tão famosas renováveis. Além disso, José Sócrates mentiu quando referiu que o aumento dos salários dos funcionários públicos e do salário mínimo nacional foram aceites pela oposição. Na altura, Manuela Ferreira Leite colocou reservas, sendo secundada por Miguel Frasquilho e Pacheco Pereira, que realçaram o carácter eleitoralista da medida.

A terceira nota prende-se com Cavaco Silva, mas pela dimensão dos problemas que levanta merece tratamento em texto autónomo.

Em conclusão, pergunta-se: falando José Sócrates quase como Primeiro-Ministro, num hipotético confronto entre Passos Coelho e José Sócrates, quem ganharia? Por muito que possa surpreender certas pessoas, para mim a resposta é óbvia: a maioria dos portugueses votaria em José Sócrates. E a ironia do destino é que o legado de Passos Coelho , um dia quando se fizer a história, será a revitalização do socratismo. A incompetência de Passos Coelho e o entusiasmo com que Miguel Relvas encarou a contratação de José Sócrates vão levar a que José Sócrates ainda seja um herói nacional...Há cada uma....

Notas: Vítor Gonçalves: 9 valores

Paulo Ferreira: 10 valores

José Sócrates: 11 valores - conseguiu o que pretendia com a entrevista.

Email: politicoesfera@gmail.com

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