Descubra as diferençasentre Ricardo Salgado e Henrique Figueira da Silva

17-11-2014
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Descubra as diferençasentre Ricardo Salgado e Henrique Figueira da Silva

Carla Castro

15 Nov 2014

Salazar transformou o maior banco da Madeira em “banco mau”. A falência lançou no desespero mais de nove mil depositantes.

Bancos sólidos e insuspeitos a falir. O governo a separar as águas: banco bom e banco mau. Milhares de cidadãos que ficam sem as suas poupanças. Não, não estamos a falar da actualidade nem do BES ou de Ricardo Salgado, mas sim da Madeira, na primeira metade do século XX, e de como Henrique Figueira da Silva viu o seu banco, o maior da região na altura, abrir falência. "Salazar, contra todas as normas legais e técnicas, definiu à partida um conjunto de bancos falidos bons (a casa bancária Sardinha & Cª, o Banco da Madeira e a casa bancária Rodrigues Irmãos e Cª) para "reconstituir", ou seja, para apoiar pelo Estado, e o banco falido mau (a casa bancária Henrique Figueira da Silva) para liquidar", resume João Abel de Freitas ao Económico sobre a história que conta no seu novo livro "Salazar na crise da banca madeirense". O período de liquidação acabou por ir além da II Guerra Mundial e os 9.403 depositantes apenas foram ressarcidos, faseadamente, de 38% dos depósitos.

Na altura, o montante dos depósitos nos 13 a 15 bancos que havia na Madeira ocupava a terceira posição, a seguir a Lisboa e Porto. As divisas entravam em grande quantidade devido à emigração, turismo e às exportações de bordados, vinho Madeira, obras de vime e alguns produtos agrícolas.

Salazar tinha dito que não interviria directamente, mas faria um empréstimo a 20 anos através da Caixa Geral de Depósitos, única entidade estatal. O que fez, conta João Abel Freitas, foi criar um novo banco (1933), o novo Banco da Madeira, "como resultado dos três bancos salvos". O economista escreve que a solução encontrada por Salazar foi "desastrada" , "resultante de intrigas políticas" locais dos seus amigos. Ninguém de bom senso, ainda hoje, entende por que motivo na reconstituição da banca madeirense ficou de fora a Henrique Figueira da Silva, "até porque potenciava as maiores e melhores condições de sucesso para um banco regional", afirma.

As consequências desta falência tiveram "um impacto incalculável na economia local porque não só era a maior (os seus depósitos atingiam cerca de 72 mil contos, enquanto o segundo banco melhor posicionado, a casa Sardinha, detinha apenas 15.900 contos) como a sua inserção no tecido empresarial da Madeira era muito forte", afirma. Este banco tinha no seu património as melhores empresas de produção e de exportação e até algumas do turismo, muitas delas vendidas em hasta pública durante o período de liquidação por um quarto do seu valor. Um caso exemplar deste descalabro foi a fábrica de São Filipe vendida por quatro mil contos quando o seu valor ascendia a mais de 16 mil contos. Além disso, esta crise gerou um "empobrecimento dos madeirenses em geral, incluindo um número significativo de emigrantes que assistiram à perda quase total das suas poupanças", acrescenta o autor.

Semelhanças com os casos BES e BPN

As semelhanças com a actualidade são enormes, defende João Abel de Freitas. E atribui culpas tanto ao governo de Salazar da altura como ao actual.

"Salazar não antecipou a crise da banca madeirense quando havia indícios de que nem tudo corria bem. O governo actual em relação ao BES fez o mesmo quando havia informação fidedigna de que todo o grupo estava com problemas sérios", sublinha. Porque não agiu atempadamente é a grande questão. "Esperemos que o inquérito parlamentar e a Justiça apurem os fundamentos desta actuação negligente. E que a Justiça não demore tanto tempo quanto demorou a liquidação da Henrique Figueira da Silva", acrescenta ironicamente o economista. E chega mesmo a dizer: "Se a intervenção no BES foi má, no BPN também não foi a melhor".

João Abel de Freitas admite que "o governo tenha ‘descansado' sobre a imagem da capacidade e competência dos principais gestores do império BES em resolver uma situação que de há muito se sabia estar embaraçada e difícil". Até porque, acrescenta, "o BES era um mundo que se descomandou entrando em pleno descontrolo e o governo não teve competência, nem conhecimento, nem estratégia para agir".

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Carla Castro

15 Nov 2014

Salazar transformou o maior banco da Madeira em “banco mau”. A falência lançou no desespero mais de nove mil depositantes.

Bancos sólidos e insuspeitos a falir. O governo a separar as águas: banco bom e banco mau. Milhares de cidadãos que ficam sem as suas poupanças. Não, não estamos a falar da actualidade nem do BES ou de Ricardo Salgado, mas sim da Madeira, na primeira metade do século XX, e de como Henrique Figueira da Silva viu o seu banco, o maior da região na altura, abrir falência. "Salazar, contra todas as normas legais e técnicas, definiu à partida um conjunto de bancos falidos bons (a casa bancária Sardinha & Cª, o Banco da Madeira e a casa bancária Rodrigues Irmãos e Cª) para "reconstituir", ou seja, para apoiar pelo Estado, e o banco falido mau (a casa bancária Henrique Figueira da Silva) para liquidar", resume João Abel de Freitas ao Económico sobre a história que conta no seu novo livro "Salazar na crise da banca madeirense". O período de liquidação acabou por ir além da II Guerra Mundial e os 9.403 depositantes apenas foram ressarcidos, faseadamente, de 38% dos depósitos.

Na altura, o montante dos depósitos nos 13 a 15 bancos que havia na Madeira ocupava a terceira posição, a seguir a Lisboa e Porto. As divisas entravam em grande quantidade devido à emigração, turismo e às exportações de bordados, vinho Madeira, obras de vime e alguns produtos agrícolas.

Salazar tinha dito que não interviria directamente, mas faria um empréstimo a 20 anos através da Caixa Geral de Depósitos, única entidade estatal. O que fez, conta João Abel Freitas, foi criar um novo banco (1933), o novo Banco da Madeira, "como resultado dos três bancos salvos". O economista escreve que a solução encontrada por Salazar foi "desastrada" , "resultante de intrigas políticas" locais dos seus amigos. Ninguém de bom senso, ainda hoje, entende por que motivo na reconstituição da banca madeirense ficou de fora a Henrique Figueira da Silva, "até porque potenciava as maiores e melhores condições de sucesso para um banco regional", afirma.

As consequências desta falência tiveram "um impacto incalculável na economia local porque não só era a maior (os seus depósitos atingiam cerca de 72 mil contos, enquanto o segundo banco melhor posicionado, a casa Sardinha, detinha apenas 15.900 contos) como a sua inserção no tecido empresarial da Madeira era muito forte", afirma. Este banco tinha no seu património as melhores empresas de produção e de exportação e até algumas do turismo, muitas delas vendidas em hasta pública durante o período de liquidação por um quarto do seu valor. Um caso exemplar deste descalabro foi a fábrica de São Filipe vendida por quatro mil contos quando o seu valor ascendia a mais de 16 mil contos. Além disso, esta crise gerou um "empobrecimento dos madeirenses em geral, incluindo um número significativo de emigrantes que assistiram à perda quase total das suas poupanças", acrescenta o autor.

Semelhanças com os casos BES e BPN

As semelhanças com a actualidade são enormes, defende João Abel de Freitas. E atribui culpas tanto ao governo de Salazar da altura como ao actual.

"Salazar não antecipou a crise da banca madeirense quando havia indícios de que nem tudo corria bem. O governo actual em relação ao BES fez o mesmo quando havia informação fidedigna de que todo o grupo estava com problemas sérios", sublinha. Porque não agiu atempadamente é a grande questão. "Esperemos que o inquérito parlamentar e a Justiça apurem os fundamentos desta actuação negligente. E que a Justiça não demore tanto tempo quanto demorou a liquidação da Henrique Figueira da Silva", acrescenta ironicamente o economista. E chega mesmo a dizer: "Se a intervenção no BES foi má, no BPN também não foi a melhor".

João Abel de Freitas admite que "o governo tenha ‘descansado' sobre a imagem da capacidade e competência dos principais gestores do império BES em resolver uma situação que de há muito se sabia estar embaraçada e difícil". Até porque, acrescenta, "o BES era um mundo que se descomandou entrando em pleno descontrolo e o governo não teve competência, nem conhecimento, nem estratégia para agir".

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