Senha para a liberdade

10-09-2015
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São dias com desespero - como só podem ser os dias em que 17% dos portugueses e mais de 40% dos jovens estão desempregados. São dias com medo - porque é medo que provoca um primeiro-ministro que descreve o encerramento de empresas em massa como selecção natural, em última instância benéfica para a economia. E são dias de raiva - porque só a raiva pode nascer quando nos governa quem dizia que a culpa era de um país que vivia acima das possibilidades e de um Estado que asfixiava com as suas gorduras, e prometeu que mudando o governo acabava a crise.

Mas estes dias também são - e isto tem de preocupar quem defende a democracia que nasceu ao som dos passos sobre a gravilha que abrem a maravilhosa canção de Zeca Afonso - dias em que os gritos de protesto contra o governo estão muitas vezes em coro com gritos contra a política, contra os políticos, contra os eleitos e tantas vezes contra as eleições. Relvas pode merecer ouvir cantar a igualdade, porque o discurso contra as prestações sociais é contra a democracia e contra a constituição. A Paulo Macedo pode fazer falta ouvir cantar que o povo é quem mais ordena, porque o SNS é uma conquista de que os portugueses não querem abdicar. Mas os protestos não podem ser acusações de "ladrões" e de "assassinos". E estes acordes não podem ser uma forma de impedir as pessoas de falar, ou uma forma de ameaçar e perseguir.

"Grândola, Vila Morena" foi escolhida como senha para a liberdade. A sua utilização em protestos e como símbolo de desespero e de indignação é legítima e faz sentido. Mas ela não pode representar, como tem parecido nestes dias não normais, uma forma de ódio e de boicote, até à expressão de outros. Ou estaremos a usar o que foi uma senha para a liberdade e para a democracia como sanha contra a política e, portanto, contra a própria liberdade.

São dias com desespero - como só podem ser os dias em que 17% dos portugueses e mais de 40% dos jovens estão desempregados. São dias com medo - porque é medo que provoca um primeiro-ministro que descreve o encerramento de empresas em massa como selecção natural, em última instância benéfica para a economia. E são dias de raiva - porque só a raiva pode nascer quando nos governa quem dizia que a culpa era de um país que vivia acima das possibilidades e de um Estado que asfixiava com as suas gorduras, e prometeu que mudando o governo acabava a crise.

Mas estes dias também são - e isto tem de preocupar quem defende a democracia que nasceu ao som dos passos sobre a gravilha que abrem a maravilhosa canção de Zeca Afonso - dias em que os gritos de protesto contra o governo estão muitas vezes em coro com gritos contra a política, contra os políticos, contra os eleitos e tantas vezes contra as eleições. Relvas pode merecer ouvir cantar a igualdade, porque o discurso contra as prestações sociais é contra a democracia e contra a constituição. A Paulo Macedo pode fazer falta ouvir cantar que o povo é quem mais ordena, porque o SNS é uma conquista de que os portugueses não querem abdicar. Mas os protestos não podem ser acusações de "ladrões" e de "assassinos". E estes acordes não podem ser uma forma de impedir as pessoas de falar, ou uma forma de ameaçar e perseguir.

"Grândola, Vila Morena" foi escolhida como senha para a liberdade. A sua utilização em protestos e como símbolo de desespero e de indignação é legítima e faz sentido. Mas ela não pode representar, como tem parecido nestes dias não normais, uma forma de ódio e de boicote, até à expressão de outros. Ou estaremos a usar o que foi uma senha para a liberdade e para a democracia como sanha contra a política e, portanto, contra a própria liberdade.

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