"Não sou cego, surdo ou mudo". E és cigarra ou formiga?

08-10-2015
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Tinha planos de marcar a minha 'rentrée' no blogue, após longa ausência em viagem por terras luso-africanas, com histórias que pretendo contar. Mas para já, não posso deixar de fazer uma observação sobre este paradigma da ignorância xenófoba e anti-pluralista, inteiramente desprezável e nojenta que reflecte o que disse Passos Coelho na Assembleia da República a semana passada.

Ao ouvir o 1º Ministro do meu pais dizer que "não sou cego, nem surdo, nem mudo" fico não só perplexa e profundamente ofendida como enojada por ter à cabeça dos nossos destinos um ser tão pequeno, de vistas tão curtas, e tão cruel.

Não podemos esperar nada de bom de gente assim. Gente que não conhece o mundo real, o mundo dos que precisam de ainda maior ajuda e integração social do que os 'desempregados', 'idosos', 'pensionistas'.

No meio da desgraça que são já esses, onde ficam os cidadãos com necessidades especiais, como os cegos, surdos, mudos, e outros?

Sabe, Sr.Ministro? Sabe o que se passa na vida destas pessoas e das pessoas que têm de os levar ao colo a vida inteira até morrer, e o que do outro lado, os que dependem deles, de gente 'normal', sentem como humilhação e eterna inferioridade? Se não sabe, devia procurar saber. É o dever de um governante em quem o Povo Português confiou para que o representasse. Eu vi muitos desses cidadãos subirem rampas e decifrarem linguagens diferentes da sua para votar. Alguns devem ter votado em si...!

Tenho familiares e amigos precisamente com este tipo de caracteristicas. Sei o que vivem porque oiço e leio o que escrevem, falam e gestualizam. Sei como se exprimem e conheço as dificuldades com que tentam ser pessoas, como todos nós. Sei como são explorados nos empregos precários. Sei que passam a ferro por 50 euros/mês, sei que são cabeleireiros e pasteleiros a trabalhar 12 horas ao dia a receber o ordenado mínimo nacional e que facturam pelo brio do seu trabalho, uma 'pipa' de massa... e outros que por negligência e abusos em locais e trabalho, tiveram de ser levados pelos pais para casa, e depender dos seus parcos rendimentos. E muitos deles casam e têm filhos...lindos... que vão carregar o pesos de serem filhos de filhos de um deus menor!

Ninguém fala deles! Impressionante! São a precaridade dentro da precaridade, a minoria das minorias desprezadas e invisibilizadas... Sim, porque sabemos que existem, mas não queremos ver, nem queremos ouvi-los.

Incluimos mulheres deputadas como representantes do povo. Para representação do Povo Real precisamos de muito mais do que essa linda fachada. Precisamos de um verdadeiro parlamento Plural e Paritário. Se assim fosse os nossos governantes teriam maior atenção no uso da retórica. E certamente, nas medidas que propõem para uma verdadeira Democracia.

E para azedar ainda mais as relações entre governantes e governados, Miguel Macedo vem dar lições de moral à La Fontaine, sem estupidamente perceber que já todos percebemos onde estão as cigarras e as formigas e quem 'come tudo, e não deixa nada'! Cuidado que a ganância e a ignorância podem levar ao destino semelhante ao do João Ratão, que caiu no Caldeirão...

Na proxima marcha de protesto juntar-me-ei aos "cegos, surdos, mudos" e a outros diferentes e apelo que o façamos juntos.

Tinha planos de marcar a minha 'rentrée' no blogue, após longa ausência em viagem por terras luso-africanas, com histórias que pretendo contar. Mas para já, não posso deixar de fazer uma observação sobre este paradigma da ignorância xenófoba e anti-pluralista, inteiramente desprezável e nojenta que reflecte o que disse Passos Coelho na Assembleia da República a semana passada.

Ao ouvir o 1º Ministro do meu pais dizer que "não sou cego, nem surdo, nem mudo" fico não só perplexa e profundamente ofendida como enojada por ter à cabeça dos nossos destinos um ser tão pequeno, de vistas tão curtas, e tão cruel.

Não podemos esperar nada de bom de gente assim. Gente que não conhece o mundo real, o mundo dos que precisam de ainda maior ajuda e integração social do que os 'desempregados', 'idosos', 'pensionistas'.

No meio da desgraça que são já esses, onde ficam os cidadãos com necessidades especiais, como os cegos, surdos, mudos, e outros?

Sabe, Sr.Ministro? Sabe o que se passa na vida destas pessoas e das pessoas que têm de os levar ao colo a vida inteira até morrer, e o que do outro lado, os que dependem deles, de gente 'normal', sentem como humilhação e eterna inferioridade? Se não sabe, devia procurar saber. É o dever de um governante em quem o Povo Português confiou para que o representasse. Eu vi muitos desses cidadãos subirem rampas e decifrarem linguagens diferentes da sua para votar. Alguns devem ter votado em si...!

Tenho familiares e amigos precisamente com este tipo de caracteristicas. Sei o que vivem porque oiço e leio o que escrevem, falam e gestualizam. Sei como se exprimem e conheço as dificuldades com que tentam ser pessoas, como todos nós. Sei como são explorados nos empregos precários. Sei que passam a ferro por 50 euros/mês, sei que são cabeleireiros e pasteleiros a trabalhar 12 horas ao dia a receber o ordenado mínimo nacional e que facturam pelo brio do seu trabalho, uma 'pipa' de massa... e outros que por negligência e abusos em locais e trabalho, tiveram de ser levados pelos pais para casa, e depender dos seus parcos rendimentos. E muitos deles casam e têm filhos...lindos... que vão carregar o pesos de serem filhos de filhos de um deus menor!

Ninguém fala deles! Impressionante! São a precaridade dentro da precaridade, a minoria das minorias desprezadas e invisibilizadas... Sim, porque sabemos que existem, mas não queremos ver, nem queremos ouvi-los.

Incluimos mulheres deputadas como representantes do povo. Para representação do Povo Real precisamos de muito mais do que essa linda fachada. Precisamos de um verdadeiro parlamento Plural e Paritário. Se assim fosse os nossos governantes teriam maior atenção no uso da retórica. E certamente, nas medidas que propõem para uma verdadeira Democracia.

E para azedar ainda mais as relações entre governantes e governados, Miguel Macedo vem dar lições de moral à La Fontaine, sem estupidamente perceber que já todos percebemos onde estão as cigarras e as formigas e quem 'come tudo, e não deixa nada'! Cuidado que a ganância e a ignorância podem levar ao destino semelhante ao do João Ratão, que caiu no Caldeirão...

Na proxima marcha de protesto juntar-me-ei aos "cegos, surdos, mudos" e a outros diferentes e apelo que o façamos juntos.

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