As Causas. Sadomasoquismo ao centro

16-09-2020
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BAZOOKA NA MÃO E PSD NO BOLSO

A expressão é do jornalista Filipe Santos Costa. O sucesso de uma expressão de síntese é retratar sem necessidade de palavras. Esta é excelente. Por isso não vale a pena fazer perder o vosso tempo para explicar porque é assim.

Mas convém tentar perceber as causas e antecipar as consequências.

Quanto às causas: António Costa sabe algumas coisas, mas não consegue antecipar tudo: a crise pandémica vai durar muito ou pouco? O dinheiro da Europa vai começar rápido a chegar ou não?

Se soubesse tudo isso, podia ter uma estratégia clara, ainda que a não revelasse. Assim é muito difícil.

Se no Inverno a pandemia explodir e se o dinheiro da Europa demorar a chegar, deveria ter metido o PSD no barco de forma mais consistente.

Mas se o Inverno for suave e o dinheiro começar a chegar rapidamente, a tentação é grande de continuar em concubinatos vários, tratando pior quem mais quer casar, como é habitual com marialvas políticos.

Dizer publicamente de um amante, com quem anda enrolado, que “não tem peste”, mas “é velho do Restelo”, não é bonito; e o amante não desistir revela uma relação sadomasoquista que dava um filme.

É verdade, como há muito tempo refiro, que para casar com o PSD, o PS tem antes de dar a impressão à família que queria casar com o BE e o PCP e que foram estes a recusar. Mas escusava de exagerar a achincalhar tanto o PSD pois pode acabar sozinho.

Seja como for, a situação além de pouco saudável é perigosa para o PS.

As sondagens são boas, é verdade. Mas não devem sossegar António Costa: no auge do apoio popular típico de tempos de crise (73% têm boa ou muito boa imagem do governo!), com Marcelo cúmplice, com os discursos radicais a passarem mal, com o PSD como se sabe, apesar disso o PS cresce apenas de 36,3% nas eleições de 2019 para menos de 40% (ou seja, quase 10%) agora.

Em comparação os partidos à sua direita crescem de 34,4% para 39% (ou seja, mais de 13%, ainda que todo o aumento seja feito pelo Chega e um pouco pela Iniciativa Liberal) … e os amantes geringôncicos caem de mais de 20% para 16% (menos 20%).

Um líder mais pessimista já estaria a tratar de preparar os papéis para o casório com a amante mais adequada para estes tempos. É que, como bem explica António Barreto no Público este domingo, com este BE a apoiar o Governo ia ser difícil atrair investidores.

Mas o “otimismo irritante” de Costa leva-o a hesitar, o que pode ainda pregar-lhe uma partida. Sobretudo alguém com o feitio de Rui Rio…

O SADOMASOQUISMO DURA SEMPRE?

Não há dúvida para onde olha o coração de Rio e qual é a pulsão do PSD institucional que não se conforma em ficar na oposição até 2027.

Não há relação sadomasoquista com sucesso se os parceiros não gostarem de coisas opostas.

Não tenho experiência, mas imagino que um masoquista goste mais de sofrer e de ser maltratado do que um sádico. E o masoquista aqui é Rui Rio.

Não sei se um masoquista é mais pessimista do que um sádico. Mas indubitavelmente que Costa nesta relação não é o pessimista.

Por isso o líder do PSD quando tem insónias concorda com Costa: o PS pode conseguir governar sozinho até 2027. O que atormenta o PSD e – mesmo que não seja masoquista – explica a resignação com que Rio é insultado, por exemplo logo no dia seguinte a ter feito um frete ao Primeiro Ministro de evitar debates no Parlamento.

Mas até um masoquista pode achar demais ser tão agredido por um sádico. E o feitio de Rio ajuda: de um dia para o outro, ele pode ter uma epifania e descobrir que deve liderar a Direita, mesmo com o Chega incluído.

Não será para já, pode até ser apenas a seguir às eleições autárquicas; mas pode estar a tornar-se uma obsessão, mesmo que ainda se não revele aos pobres mortais que somos nós, os banais portugueses normais.

BLOCO CENTRAL OU BLOCO DE DIREITA?

A hesitação é clássica no PSD: a sua missão histórica é moderar o PS ou liderar uma alternativa com toda a Direita?

Desde fevereiro deste ano que antecipo a necessidade do bloco central. As razões eram para mim óbvias mesmo antes da pandemia. Agora, como é evidente, são mais fortes.

Basta recordar três razões: um governo com grande base de apoio pode arriscar ter os melhores ministros, um minoritário só sobrevive com os que têm fidelidade canina ao chefe. Quem paga o preço das más escolhas é o Zé Povinho…

Para tudo correr bem, é essencial a ideia de estabilidade governativa, e um governo minoritário não consegue convencer disso ninguém.

Os desafios que vamos enfrentar exigem reformas que demorarão anos a ter sucesso; ninguém as iniciará se a oposição puder derrubar o governo um ano depois.

Eu conheço os riscos dos blocos centrais. Não ouso dizer que os conheço melhor do que ninguém, mas sem dúvida que pelo menos os refiro há mais tempo do que todos, pois comecei a lutar publicamente contra o modelo há mais de 40 anos.

Mas a política é a arte de escolher entre males relativos e não entre bens absolutos. Não tenho dúvida que a tendência atual é para se formarem três blocos em Portugal, com ou sem bloco central: tal como estão as coisas agora, uma esquerda radical com 15 a 25%, uma direita (radical e/ou liberal) com 20 a 25% e um centro dominador.

O centro dominador pode ser um pântano ou um projeto de reformas moderadas que nos tragam para o século XXI. Acho que se o centro for algo plural ideologicamente, que alie os mais socializantes dos meios urbanos e do Sul com os mais conservadores dos meios mais tradicionais e do Norte, haverá condições para um consenso forte e que – sobretudo – corresponde ao atual eleitorado de Rebelo de Sousa.

Preocupam-me os populismos de esquerda e de direita que podem crescer? Claro que sim.

Mas à esquerda os “Realos” (que devem existir, ainda que por enquanto se não notem…), se o BE for para a oposição nos próximos anos, podem aprender e com isso ganhar a batalha no BE contra os “Refuseniks”, como ocorreu com os Verdes Alemães; e daqui a uns anos o PS e um renovado BE talvez possam ser uma forte esquerda moderada.

E à Direita pode finalmente nascer uma força liberal e moderada, se houver um líder, repetindo o que Gladstone fez no Reino Unido com os liberais no século XIX, Ernest Bevin com o movimento sindical no século XX, De Gaulle depois de 1958 e entre nós Mário Soares, com o PS nos anos 70 antes e depois do 25 de abril, e Sá Carneiro com a Direita democrática anos depois.

Para isso falta realmente um líder. E não parece que Xicão, Mayan, Cotrim ou putativos dissidentes do PSD o sejam. Talvez, mas não esqueçam Passos Coelho que Francisco Assis, sempre corajoso e independente, foi capaz de elogiar.

O DIREITO DE RESISTÊNCIA NA EDUCAÇÃO

A história é conhecida. Um pai, no Norte, recusou que os seus filhos menores, excelentes alunos, frequentassem a nova cadeira de “Cidadania” (uma espécie de “Organização Política e Administrativa da Nação”. Também obrigatória, inventada pela dominante ideologia que gravita entre professores e tem o BE como eixo), e o resultado são dois anos de reprovação.

Sou muito libertário (e até, reconheço, um pouco anarquista); admiro a coragem dos que seguem as suas convicções, “no matter what”. E sempre odiei ver o Estado a possuir e de modo prosélito impor uma ideologia.

Mas também sou um institucionalista e nunca esqueço que o sistema democrático existe também para impedir revoltas e permitir mudanças serenas.

Por isso discordo do direito de resistência individual, mesmo se heroico. As revoltas pessoais como atos isolados são inúteis.

O que sempre me admira em quem assume valores distintos, como ocorre neste caso, é a recusa em usar os instrumentos da democracia no seu combate: façam petições, abordem os deputados e autarcas da vossa região, escrevam nos media e nas redes sociais, mobilizem a opinião pública, condicionem o voto nos partidos que não defendam um programa de Cidadania mais “mainstream” ou que recusem o direito de escolha de programas alternativos pelos pais. No fundo demonstrem o que é e como é essencial a Cidadania entendida como um quadro pluralista, aberto e não habitado por pensamento único, sempre totalitário.

O ELOGIO

A Sérgio Sousa Pinto, por ser como é, e em concreto por uma entrevista ao Público do passado sábado.

Vivemos tempos de ditaduras manhosas, em que para dizer “não” ou até apenas “talvez não” é preciso coragem. Sei do que falo e não sou quadro político. Admiro cada vez mais os políticos que recusam ser amanuenses, carneiros, verbos de encher.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Bernard-Henry Levy é expressão do que melhor tem a intelligentsia francesa. Publicou um livro (em Portugal com edição da Relógio de Água) com o título “Este vírus que nos enlouquece” e entre outras deu ao Expresso uma entrevista corajosa, inteligente e culta sobre o “pânico da pandemia” que desde abril aqui estigmatizei, durante semanas praticamente sozinho.

Nunca seria capaz de o dizer tão bem, mas revi-me praticamente em tudo o que escreve e diz.

Vem aí seguramente, mais cedo ou mais tarde, a segunda vaga da covid-19. O texto de Levy deveria ser uma bíblia para quem vai ser pressionado a fechar de novo o País. Leiam. Ao menos a entrevista.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

O espaço público e político está cheio de notícias sobre vendas com valor descontado de ativos imobiliários do “banco bom” que circula com o nome comercial de Novo Banco, a última das quais fez manchete no Público de hoje.

A teoria prevalecente nos media é que se trata de negócios fraudulentos da acionista Lone Star, que vende ao desbarato o que são ativos sólidos (ou não teriam ficado no “banco bom”) que só melhoraram até à pandemia devido à bolha imobiliária que se viveu em partes do País.

E pior, diz-se que vende a amigos, financia os compradores e pelo caminho o Fundo de Resolução (que vive de pagamentos dos bancos nacionais e é financiado com os nossos impostos) paga as alegadas perdas.

Não sabemos se os ativos por acumulação de juros e capital não pago de empréstimos estavam sobrevalorizados ou se há fraudes.

O NB diz que tudo isto se passou há 2 anos (o que leva a perguntar porquê então só nasce agora), que as perdas não saem dos nossos impostos e que o Fundo de Resolução tudo aprovou.

Apesar da exceção de hoje, a estratégia de comunicação do NB é o silêncio ou um linguajar tecnocrático que é impercetível.

A pergunta é simples: a reputação da Lone Star e do NB não justificaria um pouco mais de diligência? Não seria, por exemplo, uma boa ideia o Fundo Resolução (ele próprio a sofrer danos reputacionais) e a Lone Star nomearem uma comissão de análise independente para fazer um relatório que explicasse o que se passa?

Ou preferem que o MP abra um inquérito criminal e daqui a 6 anos se chegue a algumas conclusões?

A LOUCURA MANSA

As Faculdades de Medicina e a Ordem dos Médicos recusam aumentar as vagas nos cursos e são contra a abertura de faculdades de medicina, como a que a Universidade Católica vem tentando.

Ao mesmo tempo querem reforço do SNS e nenhum médico concorreu para 60 vagas no Verão no Algarve.

A teoria é que cursos de medicina são caros, temos médicos a mais e o resultado seria gastar dinheiro para os exportar depois.

O argumento parece tonto e, se aplicado em geral, outras profissões queriam por certo o mesmo e teriam os mesmos argumentos. E, já agora, não vêm que isto parece o condicionamento industrial do tempo do salazarismo? E se há universidades não estatais a quererem avançar, acham que é para perder dinheiro?

BAZOOKA NA MÃO E PSD NO BOLSO

A expressão é do jornalista Filipe Santos Costa. O sucesso de uma expressão de síntese é retratar sem necessidade de palavras. Esta é excelente. Por isso não vale a pena fazer perder o vosso tempo para explicar porque é assim.

Mas convém tentar perceber as causas e antecipar as consequências.

Quanto às causas: António Costa sabe algumas coisas, mas não consegue antecipar tudo: a crise pandémica vai durar muito ou pouco? O dinheiro da Europa vai começar rápido a chegar ou não?

Se soubesse tudo isso, podia ter uma estratégia clara, ainda que a não revelasse. Assim é muito difícil.

Se no Inverno a pandemia explodir e se o dinheiro da Europa demorar a chegar, deveria ter metido o PSD no barco de forma mais consistente.

Mas se o Inverno for suave e o dinheiro começar a chegar rapidamente, a tentação é grande de continuar em concubinatos vários, tratando pior quem mais quer casar, como é habitual com marialvas políticos.

Dizer publicamente de um amante, com quem anda enrolado, que “não tem peste”, mas “é velho do Restelo”, não é bonito; e o amante não desistir revela uma relação sadomasoquista que dava um filme.

É verdade, como há muito tempo refiro, que para casar com o PSD, o PS tem antes de dar a impressão à família que queria casar com o BE e o PCP e que foram estes a recusar. Mas escusava de exagerar a achincalhar tanto o PSD pois pode acabar sozinho.

Seja como for, a situação além de pouco saudável é perigosa para o PS.

As sondagens são boas, é verdade. Mas não devem sossegar António Costa: no auge do apoio popular típico de tempos de crise (73% têm boa ou muito boa imagem do governo!), com Marcelo cúmplice, com os discursos radicais a passarem mal, com o PSD como se sabe, apesar disso o PS cresce apenas de 36,3% nas eleições de 2019 para menos de 40% (ou seja, quase 10%) agora.

Em comparação os partidos à sua direita crescem de 34,4% para 39% (ou seja, mais de 13%, ainda que todo o aumento seja feito pelo Chega e um pouco pela Iniciativa Liberal) … e os amantes geringôncicos caem de mais de 20% para 16% (menos 20%).

Um líder mais pessimista já estaria a tratar de preparar os papéis para o casório com a amante mais adequada para estes tempos. É que, como bem explica António Barreto no Público este domingo, com este BE a apoiar o Governo ia ser difícil atrair investidores.

Mas o “otimismo irritante” de Costa leva-o a hesitar, o que pode ainda pregar-lhe uma partida. Sobretudo alguém com o feitio de Rui Rio…

O SADOMASOQUISMO DURA SEMPRE?

Não há dúvida para onde olha o coração de Rio e qual é a pulsão do PSD institucional que não se conforma em ficar na oposição até 2027.

Não há relação sadomasoquista com sucesso se os parceiros não gostarem de coisas opostas.

Não tenho experiência, mas imagino que um masoquista goste mais de sofrer e de ser maltratado do que um sádico. E o masoquista aqui é Rui Rio.

Não sei se um masoquista é mais pessimista do que um sádico. Mas indubitavelmente que Costa nesta relação não é o pessimista.

Por isso o líder do PSD quando tem insónias concorda com Costa: o PS pode conseguir governar sozinho até 2027. O que atormenta o PSD e – mesmo que não seja masoquista – explica a resignação com que Rio é insultado, por exemplo logo no dia seguinte a ter feito um frete ao Primeiro Ministro de evitar debates no Parlamento.

Mas até um masoquista pode achar demais ser tão agredido por um sádico. E o feitio de Rio ajuda: de um dia para o outro, ele pode ter uma epifania e descobrir que deve liderar a Direita, mesmo com o Chega incluído.

Não será para já, pode até ser apenas a seguir às eleições autárquicas; mas pode estar a tornar-se uma obsessão, mesmo que ainda se não revele aos pobres mortais que somos nós, os banais portugueses normais.

BLOCO CENTRAL OU BLOCO DE DIREITA?

A hesitação é clássica no PSD: a sua missão histórica é moderar o PS ou liderar uma alternativa com toda a Direita?

Desde fevereiro deste ano que antecipo a necessidade do bloco central. As razões eram para mim óbvias mesmo antes da pandemia. Agora, como é evidente, são mais fortes.

Basta recordar três razões: um governo com grande base de apoio pode arriscar ter os melhores ministros, um minoritário só sobrevive com os que têm fidelidade canina ao chefe. Quem paga o preço das más escolhas é o Zé Povinho…

Para tudo correr bem, é essencial a ideia de estabilidade governativa, e um governo minoritário não consegue convencer disso ninguém.

Os desafios que vamos enfrentar exigem reformas que demorarão anos a ter sucesso; ninguém as iniciará se a oposição puder derrubar o governo um ano depois.

Eu conheço os riscos dos blocos centrais. Não ouso dizer que os conheço melhor do que ninguém, mas sem dúvida que pelo menos os refiro há mais tempo do que todos, pois comecei a lutar publicamente contra o modelo há mais de 40 anos.

Mas a política é a arte de escolher entre males relativos e não entre bens absolutos. Não tenho dúvida que a tendência atual é para se formarem três blocos em Portugal, com ou sem bloco central: tal como estão as coisas agora, uma esquerda radical com 15 a 25%, uma direita (radical e/ou liberal) com 20 a 25% e um centro dominador.

O centro dominador pode ser um pântano ou um projeto de reformas moderadas que nos tragam para o século XXI. Acho que se o centro for algo plural ideologicamente, que alie os mais socializantes dos meios urbanos e do Sul com os mais conservadores dos meios mais tradicionais e do Norte, haverá condições para um consenso forte e que – sobretudo – corresponde ao atual eleitorado de Rebelo de Sousa.

Preocupam-me os populismos de esquerda e de direita que podem crescer? Claro que sim.

Mas à esquerda os “Realos” (que devem existir, ainda que por enquanto se não notem…), se o BE for para a oposição nos próximos anos, podem aprender e com isso ganhar a batalha no BE contra os “Refuseniks”, como ocorreu com os Verdes Alemães; e daqui a uns anos o PS e um renovado BE talvez possam ser uma forte esquerda moderada.

E à Direita pode finalmente nascer uma força liberal e moderada, se houver um líder, repetindo o que Gladstone fez no Reino Unido com os liberais no século XIX, Ernest Bevin com o movimento sindical no século XX, De Gaulle depois de 1958 e entre nós Mário Soares, com o PS nos anos 70 antes e depois do 25 de abril, e Sá Carneiro com a Direita democrática anos depois.

Para isso falta realmente um líder. E não parece que Xicão, Mayan, Cotrim ou putativos dissidentes do PSD o sejam. Talvez, mas não esqueçam Passos Coelho que Francisco Assis, sempre corajoso e independente, foi capaz de elogiar.

O DIREITO DE RESISTÊNCIA NA EDUCAÇÃO

A história é conhecida. Um pai, no Norte, recusou que os seus filhos menores, excelentes alunos, frequentassem a nova cadeira de “Cidadania” (uma espécie de “Organização Política e Administrativa da Nação”. Também obrigatória, inventada pela dominante ideologia que gravita entre professores e tem o BE como eixo), e o resultado são dois anos de reprovação.

Sou muito libertário (e até, reconheço, um pouco anarquista); admiro a coragem dos que seguem as suas convicções, “no matter what”. E sempre odiei ver o Estado a possuir e de modo prosélito impor uma ideologia.

Mas também sou um institucionalista e nunca esqueço que o sistema democrático existe também para impedir revoltas e permitir mudanças serenas.

Por isso discordo do direito de resistência individual, mesmo se heroico. As revoltas pessoais como atos isolados são inúteis.

O que sempre me admira em quem assume valores distintos, como ocorre neste caso, é a recusa em usar os instrumentos da democracia no seu combate: façam petições, abordem os deputados e autarcas da vossa região, escrevam nos media e nas redes sociais, mobilizem a opinião pública, condicionem o voto nos partidos que não defendam um programa de Cidadania mais “mainstream” ou que recusem o direito de escolha de programas alternativos pelos pais. No fundo demonstrem o que é e como é essencial a Cidadania entendida como um quadro pluralista, aberto e não habitado por pensamento único, sempre totalitário.

O ELOGIO

A Sérgio Sousa Pinto, por ser como é, e em concreto por uma entrevista ao Público do passado sábado.

Vivemos tempos de ditaduras manhosas, em que para dizer “não” ou até apenas “talvez não” é preciso coragem. Sei do que falo e não sou quadro político. Admiro cada vez mais os políticos que recusam ser amanuenses, carneiros, verbos de encher.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Bernard-Henry Levy é expressão do que melhor tem a intelligentsia francesa. Publicou um livro (em Portugal com edição da Relógio de Água) com o título “Este vírus que nos enlouquece” e entre outras deu ao Expresso uma entrevista corajosa, inteligente e culta sobre o “pânico da pandemia” que desde abril aqui estigmatizei, durante semanas praticamente sozinho.

Nunca seria capaz de o dizer tão bem, mas revi-me praticamente em tudo o que escreve e diz.

Vem aí seguramente, mais cedo ou mais tarde, a segunda vaga da covid-19. O texto de Levy deveria ser uma bíblia para quem vai ser pressionado a fechar de novo o País. Leiam. Ao menos a entrevista.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

O espaço público e político está cheio de notícias sobre vendas com valor descontado de ativos imobiliários do “banco bom” que circula com o nome comercial de Novo Banco, a última das quais fez manchete no Público de hoje.

A teoria prevalecente nos media é que se trata de negócios fraudulentos da acionista Lone Star, que vende ao desbarato o que são ativos sólidos (ou não teriam ficado no “banco bom”) que só melhoraram até à pandemia devido à bolha imobiliária que se viveu em partes do País.

E pior, diz-se que vende a amigos, financia os compradores e pelo caminho o Fundo de Resolução (que vive de pagamentos dos bancos nacionais e é financiado com os nossos impostos) paga as alegadas perdas.

Não sabemos se os ativos por acumulação de juros e capital não pago de empréstimos estavam sobrevalorizados ou se há fraudes.

O NB diz que tudo isto se passou há 2 anos (o que leva a perguntar porquê então só nasce agora), que as perdas não saem dos nossos impostos e que o Fundo de Resolução tudo aprovou.

Apesar da exceção de hoje, a estratégia de comunicação do NB é o silêncio ou um linguajar tecnocrático que é impercetível.

A pergunta é simples: a reputação da Lone Star e do NB não justificaria um pouco mais de diligência? Não seria, por exemplo, uma boa ideia o Fundo Resolução (ele próprio a sofrer danos reputacionais) e a Lone Star nomearem uma comissão de análise independente para fazer um relatório que explicasse o que se passa?

Ou preferem que o MP abra um inquérito criminal e daqui a 6 anos se chegue a algumas conclusões?

A LOUCURA MANSA

As Faculdades de Medicina e a Ordem dos Médicos recusam aumentar as vagas nos cursos e são contra a abertura de faculdades de medicina, como a que a Universidade Católica vem tentando.

Ao mesmo tempo querem reforço do SNS e nenhum médico concorreu para 60 vagas no Verão no Algarve.

A teoria é que cursos de medicina são caros, temos médicos a mais e o resultado seria gastar dinheiro para os exportar depois.

O argumento parece tonto e, se aplicado em geral, outras profissões queriam por certo o mesmo e teriam os mesmos argumentos. E, já agora, não vêm que isto parece o condicionamento industrial do tempo do salazarismo? E se há universidades não estatais a quererem avançar, acham que é para perder dinheiro?

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