As Causas. A salvação da Europa e a destruição do regime

16-09-2020
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A BAZOOKA DA EUROPA

Os homens sem sono da Europa, ao fim de 90 horas e 4 noites quase sem dormir, conseguiram salvar a União Europeia.

Sempre acreditei que Merkel e Macron (pois é disso que se trata) não deixariam a Europa suicidar-se. Mas a história está cheia de suicídios coletivo, e as duas guerras civis europeias de 1914 e de 1939 ainda não estão felizmente esquecidas.

Dia feliz sem dúvida. Não para um ilusório sonho europeu, mas para a realidade dos povos europeus.

O que aconteceu pode, em termos estratégicos e políticos, ser resumido assim (mas como todo o resumo é sempre uma simplificação):

a) Mais poder para o Conselho Europeu em detrimento da Comissão Europeia, no sentido da realidade de uma Confederação em vez dos sonhados Estados Unidos da Europa;

b) Por isso e para isso, sacrifício dos grandes programas geridos pelos tecnocratas de Bruxelas que, divididos por 27, passarão para os burocratas de cada um dos países;

c) Reforço do eixo Paris/Berlim, à volta do qual tudo cada vez mais vai gravitar e para isso provável recandidatura de Merkel nas eleições alemãs de 2021;

d) Aumento das condições para controlo dos países do Sul pela Confederação, através de regras cada vez mais rigorosas que os beneficiários dos subsídios terão de cumprir e devido ao pagamento de 360 mil milhões de euros de empréstimos;

e) O mesmo – embora mais diluído, por enquanto – em matéria de regras do Estado de Direito em relação aos países do Leste;

f) Um passo em frente para a mutualização da dívida europeia, controlada pelo duopólio, e para a compatibilização das regras da concorrência com a intervenção dos Estados europeus nas suas economias.

BES: A ARMA DE ARREMESSO DOS RADICAIS DE DIREITA E DE ESQUERDA

Olhando agora para Portugal:

a) Reforço de António Costa e provável domínio político dele e do PS até 2027 pelo menos.

b) Reforço do bloco central informal;

c) Viragem radical da esquerda.

Neste contexto há que sobretudo falar do alimento que os radicais de Direita e Esquerda querem extrair do caso BES.

A minha tese é que os radicais dos dois lados vão mais uma vez irmanar-se no ataque à Europa capitalista e plutocrata, ao domínio do Diretório bipolar que referi e ao esvaziamento da soberania e das especificidades portuguesas.

BES: CRIMES E CRISES

Em primeiro lugar tudo indica que existem crimes. É certo que já vi destruir em tribunal acusações que pareciam de betão, mas os indícios aqui são muitíssimo fortes.

Se forem provados os factos, não tenho dúvidas de que será o maior escândalo financeiro de que há memória em Portugal.

Em minha opinião, a gravidade das culpas aumenta sempre com o nível de responsabilidades. A provarem-se estes crimes, o terem sido cometidos por banqueiros, como se fosse por advogados, revisores de contas, padres ou políticos, agrava e exige seguramente punições mais elevadas.

Em segundo lugar, estes crimes não resultam de uma estratégia criminal de uma vida.

Conheço há muitos anos os primos Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo. Disse ao “Sol”, e repito, “O Ricardo Salgado não era um gangster”; e o primo também não.

Eu sei que convém a muita gente insistir que eram, mas em minha opinião isso não só me parece falso, mas errado como estratégia de acusação.

Se fossem “gangsters” ao longo da vida, será mais fácil atacar todos os que eram seus amigos, os que com eles fizeram negócios ou para eles trabalharam. E de facto nem Al Capone conseguiu disfarçar o que era. Seja como for, esse é o objetivo real e a estratégia por trás de muitos que insistem nessa tese, como se verá adiante.

Em terceiro lugar, Salgado foi um dos grandes banqueiros portugueses das últimas décadas. Não sou o eu quem o afirma; isso foi dito, redito e demonstrado durante um quarto de século, e ainda há quem tenha coragem de o dizer (por exemplo Ricardo Costa, no Expresso há dias).

Isto não é um elogio, apenas uma constatação e – quando muito – uma censura, pois como se dizia antigamente, “aqueles a quem Deus deu muito, a eles muito mais exige”.

Finalmente, e isto não pode servir para justificar crimes que tenham existido, o buraco negro por onde entrou o BES e os factos alegadamente criminosos, ocorreram depois de 2009. E o MP não diz nada diferente.

Nesses anos sucederam-se a crise do sub-prime no imobiliário em 2007, que causou a explosão do Banco Lehmann Brothers e de outros, em setembro de 2008, a crise financeira que se prolongou por anos a seguir (o índice dos bancos europeus cotados perdeu nesse período 97% do seu valor) e que só não rebentou com a economia mundial devido à intervenção maciça dos Estados e bancos centrais que foram fator decisivo da crise das dívidas soberanas a partir do final de 2009.

Insisto, isso não são desculpas para erros ou crimes, como é óbvio. Mas penso que é uma estratégia estúpida da acusação se esta realidade de enquadramento for ocultada.

TEM DE HAVER UM POLVO TENTACULAR E DON CORLEONE

Não nos iludamos. Logo que se conheceu a acusação começou a executar-se uma estratégia que irmana radicais de esquerda e de direita, e que ficou escancarada na intervenção de Mariana Mortágua no “Expresso da Meia Noite” e no que num texto de Ângela Silva no Expresso se revela ser a estratégia de André Ventura (atirar à cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa)

O que lhes interessa agora não é condenar Salgado, e mais 24 pessoas; trata-se de descobrir/inventar e exibir um polvo tentacular que permitiu que estes gangsters (a expressão “Dono Disto Tudo” é a antonomásia disso) levassem uma longa vida de crimes financeiros, comprando e manipulando tudo e todos, afinal milhares de co-autores, cúmplices ou encobridores de uma vida de delinquentes, que nos continuam a governar.

O alvo – e mais claro não poderia Mortágua ter sido – são os partidos do “arco da governação” pré-2015, com especial realce para o PS. E é o Presidente da República.

E isto apesar de não haver aparentemente na acusação um único indício de corrupção de políticos, que não seja na Venezuela de Chávez, tão elogiada por esses tempos pelo BE.

O objetivo é simples. E a estratégia é tão fiel ao trotskismo de onde vêm os radicais de esquerda e de que se não libertaram, como é fiel ao dono um golden retriever: através da tática “geringôncica” do “entrismo”, concretizar a estratégia da destruição do sistema liberal, não por causa dos seus defeitos, mas devido às suas intoleráveis virtudes.

Por isso e para isso, intoxicados pelas teorias da conspiração que beberam com o leite materno dos grupúsculos maoístas e da IV Internacional, tentam provocar Salgado a denunciar tudo e todos, procurando que o julgamento do BES (e já agora o de Sócrates) seja o julgamento do regime, como nos anos 30 os seus irmãos inimigos de extrema-direita queriam que em França tivesse sido o “affaire Staviski” em 1934.

E pelo caminho, claro, também fragilizar Marcelo Rebelo de Sousa: se Salgado era o Don Corleone português, como é que o Presidente da República passava férias com ele e não se apercebia?

A DESONESTIDADE INTELECTUAL DOS ILUMINADOS

Para atingir este tipo de objetivos, é essencial a desonestidade intelectual que segregam com a naturalidade dos iluminados.

Vejam um exemplo: Francisco Louçã tomou partido pelos 67 investigadores que fizeram um auto-de-fé virtual de um livro de um universitário sobre o Chega. É o seu direito.

Mas para enfatizar o seu tema, pega em José Manuel Fernandes, em Henrique Raposo e em mim (curiosamente dois deles seus colegas comentadores nos mesmos media, considera-nos “os mais ferventes” (pois se não fosse assim teria de atacar muitas dezenas, alguns deles de esquerda) de uma tribo que inventou. E para isso usa todas as artes da retórica que antigamente se ensinava nos seminários (e sobrevivem onde Deus quer…), para avançar o seu caso. Está no seu direito e a Inquisição não fez melhor.

Mas era preciso mais: subliminarmente, categoriza-nos como parte da direita, e cito, que “se divide entre quem está fascinado com a tecnologia trumpista e a quer imitar e quem não se atreve a combatê-la mesmo que o discurso do ódio boçal lhe repugne” .

A isto poderia responder-se que seguramente que Louçã deve estar a falar do seu fascínio por Chavez.

Mas prefiro dizer que – sem uma hesitação – desde que Trump surgiu como possível presidente dos EUA eu me “atrevi” vezes sem conta a combatê-lo e não apenas nem sobretudo pela sua real boçalidade. E creio que os outros também.

Mas que importa que seja falso, se for útil e servir para pequenos ajustes de contas?

A pretexto do caso BES, iremos ver muito disto em relação a muita gente, sobretudo os que não se acobardarem. Mas não vale a pena ter medo; hoje os trotskistas não usam armas de fogo.

O ELOGIO

Aos 27 chefes de Estado e de Governo, que em minha opinião salvaram a União Europeia.

Cada um de nós pode gostar de uns e até odiar outros. Mas afinal todos eles deram uma lição de que o compromisso e as cedências mútuas são o cimento da democracia e a alma da liberdade.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Um artigo de Pedro Mexia no Expresso, “A Carta da Harper’s”. Trata-se um manifesto de 153 grandes intelectuais de esquerda, direita ou não posicionados sobre os abusos do politicamente correto e o “patrulheirismo” dos iluminados.

Temos disso por cá, como já lembrei várias vezes. Mas o que mais merece elogio são os que, como Mexia recordou, não cederam às pressões e ao “pânico intelectual” e não retiraram a assinatura.

Não acho exagero se disser – parafraseando a Guerra dos Tronos – que “A Inquisição está a chegar”. Vivemos tempos que cada vez mais exigem coragem. Pode ser que se encontre …

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Gonçalo Velho, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), afirmou sobre os exames e assinou por baixo: “Este semestre houve fraudes em porque o surto de Covid-19 obrigou universidades e politécnicos a avaliar alunos à distância.

Falo de uma excelente reportagem do Observador de sábado, assinada por Ana Kotowitz. Num País normal em que a honestidade fosse valorizada isto seria um escândalo nacional, a abrir noticiários televisivos, com reações de associações de pais, do governo e das universidades.

Mas não li nem ouvi nada. Por isso a pergunta é para todos nós: será que não temos vergonha de não ter vergonha coletiva?

A LOUCURA MANSA

Caiu o Carmo e a Trindade com a ida do socialista António Costa a Budapeste para tentar seduzir o ultramontano radical de Direita, que se chama Viktor Órban, e a desvalorizar as lesões aos princípios genéticos da CEE que se mantêm na União Europeia.

A diligência era evidentemente inútil, pois o húngaro anda nisto há muitos anos e não precisava de ser seduzido, bastava-lhe negociar com quem interessava (a Alemanha e a França), e atacar quem lhe convinha (a Holanda).

Por isso foi um erro de Costa, um homem que tem seguramente muitos defeitos, mas não é tolerante com extremistas de Direita, mas que como estadista tem de conviver e negociar com eles.

Mas impressiona – e é muito mais louco - ver ataques vindos de quem pactua, recebe dinheiro, oculta e sobretudo não critica outros líderes tão maus ou piores do que eles. O que me recorda o telegrama de felicitações encomiásticas que Estaline enviou a Hitler quando o exército alemão chegou a Paris em 1940 há cerca de 80 anos..

A BAZOOKA DA EUROPA

Os homens sem sono da Europa, ao fim de 90 horas e 4 noites quase sem dormir, conseguiram salvar a União Europeia.

Sempre acreditei que Merkel e Macron (pois é disso que se trata) não deixariam a Europa suicidar-se. Mas a história está cheia de suicídios coletivo, e as duas guerras civis europeias de 1914 e de 1939 ainda não estão felizmente esquecidas.

Dia feliz sem dúvida. Não para um ilusório sonho europeu, mas para a realidade dos povos europeus.

O que aconteceu pode, em termos estratégicos e políticos, ser resumido assim (mas como todo o resumo é sempre uma simplificação):

a) Mais poder para o Conselho Europeu em detrimento da Comissão Europeia, no sentido da realidade de uma Confederação em vez dos sonhados Estados Unidos da Europa;

b) Por isso e para isso, sacrifício dos grandes programas geridos pelos tecnocratas de Bruxelas que, divididos por 27, passarão para os burocratas de cada um dos países;

c) Reforço do eixo Paris/Berlim, à volta do qual tudo cada vez mais vai gravitar e para isso provável recandidatura de Merkel nas eleições alemãs de 2021;

d) Aumento das condições para controlo dos países do Sul pela Confederação, através de regras cada vez mais rigorosas que os beneficiários dos subsídios terão de cumprir e devido ao pagamento de 360 mil milhões de euros de empréstimos;

e) O mesmo – embora mais diluído, por enquanto – em matéria de regras do Estado de Direito em relação aos países do Leste;

f) Um passo em frente para a mutualização da dívida europeia, controlada pelo duopólio, e para a compatibilização das regras da concorrência com a intervenção dos Estados europeus nas suas economias.

BES: A ARMA DE ARREMESSO DOS RADICAIS DE DIREITA E DE ESQUERDA

Olhando agora para Portugal:

a) Reforço de António Costa e provável domínio político dele e do PS até 2027 pelo menos.

b) Reforço do bloco central informal;

c) Viragem radical da esquerda.

Neste contexto há que sobretudo falar do alimento que os radicais de Direita e Esquerda querem extrair do caso BES.

A minha tese é que os radicais dos dois lados vão mais uma vez irmanar-se no ataque à Europa capitalista e plutocrata, ao domínio do Diretório bipolar que referi e ao esvaziamento da soberania e das especificidades portuguesas.

BES: CRIMES E CRISES

Em primeiro lugar tudo indica que existem crimes. É certo que já vi destruir em tribunal acusações que pareciam de betão, mas os indícios aqui são muitíssimo fortes.

Se forem provados os factos, não tenho dúvidas de que será o maior escândalo financeiro de que há memória em Portugal.

Em minha opinião, a gravidade das culpas aumenta sempre com o nível de responsabilidades. A provarem-se estes crimes, o terem sido cometidos por banqueiros, como se fosse por advogados, revisores de contas, padres ou políticos, agrava e exige seguramente punições mais elevadas.

Em segundo lugar, estes crimes não resultam de uma estratégia criminal de uma vida.

Conheço há muitos anos os primos Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo. Disse ao “Sol”, e repito, “O Ricardo Salgado não era um gangster”; e o primo também não.

Eu sei que convém a muita gente insistir que eram, mas em minha opinião isso não só me parece falso, mas errado como estratégia de acusação.

Se fossem “gangsters” ao longo da vida, será mais fácil atacar todos os que eram seus amigos, os que com eles fizeram negócios ou para eles trabalharam. E de facto nem Al Capone conseguiu disfarçar o que era. Seja como for, esse é o objetivo real e a estratégia por trás de muitos que insistem nessa tese, como se verá adiante.

Em terceiro lugar, Salgado foi um dos grandes banqueiros portugueses das últimas décadas. Não sou o eu quem o afirma; isso foi dito, redito e demonstrado durante um quarto de século, e ainda há quem tenha coragem de o dizer (por exemplo Ricardo Costa, no Expresso há dias).

Isto não é um elogio, apenas uma constatação e – quando muito – uma censura, pois como se dizia antigamente, “aqueles a quem Deus deu muito, a eles muito mais exige”.

Finalmente, e isto não pode servir para justificar crimes que tenham existido, o buraco negro por onde entrou o BES e os factos alegadamente criminosos, ocorreram depois de 2009. E o MP não diz nada diferente.

Nesses anos sucederam-se a crise do sub-prime no imobiliário em 2007, que causou a explosão do Banco Lehmann Brothers e de outros, em setembro de 2008, a crise financeira que se prolongou por anos a seguir (o índice dos bancos europeus cotados perdeu nesse período 97% do seu valor) e que só não rebentou com a economia mundial devido à intervenção maciça dos Estados e bancos centrais que foram fator decisivo da crise das dívidas soberanas a partir do final de 2009.

Insisto, isso não são desculpas para erros ou crimes, como é óbvio. Mas penso que é uma estratégia estúpida da acusação se esta realidade de enquadramento for ocultada.

TEM DE HAVER UM POLVO TENTACULAR E DON CORLEONE

Não nos iludamos. Logo que se conheceu a acusação começou a executar-se uma estratégia que irmana radicais de esquerda e de direita, e que ficou escancarada na intervenção de Mariana Mortágua no “Expresso da Meia Noite” e no que num texto de Ângela Silva no Expresso se revela ser a estratégia de André Ventura (atirar à cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa)

O que lhes interessa agora não é condenar Salgado, e mais 24 pessoas; trata-se de descobrir/inventar e exibir um polvo tentacular que permitiu que estes gangsters (a expressão “Dono Disto Tudo” é a antonomásia disso) levassem uma longa vida de crimes financeiros, comprando e manipulando tudo e todos, afinal milhares de co-autores, cúmplices ou encobridores de uma vida de delinquentes, que nos continuam a governar.

O alvo – e mais claro não poderia Mortágua ter sido – são os partidos do “arco da governação” pré-2015, com especial realce para o PS. E é o Presidente da República.

E isto apesar de não haver aparentemente na acusação um único indício de corrupção de políticos, que não seja na Venezuela de Chávez, tão elogiada por esses tempos pelo BE.

O objetivo é simples. E a estratégia é tão fiel ao trotskismo de onde vêm os radicais de esquerda e de que se não libertaram, como é fiel ao dono um golden retriever: através da tática “geringôncica” do “entrismo”, concretizar a estratégia da destruição do sistema liberal, não por causa dos seus defeitos, mas devido às suas intoleráveis virtudes.

Por isso e para isso, intoxicados pelas teorias da conspiração que beberam com o leite materno dos grupúsculos maoístas e da IV Internacional, tentam provocar Salgado a denunciar tudo e todos, procurando que o julgamento do BES (e já agora o de Sócrates) seja o julgamento do regime, como nos anos 30 os seus irmãos inimigos de extrema-direita queriam que em França tivesse sido o “affaire Staviski” em 1934.

E pelo caminho, claro, também fragilizar Marcelo Rebelo de Sousa: se Salgado era o Don Corleone português, como é que o Presidente da República passava férias com ele e não se apercebia?

A DESONESTIDADE INTELECTUAL DOS ILUMINADOS

Para atingir este tipo de objetivos, é essencial a desonestidade intelectual que segregam com a naturalidade dos iluminados.

Vejam um exemplo: Francisco Louçã tomou partido pelos 67 investigadores que fizeram um auto-de-fé virtual de um livro de um universitário sobre o Chega. É o seu direito.

Mas para enfatizar o seu tema, pega em José Manuel Fernandes, em Henrique Raposo e em mim (curiosamente dois deles seus colegas comentadores nos mesmos media, considera-nos “os mais ferventes” (pois se não fosse assim teria de atacar muitas dezenas, alguns deles de esquerda) de uma tribo que inventou. E para isso usa todas as artes da retórica que antigamente se ensinava nos seminários (e sobrevivem onde Deus quer…), para avançar o seu caso. Está no seu direito e a Inquisição não fez melhor.

Mas era preciso mais: subliminarmente, categoriza-nos como parte da direita, e cito, que “se divide entre quem está fascinado com a tecnologia trumpista e a quer imitar e quem não se atreve a combatê-la mesmo que o discurso do ódio boçal lhe repugne” .

A isto poderia responder-se que seguramente que Louçã deve estar a falar do seu fascínio por Chavez.

Mas prefiro dizer que – sem uma hesitação – desde que Trump surgiu como possível presidente dos EUA eu me “atrevi” vezes sem conta a combatê-lo e não apenas nem sobretudo pela sua real boçalidade. E creio que os outros também.

Mas que importa que seja falso, se for útil e servir para pequenos ajustes de contas?

A pretexto do caso BES, iremos ver muito disto em relação a muita gente, sobretudo os que não se acobardarem. Mas não vale a pena ter medo; hoje os trotskistas não usam armas de fogo.

O ELOGIO

Aos 27 chefes de Estado e de Governo, que em minha opinião salvaram a União Europeia.

Cada um de nós pode gostar de uns e até odiar outros. Mas afinal todos eles deram uma lição de que o compromisso e as cedências mútuas são o cimento da democracia e a alma da liberdade.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Um artigo de Pedro Mexia no Expresso, “A Carta da Harper’s”. Trata-se um manifesto de 153 grandes intelectuais de esquerda, direita ou não posicionados sobre os abusos do politicamente correto e o “patrulheirismo” dos iluminados.

Temos disso por cá, como já lembrei várias vezes. Mas o que mais merece elogio são os que, como Mexia recordou, não cederam às pressões e ao “pânico intelectual” e não retiraram a assinatura.

Não acho exagero se disser – parafraseando a Guerra dos Tronos – que “A Inquisição está a chegar”. Vivemos tempos que cada vez mais exigem coragem. Pode ser que se encontre …

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Gonçalo Velho, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), afirmou sobre os exames e assinou por baixo: “Este semestre houve fraudes em porque o surto de Covid-19 obrigou universidades e politécnicos a avaliar alunos à distância.

Falo de uma excelente reportagem do Observador de sábado, assinada por Ana Kotowitz. Num País normal em que a honestidade fosse valorizada isto seria um escândalo nacional, a abrir noticiários televisivos, com reações de associações de pais, do governo e das universidades.

Mas não li nem ouvi nada. Por isso a pergunta é para todos nós: será que não temos vergonha de não ter vergonha coletiva?

A LOUCURA MANSA

Caiu o Carmo e a Trindade com a ida do socialista António Costa a Budapeste para tentar seduzir o ultramontano radical de Direita, que se chama Viktor Órban, e a desvalorizar as lesões aos princípios genéticos da CEE que se mantêm na União Europeia.

A diligência era evidentemente inútil, pois o húngaro anda nisto há muitos anos e não precisava de ser seduzido, bastava-lhe negociar com quem interessava (a Alemanha e a França), e atacar quem lhe convinha (a Holanda).

Por isso foi um erro de Costa, um homem que tem seguramente muitos defeitos, mas não é tolerante com extremistas de Direita, mas que como estadista tem de conviver e negociar com eles.

Mas impressiona – e é muito mais louco - ver ataques vindos de quem pactua, recebe dinheiro, oculta e sobretudo não critica outros líderes tão maus ou piores do que eles. O que me recorda o telegrama de felicitações encomiásticas que Estaline enviou a Hitler quando o exército alemão chegou a Paris em 1940 há cerca de 80 anos..

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