O FUTURO PRESENTE: COMO É QUE FAZEM?

30-06-2011
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O Bloco de Esquerda tem elevadas preocupações de justiça e equidade e quer fazer um mundo perfeito. A questão é: como?O conde de Romanones era uma das maiores fortunas de Espanha. Um seu amigo, homem com preocupações sociais, passava o tempo a dizer-lhe que era uma vergonha ser rico assim, havendo tanta miséria em Espanha, que devia fazer alguma coisa.Um dia, farto, Romanones respondeu-lhe:- Quanto achas que vale a minha fortuna?- Não sei, para aí uns cem milhões de pesetas!- E quantos espanhóis é que há?- Para aí uns vinte milhões!- Então quanto calha a cada um?- Cinco pesetas!O Conde tirou do bolso uma moeda de um duro e deu-a ao amigo,- Pois toma lá a tua parte e não me maces mais!Outra história, da guerra civil de 1936-1939: uns trabalhadores anarquistas ocuparam uma empresa dos arredores de Valência, entraram pelo gabinete do patrão armados e exigiram-lhe o capital social da empresa. O patrão tinha a consciência tranquila, pagava salários justos, tratava bem o pessoal; pedagogicamente, explicou-lhes o conceito de capital social, acrescentando, claro, que não era coisa que tivesse ali com ele.Mas eles insistiram e mandaram-no abrir o cofre-forte, no qual estariam os cobiçados milhares do capital social. O patrão fez-lhes a vontade e entregou-lhes o dinheiro. Os trabalhadores contaram-no mas verificaram que ainda faltava muito para o capital social. Outra vez o pobre rico, já menos seguro, lhes explicou a teoria geral contabilística e o absurdo de esperar que o capital da empresa estivesse ali, fisicamente, em cash.Talvez por ser "bom patrão", não o humilharam com um julgamento popular. Mataram-no ali mesmo.Estas histórias saltaram-me à memória com os planos económicos do BE, nomeadamente com a ideia de pagar a Segurança Social com um imposto sobre as grandes fortunas!Os dirigentes do BE são como o amigo do Romanones: têm elevadas preocupações de justiça e equidade, exibem um ar superior e enjoado perante tudo o que tem a ver com negócios, empresas, lucros, dinheiro, compromissos. Só eles são éticos, nesta choldra que é a vida pública. E querem trazer um mundo melhor, perfeito.Só que, como os ricos portugueses - e os pobres e os remediados - , não são perfeitos nem generosos,como aMadre Teresa de Calcutá. E tendo em conta que o capital é móvel e volátil, como vão lá chegar? Com leis? Mas as leis são "de classe", e mudar leis e reformas é o que fazem socialistas e sociais-democratas.Então como? Os utópicos de outros tempos recorriam a processos expeditos: os jacobinos guilhotinavam os aristocratas; os anarquistas punham bombas nos Grands Magazins; os bolcheviques, os maoístas, os castristas, campo de concentração para aqui, massacre para acolá, fuzilamento q.b., também se esforçaram durante um século por essa perfeição.Não estou a ver o Dr. Louçã a cortar a cabeça às nossas marquesas; nem o Dr. Fazenda a dar um tiro no Sr. Américo Amorim para ter o capital social da GALP; nem Miguel Portas a pôr bombas nos supermercados para refrear o consumismo. E, de todo, o meu amigo Fernando Rosas a levar agrários para um paredón na charneca alentejana. Nisso não acredito!Mas então como é que fazem?(Artigo publicado no i )

O Bloco de Esquerda tem elevadas preocupações de justiça e equidade e quer fazer um mundo perfeito. A questão é: como?O conde de Romanones era uma das maiores fortunas de Espanha. Um seu amigo, homem com preocupações sociais, passava o tempo a dizer-lhe que era uma vergonha ser rico assim, havendo tanta miséria em Espanha, que devia fazer alguma coisa.Um dia, farto, Romanones respondeu-lhe:- Quanto achas que vale a minha fortuna?- Não sei, para aí uns cem milhões de pesetas!- E quantos espanhóis é que há?- Para aí uns vinte milhões!- Então quanto calha a cada um?- Cinco pesetas!O Conde tirou do bolso uma moeda de um duro e deu-a ao amigo,- Pois toma lá a tua parte e não me maces mais!Outra história, da guerra civil de 1936-1939: uns trabalhadores anarquistas ocuparam uma empresa dos arredores de Valência, entraram pelo gabinete do patrão armados e exigiram-lhe o capital social da empresa. O patrão tinha a consciência tranquila, pagava salários justos, tratava bem o pessoal; pedagogicamente, explicou-lhes o conceito de capital social, acrescentando, claro, que não era coisa que tivesse ali com ele.Mas eles insistiram e mandaram-no abrir o cofre-forte, no qual estariam os cobiçados milhares do capital social. O patrão fez-lhes a vontade e entregou-lhes o dinheiro. Os trabalhadores contaram-no mas verificaram que ainda faltava muito para o capital social. Outra vez o pobre rico, já menos seguro, lhes explicou a teoria geral contabilística e o absurdo de esperar que o capital da empresa estivesse ali, fisicamente, em cash.Talvez por ser "bom patrão", não o humilharam com um julgamento popular. Mataram-no ali mesmo.Estas histórias saltaram-me à memória com os planos económicos do BE, nomeadamente com a ideia de pagar a Segurança Social com um imposto sobre as grandes fortunas!Os dirigentes do BE são como o amigo do Romanones: têm elevadas preocupações de justiça e equidade, exibem um ar superior e enjoado perante tudo o que tem a ver com negócios, empresas, lucros, dinheiro, compromissos. Só eles são éticos, nesta choldra que é a vida pública. E querem trazer um mundo melhor, perfeito.Só que, como os ricos portugueses - e os pobres e os remediados - , não são perfeitos nem generosos,como aMadre Teresa de Calcutá. E tendo em conta que o capital é móvel e volátil, como vão lá chegar? Com leis? Mas as leis são "de classe", e mudar leis e reformas é o que fazem socialistas e sociais-democratas.Então como? Os utópicos de outros tempos recorriam a processos expeditos: os jacobinos guilhotinavam os aristocratas; os anarquistas punham bombas nos Grands Magazins; os bolcheviques, os maoístas, os castristas, campo de concentração para aqui, massacre para acolá, fuzilamento q.b., também se esforçaram durante um século por essa perfeição.Não estou a ver o Dr. Louçã a cortar a cabeça às nossas marquesas; nem o Dr. Fazenda a dar um tiro no Sr. Américo Amorim para ter o capital social da GALP; nem Miguel Portas a pôr bombas nos supermercados para refrear o consumismo. E, de todo, o meu amigo Fernando Rosas a levar agrários para um paredón na charneca alentejana. Nisso não acredito!Mas então como é que fazem?(Artigo publicado no i )

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