O FUTURO PRESENTE: SOBRE O VOTO DE 27 DE SETEMBRO

30-06-2011
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Já aqui não vinha há muito tempo. Hoje acho que podem ter algum interesse estas reflexões que publiquei no i , na minha coluna das terças feirasDa utilidade do VotoO fundamentalismo não só é religioso ou islâmico. Há também um fundamentalismo democrático, ou dos "democratas", e bem passámos por ele, desde a I República, de saudosa memória e próximo centenário, ao glorioso PREC. Este fundamentalismo persiste na tradição do "aprofundamento democrático" de que os bloquistas são exemplo e da unidade antifascista, que acorda em certas ocasiões.Mas também se vê no olhar para a democracia como uma espécie de religião laica, de rousseauniana transcendência, com solenes símbolos e rituais, sacralizados e venerados, através dos quais a vontade popular se revela aos homens. Assim, o voto será um acto de fé e de devoção inabaláveis num partido e num líder. Atributo que, considerada a oferta, aqui e agora, é manifestamente exagerado e despropositado.Os fundamentalistas condenam o voto útil como uma profanação. Ora, para a maioria dos eleitores, o voto é útil. Sobretudo à medida que melhor compreendem os mecanismos da representação e da vida política e percebem que tinha alguma razão quem dizia que a política era escolha entre dois inconvenientes.Por isso, muito mais que votar-se pró, vota-se contra, num voto defensivo contra um mal maior. Foi o que tivemos e temos de fazer, as pessoas de direita deste país em que o "partido mais à direita se chama "centro" e onde ainda se usa o Salazar como fantasma graças à esquerda. E em que uma referência à "questão nacional" a propósito do TGV causa uma onda de histeria jornalística.O voto útil é simples e prático, sem estados de alma complicados.Quem tiver como desiderato principal afastar o eng. Sócrates e o PS do poder, goste muito ou nada do PSD, ache a dra. Ferreira Leite pouco simpática ou destituída de "carisma", vota no PSD e na "doutora".Quem tiver como objectivo essencial cortar o caminho "à direita" e à "doutora", mesmo que ache Sócrates "vendido ao capitalismo" e o PS um bando de burgueses sem ponta de chique, tem de votar no PS e no "engenheiro".Esta é a filosofia do voto útil como voto contra. Voto ideológico da direita não há, pois nem o CDS nem o PSD se assumem como tal. Voto ideológico de esquerda - há o tradicionalista no PCP, e o pós-moderno no BE. Este voto no BE vai servir aos bloquistas para o seu cenário-maravilha - serem poder, sem as responsabilidades de poder. Depois do que disseram e fizeram ao PS e a Sócrates, não teriam lata (é o termo) de se coligar. Mas - se o PS fizer governo - adorarão ficar como uma minoria de pressão e controlo, chantageando o PS no sentido da sua agenda, obrigando-o às recusas que comprometem e às transigências que rebaixam. Este é um cenário que repugna a muitos dirigentes socialistas e também a muitos eleitores. Mas ouvido o dr. Soares há ainda uma "ala esquerda" saudosista da aliança antifascista a dar a sua ajuda.

Já aqui não vinha há muito tempo. Hoje acho que podem ter algum interesse estas reflexões que publiquei no i , na minha coluna das terças feirasDa utilidade do VotoO fundamentalismo não só é religioso ou islâmico. Há também um fundamentalismo democrático, ou dos "democratas", e bem passámos por ele, desde a I República, de saudosa memória e próximo centenário, ao glorioso PREC. Este fundamentalismo persiste na tradição do "aprofundamento democrático" de que os bloquistas são exemplo e da unidade antifascista, que acorda em certas ocasiões.Mas também se vê no olhar para a democracia como uma espécie de religião laica, de rousseauniana transcendência, com solenes símbolos e rituais, sacralizados e venerados, através dos quais a vontade popular se revela aos homens. Assim, o voto será um acto de fé e de devoção inabaláveis num partido e num líder. Atributo que, considerada a oferta, aqui e agora, é manifestamente exagerado e despropositado.Os fundamentalistas condenam o voto útil como uma profanação. Ora, para a maioria dos eleitores, o voto é útil. Sobretudo à medida que melhor compreendem os mecanismos da representação e da vida política e percebem que tinha alguma razão quem dizia que a política era escolha entre dois inconvenientes.Por isso, muito mais que votar-se pró, vota-se contra, num voto defensivo contra um mal maior. Foi o que tivemos e temos de fazer, as pessoas de direita deste país em que o "partido mais à direita se chama "centro" e onde ainda se usa o Salazar como fantasma graças à esquerda. E em que uma referência à "questão nacional" a propósito do TGV causa uma onda de histeria jornalística.O voto útil é simples e prático, sem estados de alma complicados.Quem tiver como desiderato principal afastar o eng. Sócrates e o PS do poder, goste muito ou nada do PSD, ache a dra. Ferreira Leite pouco simpática ou destituída de "carisma", vota no PSD e na "doutora".Quem tiver como objectivo essencial cortar o caminho "à direita" e à "doutora", mesmo que ache Sócrates "vendido ao capitalismo" e o PS um bando de burgueses sem ponta de chique, tem de votar no PS e no "engenheiro".Esta é a filosofia do voto útil como voto contra. Voto ideológico da direita não há, pois nem o CDS nem o PSD se assumem como tal. Voto ideológico de esquerda - há o tradicionalista no PCP, e o pós-moderno no BE. Este voto no BE vai servir aos bloquistas para o seu cenário-maravilha - serem poder, sem as responsabilidades de poder. Depois do que disseram e fizeram ao PS e a Sócrates, não teriam lata (é o termo) de se coligar. Mas - se o PS fizer governo - adorarão ficar como uma minoria de pressão e controlo, chantageando o PS no sentido da sua agenda, obrigando-o às recusas que comprometem e às transigências que rebaixam. Este é um cenário que repugna a muitos dirigentes socialistas e também a muitos eleitores. Mas ouvido o dr. Soares há ainda uma "ala esquerda" saudosista da aliança antifascista a dar a sua ajuda.

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