Da importância do "upgrade" nas viagens globais

09-10-2015
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Na política pública a dimensão das relações internacionais é conhecida por "negócios estrangeiros". A ênfase hoje em dia é sobretudo na palavra Negócios. É por isso que, em plena fase madura da globalização, a destreza na gestão das relações económicas é tão central. Projectar uma boa imagem na economia internacional não pode mais ser apenas uma arte, tem de ser também uma ciência. Um conjunto de situações recentes faz-nos perceber porquê.

A afinação económica das nações

A coordenação internacional nos domínios da soberania têm hoje um grande elemento económico com ênfase em questões como a energia, migração, logística marítima, etc. Vários exemplos da luta por espaço de manobra entre os países mostram como a economia é o objectivo principal e o instrumento de referência nas interacções bilaterais e multilaterais:

A orquestração das nações e a imposição de disciplina entre os Estados na velha Europa, onde voltou a haver uma só potência hegemónica, é feita hoje com recursos a instrumentos de política fiscal e monetária e já não tanto pelas pontas das baionetas;

Os EUA acusaram cinco oficiais do exército Chinês de ciber-espionagem e roubo de "segredos comerciais" a seis empresas norte-americanas, entretanto a China anunciou a proibição da utilização do sistema Windows 8 da Microsoft como "medida de segurança";

Vladimir Putin veio encontrar-se com Xi Jinping para reforçar a cooperação militar entre os dois países e procurar um novo grande acordo nos domínios do gás, revelando como o ocidente alienou a Rússia virando-a para a Ásia e reforçando assim inadvertidamente a influência trans-regional da China.

O mundo está num processo de acelerada reconversão em que geografias antes periféricas adquirem uma centralidade que era sua na ancestralidade. Neste ambiente, a política económica tem de ser hábil e tanto adaptativa como prospectiva.

Re-capacitar a diplomacia tecno-económica

Os tempos recentes mostram como o desenho da teia de interesses global segue a lógica da agenda industrial e comercial. Assim, a diplomacia torna-se uma noção abrangente bem como crucial enquanto ferramenta da política económica e das políticas de educação, investigação e inovação.

Decorre daqui a importância da preparação, do profissionalismo e da visão estratégica da representação de Portugal no exterior. Porém, a recente missão à China dá-nos algumas lições a este nível. Por exemplo:

O ministro que melhor esteve foi obviamente Rui Machete pois não falou, pena é que seja ele quem supostamente está com a pasta dos assuntos externos;

O Ministro da Economia precipita-se quando tenta vender apressadamente a TAP (já basta, aliás, uma EDP repleta cheia administradores não-executivos injustificáveis!) e não percebe que ao sair de uma sessão pública, sem o fazer com descrição, para outro compromisso está automaticamente a desprestigiar e esvaziar a mesma;

Não é concebível que o novo Presidente da AICEP Miguel Frasquilho use da palavra para privilegiar a promoção de uma universidade portuguesa, que é a instituição (privada) onde obteve a sua licenciatura; e...

Também é pouco explicável que se afecte a organização de eventos deste delicado recorte a uma (inevitavelmente suspeita-do-costume) sociedade de advogados de Lisboa e não a uma empresa de relações públicas especializada.

No meio destas desventuras, a Presidência da República seguiu com as actividades aqui em Macau, as quais decorreram sem incidentes e com escolhas sensatas quanto às visitas realizadas (Escola Portuguesa, Instituto Politécnico e Universidade) e à enfase na herança imaterial e material portuguesa no território (cultura, património). Por um lado, era de toda a propriedade que terminasse aqui o périplo. Mas, por outro, era também uma obrigação que corresse bem já que se tinha de apagar a "inenarrável" gaffe do Vice-PM Paulo Portas em Novembro último.

Concluindo: novas aptidões para a diplomacia funcional precisam-se no mundo moderno. Se tal não for abundante então que se exija pelo menos bom senso e boas maneiras. Nestas, tal como noutras matérias, não basta ir para fora achando-se com direito natural à classe executiva. É tempo de os portugueses exigirem um "upgrade".

Na política pública a dimensão das relações internacionais é conhecida por "negócios estrangeiros". A ênfase hoje em dia é sobretudo na palavra Negócios. É por isso que, em plena fase madura da globalização, a destreza na gestão das relações económicas é tão central. Projectar uma boa imagem na economia internacional não pode mais ser apenas uma arte, tem de ser também uma ciência. Um conjunto de situações recentes faz-nos perceber porquê.

A afinação económica das nações

A coordenação internacional nos domínios da soberania têm hoje um grande elemento económico com ênfase em questões como a energia, migração, logística marítima, etc. Vários exemplos da luta por espaço de manobra entre os países mostram como a economia é o objectivo principal e o instrumento de referência nas interacções bilaterais e multilaterais:

A orquestração das nações e a imposição de disciplina entre os Estados na velha Europa, onde voltou a haver uma só potência hegemónica, é feita hoje com recursos a instrumentos de política fiscal e monetária e já não tanto pelas pontas das baionetas;

Os EUA acusaram cinco oficiais do exército Chinês de ciber-espionagem e roubo de "segredos comerciais" a seis empresas norte-americanas, entretanto a China anunciou a proibição da utilização do sistema Windows 8 da Microsoft como "medida de segurança";

Vladimir Putin veio encontrar-se com Xi Jinping para reforçar a cooperação militar entre os dois países e procurar um novo grande acordo nos domínios do gás, revelando como o ocidente alienou a Rússia virando-a para a Ásia e reforçando assim inadvertidamente a influência trans-regional da China.

O mundo está num processo de acelerada reconversão em que geografias antes periféricas adquirem uma centralidade que era sua na ancestralidade. Neste ambiente, a política económica tem de ser hábil e tanto adaptativa como prospectiva.

Re-capacitar a diplomacia tecno-económica

Os tempos recentes mostram como o desenho da teia de interesses global segue a lógica da agenda industrial e comercial. Assim, a diplomacia torna-se uma noção abrangente bem como crucial enquanto ferramenta da política económica e das políticas de educação, investigação e inovação.

Decorre daqui a importância da preparação, do profissionalismo e da visão estratégica da representação de Portugal no exterior. Porém, a recente missão à China dá-nos algumas lições a este nível. Por exemplo:

O ministro que melhor esteve foi obviamente Rui Machete pois não falou, pena é que seja ele quem supostamente está com a pasta dos assuntos externos;

O Ministro da Economia precipita-se quando tenta vender apressadamente a TAP (já basta, aliás, uma EDP repleta cheia administradores não-executivos injustificáveis!) e não percebe que ao sair de uma sessão pública, sem o fazer com descrição, para outro compromisso está automaticamente a desprestigiar e esvaziar a mesma;

Não é concebível que o novo Presidente da AICEP Miguel Frasquilho use da palavra para privilegiar a promoção de uma universidade portuguesa, que é a instituição (privada) onde obteve a sua licenciatura; e...

Também é pouco explicável que se afecte a organização de eventos deste delicado recorte a uma (inevitavelmente suspeita-do-costume) sociedade de advogados de Lisboa e não a uma empresa de relações públicas especializada.

No meio destas desventuras, a Presidência da República seguiu com as actividades aqui em Macau, as quais decorreram sem incidentes e com escolhas sensatas quanto às visitas realizadas (Escola Portuguesa, Instituto Politécnico e Universidade) e à enfase na herança imaterial e material portuguesa no território (cultura, património). Por um lado, era de toda a propriedade que terminasse aqui o périplo. Mas, por outro, era também uma obrigação que corresse bem já que se tinha de apagar a "inenarrável" gaffe do Vice-PM Paulo Portas em Novembro último.

Concluindo: novas aptidões para a diplomacia funcional precisam-se no mundo moderno. Se tal não for abundante então que se exija pelo menos bom senso e boas maneiras. Nestas, tal como noutras matérias, não basta ir para fora achando-se com direito natural à classe executiva. É tempo de os portugueses exigirem um "upgrade".

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