O Cachimbo de Magritte: Da inutilidade dos manifestos

03-07-2011
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Há uma euforia de manifestos em Portugal, em escrevê-los, em discuti-los e em refutá-los escrevendo outros manifestos, que por sua vez serão discutidos e refutados. No fim, ninguém concorda com ninguém. Mas há um ponto sobre o qual podemos concordar: já nada disto serve de alguma coisa.(1) O primeiro manifesto foi o único que se levou a sério. Não quero com isto dizer que por isso as suas conclusões não sejam contestáveis, pois sê-lo-ão certamente. Mas este, o primeiro, foi o único que veio servir os objectivos reais a que se propôs: juntar um grupo de especialistas, e oferecer a quem decide um parecer económico sobre os investimentos públicos. Os outros, que são respostas ao primeiro, servem a construção de um equilíbrio de opiniões especializadas, para que na opinião pública não se pense que quem decide está contra os especialistas. A existência de três manifestos ajuda quem tem de decidir, uma vez que desvaloriza as discórdias e o peso das conclusões de cada um. Todos apelam a uma mesma autoridade na discussão, mas todos concluem coisas diferentes. Portanto, nada feito.(2) Todos os manifestos são problemáticos: aparentemente, o primeiro reúne gente do PSD (interesses políticos); o segundo está assinado, entre outros, pelo Boaventura Sousa Santos (que no melhor dos casos, não é um especialista); e o terceiro está assinado por gente que dirige ou dirigiu grandes empresas que beneficiam com os investimentos públicos (conflito de interesses evidente). Questionados os interesses por detrás dos manifestos, estes tornam-se irrelevantes e a discussão retorna ao plano das opiniões.(3) Parece impossível em Portugal fazer-se algo de político fora do controlo apertado do monopólio dos poderes partidários. Não se pensa em Portugal fora do partido. Daí que possam surgir mais uns dez manifestos, que saberemos sempre encaixá-los nos assentos da Assembleia da República. Quem avança, diz a regra, ou está partidarizado, ou foi escolhido pelo partido para avançar, e não importa se isso verifica ou não: a suspeita basta, e tudo se resume ao lado que se apoia. No final, o importante é que a soma das opiniões não seja desfavorável ao partido. O resto, incluindo o interesse nacional, fica à espera que passe o ano eleitoral.


Há uma euforia de manifestos em Portugal, em escrevê-los, em discuti-los e em refutá-los escrevendo outros manifestos, que por sua vez serão discutidos e refutados. No fim, ninguém concorda com ninguém. Mas há um ponto sobre o qual podemos concordar: já nada disto serve de alguma coisa.(1) O primeiro manifesto foi o único que se levou a sério. Não quero com isto dizer que por isso as suas conclusões não sejam contestáveis, pois sê-lo-ão certamente. Mas este, o primeiro, foi o único que veio servir os objectivos reais a que se propôs: juntar um grupo de especialistas, e oferecer a quem decide um parecer económico sobre os investimentos públicos. Os outros, que são respostas ao primeiro, servem a construção de um equilíbrio de opiniões especializadas, para que na opinião pública não se pense que quem decide está contra os especialistas. A existência de três manifestos ajuda quem tem de decidir, uma vez que desvaloriza as discórdias e o peso das conclusões de cada um. Todos apelam a uma mesma autoridade na discussão, mas todos concluem coisas diferentes. Portanto, nada feito.(2) Todos os manifestos são problemáticos: aparentemente, o primeiro reúne gente do PSD (interesses políticos); o segundo está assinado, entre outros, pelo Boaventura Sousa Santos (que no melhor dos casos, não é um especialista); e o terceiro está assinado por gente que dirige ou dirigiu grandes empresas que beneficiam com os investimentos públicos (conflito de interesses evidente). Questionados os interesses por detrás dos manifestos, estes tornam-se irrelevantes e a discussão retorna ao plano das opiniões.(3) Parece impossível em Portugal fazer-se algo de político fora do controlo apertado do monopólio dos poderes partidários. Não se pensa em Portugal fora do partido. Daí que possam surgir mais uns dez manifestos, que saberemos sempre encaixá-los nos assentos da Assembleia da República. Quem avança, diz a regra, ou está partidarizado, ou foi escolhido pelo partido para avançar, e não importa se isso verifica ou não: a suspeita basta, e tudo se resume ao lado que se apoia. No final, o importante é que a soma das opiniões não seja desfavorável ao partido. O resto, incluindo o interesse nacional, fica à espera que passe o ano eleitoral.

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