Miguel Frasquilho resolveu hoje, no “Jornal de Negócios”, brincar com uns números para denunciar o que chama do show off que tem sido feito com os números das exportações. Conclui assim:“É visível que, durante a década passada, não só Portugal ficou mais longe da Europa em termos de peso das exportações face ao PIB, como o aumento das exportações foi, em geral, pior do que o registado nos outros países apresentados (bem pior, em alguns casos). Em 2010, face ao PIB, pior que a média europeia, só 3 destes 11 países: Grécia, Portugal e Finlândia (embora esta a apenas uma décima da UE-27); pior do que nós, só mesmo a Grécia…”O que Miguel Frasquilho não diz – talvez não se tenha apercebido de que “descrever” não é a mesma coisa que “analisar” – é que o desempenho dos países está em boa medida dependente da sua geografia: quanto mais próximos do motor económico da União Europeia – a Alemanha -, maior o peso das exportações no PIB. Podemos avaliar muito facilmente isto se correlacionarmos o peso das exportações no PIB que Frasquilho lista com um indicador simples de “proximidade ao centro”: os quilómetros que separam as capitais dos vários países da capital alemã, Berlim. É um indicador um pouco grosseiro, mas serve os propósitos deste exercício.O que nos mostra o primeiro gráfico, que mobiliza os dados de 2010 que Frasquilho avança?Mostra que a geografia conta mesmo: tendencialmente, os países mais próximos da Alemanha - a sublinhado estão os países que fazem com ela fronteira – têm um peso superior das exportações no PIB do que os países periféricos (o desempenho da Irlanda seria menos positivo se o peso “contabilístico” de algumas exportações fosse descontado).Mais importante ainda, a geografia conta mais hoje quando do que no passado (2000), porque entretanto foi auxiliada pela política – isto é, pelo alargamento da União Europeia, que trouxe vantagem particularmente para os países que foram dele alvo, isto é, os do Leste Europeu. O R² do segundo gráfico, relativo aos dados de 2000, é substancialmente mais baixo que o do primeiro, o que nos diz que a proximidade ao centro passou a ser uma variável mais importante em 2010 do que em 2000, acentuando os efeitos da geografia.O terceiro gráfico mostra-nos, de outro modo, essa mesma evolução: foram os países que estão mais próximos da Alemanha que mais aumentaram o peso das exportações no PIB (em pontos percentuais) entre 2000 e 2010.O exercício de Miguel Frasquilho, ao ignorar elementos essenciais para compreender o problema, resume-se a mera politiquice. Talvez o autor fosse mais honesto se se tratasse de um relatório do BES…As empresas e os trabalhadores portugueses merecem melhor.Contributo do Pedro T.
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Miguel Frasquilho resolveu hoje, no “Jornal de Negócios”, brincar com uns números para denunciar o que chama do show off que tem sido feito com os números das exportações. Conclui assim:“É visível que, durante a década passada, não só Portugal ficou mais longe da Europa em termos de peso das exportações face ao PIB, como o aumento das exportações foi, em geral, pior do que o registado nos outros países apresentados (bem pior, em alguns casos). Em 2010, face ao PIB, pior que a média europeia, só 3 destes 11 países: Grécia, Portugal e Finlândia (embora esta a apenas uma décima da UE-27); pior do que nós, só mesmo a Grécia…”O que Miguel Frasquilho não diz – talvez não se tenha apercebido de que “descrever” não é a mesma coisa que “analisar” – é que o desempenho dos países está em boa medida dependente da sua geografia: quanto mais próximos do motor económico da União Europeia – a Alemanha -, maior o peso das exportações no PIB. Podemos avaliar muito facilmente isto se correlacionarmos o peso das exportações no PIB que Frasquilho lista com um indicador simples de “proximidade ao centro”: os quilómetros que separam as capitais dos vários países da capital alemã, Berlim. É um indicador um pouco grosseiro, mas serve os propósitos deste exercício.O que nos mostra o primeiro gráfico, que mobiliza os dados de 2010 que Frasquilho avança?Mostra que a geografia conta mesmo: tendencialmente, os países mais próximos da Alemanha - a sublinhado estão os países que fazem com ela fronteira – têm um peso superior das exportações no PIB do que os países periféricos (o desempenho da Irlanda seria menos positivo se o peso “contabilístico” de algumas exportações fosse descontado).Mais importante ainda, a geografia conta mais hoje quando do que no passado (2000), porque entretanto foi auxiliada pela política – isto é, pelo alargamento da União Europeia, que trouxe vantagem particularmente para os países que foram dele alvo, isto é, os do Leste Europeu. O R² do segundo gráfico, relativo aos dados de 2000, é substancialmente mais baixo que o do primeiro, o que nos diz que a proximidade ao centro passou a ser uma variável mais importante em 2010 do que em 2000, acentuando os efeitos da geografia.O terceiro gráfico mostra-nos, de outro modo, essa mesma evolução: foram os países que estão mais próximos da Alemanha que mais aumentaram o peso das exportações no PIB (em pontos percentuais) entre 2000 e 2010.O exercício de Miguel Frasquilho, ao ignorar elementos essenciais para compreender o problema, resume-se a mera politiquice. Talvez o autor fosse mais honesto se se tratasse de um relatório do BES…As empresas e os trabalhadores portugueses merecem melhor.Contributo do Pedro T.