Manuel Villaverde Cabral: “Para aquela coisa da esquerda, eu realmente já não dou.” « O Insurgente

21-01-2012
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Uma entrevista de Manuel Villaverde Cabral que vale a pena ler na íntegra:

Mas mesmo os grandes defensores das agências de rating, como o primeiro-ministro e o Presidente da República, também já estão passados…

Primeiro, se nós não devêssemos dinheiro não tínhamos que nos preocupar com as agências de rating. Nunca tínhamos ouvido falar delas porque, embora estivéssemos endividadíssimos, na altura isso era parte do jogo. De repente, com a crise mundial – é verdade que é a crise mundial que põe à mostra a nossa situação que não vai poder ser compensada com dinheiro, empurrando com a barriga – fomos apanhados literalmente com as calças na mão. E agora temos que puxar as calcinhas e disfarçar o máximo. Mas é preciso um governo liberal e no xadrez político-partidário português só podia ser este governo PSD-CDS, não podia ser outro. Nós estamos a tentar sair por obrigação e também por virtude de uma situação pela qual o Partido Socialista é 100 por cento responsável, na minha opinião.

Mas acabou de falar na crise mundial.

Quando eu digo que é responsável o Partido Socialista é no sentido em que o PS, tendo tido a missão histórica ingrata de desfazer a revolução do 25 de Abril – e ter desfeito bastante – não conseguiu desfazer tudo. Nós continuámos num socialismo, de baixo nível evidentemente, mas um socialismo…

Mas como é que o professor pode falar em socialismo na situação actual?

Então se quiser eu mudo. Um clientelismo de Estado.

Ah, isso é outra coisa…

Não é outra coisa, não! O socialismo é um clientelismo de Estado! Levei 70 anos a descobrir. Claro que isto é soft, evidentemente, somos livres, podemos dizer mal do governo, não serve para nada mas podemos, e isso é fundamental. Mas com Guterres e depois com Sócrates, já não para não falar dos Coelhos (esse saltitar do governo para as empresas… Coelhos é o que cá mais temos) chegou-se ao ponto em que no país o Estado, que quer dizer muitas vezes o governo, que não quer dizer outra coisa senão o partido do governo, que é o Partido Socialista que governou em 13 dos últimos 16 anos. Um Estado que controla directamente mais de 50% do PIB e indirectamente controla, com as golden-shares, com essas coisas todas, as participações, a EDP, nomeia, decide, compra, vende, etc., 80% do PIB. O Estado manda em 80%. E depois ficam 20% de pequenas e médias empresas exangues, porque não há crédito para elas. Depois há os bancos, que eram credores dos Estado, aconteceu-lhes que quando o devedor deve 100 está tramado, quando deve 100 mil, quem se trama é o credor. Estou a pensar, em particular, no BES. O BES é uma entidade política. Foi o senhor dr. Ricardo Salgado que mandou vir o FMI. Nessa quarta-feira de manhã, os bancos disseram: “É a última vez que a gente empresta e só emprestamos se chamarem o FMI”. E foi assim que o Teixeira dos Santos chamou o FMI, o outro [José Sócrates] mandou-se ao ar, atirou com o telemóvel.

Uma entrevista de Manuel Villaverde Cabral que vale a pena ler na íntegra:

Mas mesmo os grandes defensores das agências de rating, como o primeiro-ministro e o Presidente da República, também já estão passados…

Primeiro, se nós não devêssemos dinheiro não tínhamos que nos preocupar com as agências de rating. Nunca tínhamos ouvido falar delas porque, embora estivéssemos endividadíssimos, na altura isso era parte do jogo. De repente, com a crise mundial – é verdade que é a crise mundial que põe à mostra a nossa situação que não vai poder ser compensada com dinheiro, empurrando com a barriga – fomos apanhados literalmente com as calças na mão. E agora temos que puxar as calcinhas e disfarçar o máximo. Mas é preciso um governo liberal e no xadrez político-partidário português só podia ser este governo PSD-CDS, não podia ser outro. Nós estamos a tentar sair por obrigação e também por virtude de uma situação pela qual o Partido Socialista é 100 por cento responsável, na minha opinião.

Mas acabou de falar na crise mundial.

Quando eu digo que é responsável o Partido Socialista é no sentido em que o PS, tendo tido a missão histórica ingrata de desfazer a revolução do 25 de Abril – e ter desfeito bastante – não conseguiu desfazer tudo. Nós continuámos num socialismo, de baixo nível evidentemente, mas um socialismo…

Mas como é que o professor pode falar em socialismo na situação actual?

Então se quiser eu mudo. Um clientelismo de Estado.

Ah, isso é outra coisa…

Não é outra coisa, não! O socialismo é um clientelismo de Estado! Levei 70 anos a descobrir. Claro que isto é soft, evidentemente, somos livres, podemos dizer mal do governo, não serve para nada mas podemos, e isso é fundamental. Mas com Guterres e depois com Sócrates, já não para não falar dos Coelhos (esse saltitar do governo para as empresas… Coelhos é o que cá mais temos) chegou-se ao ponto em que no país o Estado, que quer dizer muitas vezes o governo, que não quer dizer outra coisa senão o partido do governo, que é o Partido Socialista que governou em 13 dos últimos 16 anos. Um Estado que controla directamente mais de 50% do PIB e indirectamente controla, com as golden-shares, com essas coisas todas, as participações, a EDP, nomeia, decide, compra, vende, etc., 80% do PIB. O Estado manda em 80%. E depois ficam 20% de pequenas e médias empresas exangues, porque não há crédito para elas. Depois há os bancos, que eram credores dos Estado, aconteceu-lhes que quando o devedor deve 100 está tramado, quando deve 100 mil, quem se trama é o credor. Estou a pensar, em particular, no BES. O BES é uma entidade política. Foi o senhor dr. Ricardo Salgado que mandou vir o FMI. Nessa quarta-feira de manhã, os bancos disseram: “É a última vez que a gente empresta e só emprestamos se chamarem o FMI”. E foi assim que o Teixeira dos Santos chamou o FMI, o outro [José Sócrates] mandou-se ao ar, atirou com o telemóvel.

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