“A favor das vuvuzelas”

08-07-2011
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“A favor das vuvuzelas”

«Agora é a gripe! Um investigador médico inglês, McNerney, garante que as tão amaldiçoadas vuvuzelas podem propagar a doença. Pelos vistos, o vírus apreciará o som do utensílio africano – ou, então, terá uma predilecção especial pelas comemorações futebolísticas. A coisa deve ser mais ou menos assim: sempre que aquele vírus ladino percebe que há um jogo de bola nas suas imediações, arranja um modo de se infiltrar numa vuvuzela ali à mão de semear para poder viajar pacatamente pela atmosfera futebolística infectando tudo e todos à mesma velocidade de um remate do Raul Meireles. Claro que o bichinho só quer mesmo vuvuzelas e futebol – a mera hipótese de repetir a façanha junto de uma orquestra de instrumentos de sopro para conseguir contagiar os amantes da música erudita é suficiente para que recue, espavorido, dados os seus consabidos e elevadíssimos valores morais e culturais que lhe vedam a possibilidade de um dislate dessa natureza…»

Assim, os teóricos anti-futebol encontraram mais uma suposta razão para tentarem banir os incitamentos às equipas e os festejos de vitória dos adeptos. Primeiro alardearam um ‘estudo’ que determinava a surdez irremediável de quem utilizasse ou estivesse próximo da coisa, não explicando como é que nunca chegaram a conclusões semelhantes em relação às conhecidas buzinas de barcos que as claques levam para as bancadas há décadas. Depois vieram com esta historieta da gripe – e não devem ficar por aqui. Recordo-me de razões similares, embora menos enroupadas em pretensa ciência, que no S. João do Porto da minha infância eram avançadas pelos paladinos do alho-porro contra o avanço dos martelinhos.

Este ódio à vuvuzela que se está a vulgarizar através de argumentos mal corroborados não passa da exibição da ponta do ‘iceberg’ que simboliza o desprezo indisfarçável pelo êxito do futebol. Eles não gostam da alegria do povo, invejam a adesão popular maciça e desdenham qualquer elemento de coesão que não seja induzido pelos iluminados do costume.

Não sei se o tal investigador é o mesmo que, há anos, assegurava que os abraços entre os jogadores quando celebravam um golo eram um comportamento de risco para a transmissão do vírus da sida. Ou se esse estudo se relacionará com o que ontem se conheceu e que concluiu que os corruptos são motivados por questões neurológicas, designadamente “falhas na região cerebral do córtex pré-frontal”…

Dos corruptos agora não falo mas que os autores desses estudos mereciam uma boa vuvuzelada entre as orelhas e o córtex pré-frontal, isso já é uma verdade irrefutável.

* Cabo da Boa Esperança, Jornal de notícias, 12 de Junho de 2010

“A favor das vuvuzelas”

«Agora é a gripe! Um investigador médico inglês, McNerney, garante que as tão amaldiçoadas vuvuzelas podem propagar a doença. Pelos vistos, o vírus apreciará o som do utensílio africano – ou, então, terá uma predilecção especial pelas comemorações futebolísticas. A coisa deve ser mais ou menos assim: sempre que aquele vírus ladino percebe que há um jogo de bola nas suas imediações, arranja um modo de se infiltrar numa vuvuzela ali à mão de semear para poder viajar pacatamente pela atmosfera futebolística infectando tudo e todos à mesma velocidade de um remate do Raul Meireles. Claro que o bichinho só quer mesmo vuvuzelas e futebol – a mera hipótese de repetir a façanha junto de uma orquestra de instrumentos de sopro para conseguir contagiar os amantes da música erudita é suficiente para que recue, espavorido, dados os seus consabidos e elevadíssimos valores morais e culturais que lhe vedam a possibilidade de um dislate dessa natureza…»

Assim, os teóricos anti-futebol encontraram mais uma suposta razão para tentarem banir os incitamentos às equipas e os festejos de vitória dos adeptos. Primeiro alardearam um ‘estudo’ que determinava a surdez irremediável de quem utilizasse ou estivesse próximo da coisa, não explicando como é que nunca chegaram a conclusões semelhantes em relação às conhecidas buzinas de barcos que as claques levam para as bancadas há décadas. Depois vieram com esta historieta da gripe – e não devem ficar por aqui. Recordo-me de razões similares, embora menos enroupadas em pretensa ciência, que no S. João do Porto da minha infância eram avançadas pelos paladinos do alho-porro contra o avanço dos martelinhos.

Este ódio à vuvuzela que se está a vulgarizar através de argumentos mal corroborados não passa da exibição da ponta do ‘iceberg’ que simboliza o desprezo indisfarçável pelo êxito do futebol. Eles não gostam da alegria do povo, invejam a adesão popular maciça e desdenham qualquer elemento de coesão que não seja induzido pelos iluminados do costume.

Não sei se o tal investigador é o mesmo que, há anos, assegurava que os abraços entre os jogadores quando celebravam um golo eram um comportamento de risco para a transmissão do vírus da sida. Ou se esse estudo se relacionará com o que ontem se conheceu e que concluiu que os corruptos são motivados por questões neurológicas, designadamente “falhas na região cerebral do córtex pré-frontal”…

Dos corruptos agora não falo mas que os autores desses estudos mereciam uma boa vuvuzelada entre as orelhas e o córtex pré-frontal, isso já é uma verdade irrefutável.

* Cabo da Boa Esperança, Jornal de notícias, 12 de Junho de 2010

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