A solidariedade e a mobilidade vertical
Pacheco Pereira está muito melhor nesta situação os Charlies do que tem estado nos últimos 3 anos, no entanto muita da demagogia desse período continua a acompanhá-lo, como se pode ver neste trecho:
À sua frente [da manif dos Charlies] vão os homens e mulheres que estão a construir uma Europa não democrática, de Merkel a Passos Coelho, que abandonaram qualquer ideia de uma Europa assente na solidariedade, que ajudaram a criar e a reforçar sociedades em que não há mobilidade vertical, o único mecanismo que permite assegurar o melting pot, logo a integração de todos, os que cá estão e os que conseguem passar as aguas do Mediterrâneo sem morrer nelas.
Por tópicos:
1. Merkel e Passos Coelho não querem construir Europa nenhuma. Querem apenas, se é que querem alguma coisa, criar uma ordem mínima que impeça que as instituições se degradem ainda mais. Em Portugal e na Europa não é mais possível viver de balas mágicas e são necessárias reformas dolorosas. Pacheco Pereiro andou a combater qualquer tipo de reforma nos últimos 3 anos, mas na anterior reencarnação (quando se dizia liberal) defendia a ideia geral que Passos e Merkel agora defendem. Menos Estado, menos dependência de dívida, menos dependência de esquemas de solidariedade inviáveis.
2. O problema da Europa não é falta de democracia. A Europa não é gerível com a maioria a mandar nos assuntos europeus. Não é gerível com o Euro a ser gerido por voto maioritário. Não é gerível com transferências entre Estados a serem geridas por voto maioritário dos cidadãos europeus. As democracias nacionais do Norte da Europa seriam as primeiras a opor-se a esse tipo de esquemas, por muito que as democracias nacionais do sul da Europa o desejem.
3. A Europa não pode ser assente na solidariedade que os países do sul da Europa desejam porque os países do Norte da Europa dificilmente aceitariam uma solidariedade baseada em transferências Norte-Sul para alem dos limites actuais (e já há muitas transferências desse tipo).
4. Não é a solidariedade que gera mobilidade vertical. É a liberdade. A Europa já tem Estados sociais rígidos e com programas para todo o tipo de pessoas, desde os pobres e os velhos, passando pelos jovens e os emigrantes e acabando no empreendedorismo e nas pequenas e médias empresas. Que mais solidariedade têm em mente? São os custos destas políticas de solidariedade, bem como a rigidez do mercado laboral e do complexo do emprego público para a vida, que tornam impossível qualquer mobilidade vertical.
5. “Melting pot” é uma expressão americana cunhada num período em que os EUA tinham instituições liberais, mercados de trabalho competitivos e sem barreiras à entrada, baixa despesa pública, baixos níveis de solidariedade promovida pelo Estado (e ironicamente elevados níveis de solidariedade privada). Foi também neste período que os Estados Unidos tiveram baixos níveis de democracia federal (com o Estado federal focado em questões essenciais como ordem e segurança e em criar um ambiente competitivo entre os diversos Estados). Apesar de ser um país mais jovem, os EUA respeitaram durante muito tempo a autonomia dos Estados e têm um sistema que limita o poder da maioria ao nível Federal. Note-se que os EUA estão a mudar, e a mobilidade vertical já não é o que era.
6. Em resumo, democracia e solidariedade pública são incompatíveis com mobilidade vertical e melting pot. Por isso é que nos EUA há melting pot e na França há guetos.
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A solidariedade e a mobilidade vertical
Pacheco Pereira está muito melhor nesta situação os Charlies do que tem estado nos últimos 3 anos, no entanto muita da demagogia desse período continua a acompanhá-lo, como se pode ver neste trecho:
À sua frente [da manif dos Charlies] vão os homens e mulheres que estão a construir uma Europa não democrática, de Merkel a Passos Coelho, que abandonaram qualquer ideia de uma Europa assente na solidariedade, que ajudaram a criar e a reforçar sociedades em que não há mobilidade vertical, o único mecanismo que permite assegurar o melting pot, logo a integração de todos, os que cá estão e os que conseguem passar as aguas do Mediterrâneo sem morrer nelas.
Por tópicos:
1. Merkel e Passos Coelho não querem construir Europa nenhuma. Querem apenas, se é que querem alguma coisa, criar uma ordem mínima que impeça que as instituições se degradem ainda mais. Em Portugal e na Europa não é mais possível viver de balas mágicas e são necessárias reformas dolorosas. Pacheco Pereiro andou a combater qualquer tipo de reforma nos últimos 3 anos, mas na anterior reencarnação (quando se dizia liberal) defendia a ideia geral que Passos e Merkel agora defendem. Menos Estado, menos dependência de dívida, menos dependência de esquemas de solidariedade inviáveis.
2. O problema da Europa não é falta de democracia. A Europa não é gerível com a maioria a mandar nos assuntos europeus. Não é gerível com o Euro a ser gerido por voto maioritário. Não é gerível com transferências entre Estados a serem geridas por voto maioritário dos cidadãos europeus. As democracias nacionais do Norte da Europa seriam as primeiras a opor-se a esse tipo de esquemas, por muito que as democracias nacionais do sul da Europa o desejem.
3. A Europa não pode ser assente na solidariedade que os países do sul da Europa desejam porque os países do Norte da Europa dificilmente aceitariam uma solidariedade baseada em transferências Norte-Sul para alem dos limites actuais (e já há muitas transferências desse tipo).
4. Não é a solidariedade que gera mobilidade vertical. É a liberdade. A Europa já tem Estados sociais rígidos e com programas para todo o tipo de pessoas, desde os pobres e os velhos, passando pelos jovens e os emigrantes e acabando no empreendedorismo e nas pequenas e médias empresas. Que mais solidariedade têm em mente? São os custos destas políticas de solidariedade, bem como a rigidez do mercado laboral e do complexo do emprego público para a vida, que tornam impossível qualquer mobilidade vertical.
5. “Melting pot” é uma expressão americana cunhada num período em que os EUA tinham instituições liberais, mercados de trabalho competitivos e sem barreiras à entrada, baixa despesa pública, baixos níveis de solidariedade promovida pelo Estado (e ironicamente elevados níveis de solidariedade privada). Foi também neste período que os Estados Unidos tiveram baixos níveis de democracia federal (com o Estado federal focado em questões essenciais como ordem e segurança e em criar um ambiente competitivo entre os diversos Estados). Apesar de ser um país mais jovem, os EUA respeitaram durante muito tempo a autonomia dos Estados e têm um sistema que limita o poder da maioria ao nível Federal. Note-se que os EUA estão a mudar, e a mobilidade vertical já não é o que era.
6. Em resumo, democracia e solidariedade pública são incompatíveis com mobilidade vertical e melting pot. Por isso é que nos EUA há melting pot e na França há guetos.