Os regimes e a rotina*

09-07-2011
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Os regimes e a rotina*

Muito francamente, não creio que o fastio que muitos sentem com a reeleição de Cavaco Silva justifique o recente entusiasmo com a redução de dois para um dos mandatos presidenciais, tanto mais que essa alteração se traduziria numa presidencialização do regime. Mas, sobretudo, deste súbito frenesi com a alteração dos mandatos presidenciais sobressai a evidência de que nunca seremos uma democracia como aquelas, nomeadamente a norte-americana, que todos os dias declaramos invejar: por cá, quando não se gosta de um Presidente, desvaloriza-se-lhe a função e equaciona-se alterar o regime. Lá, e noutras paragens que igualmente prezam a liberdade e respeitam o povo, vê-se o que falhou nas candidaturas derrotadas e parte-se melhor preparado para a próxima campanha, que, imagine-se a rotina, termina sempre numas eleições que têm lugar invariavelmente na mesma terça-feira de Novembro. A rotina é indissociável das democracias porque as mudanças são asseguradas pelo debate ideológico e pela dinâmica da sociedade. Só quando o debate é fraco e a liberdade pouco valorizada é que o ímpeto de mudança é canalizado e canibalizado, numa espécie de movimento centrípedo, pela discussão em torno da própria orgânica do regime.

*PÚBLICO

Os regimes e a rotina*

Muito francamente, não creio que o fastio que muitos sentem com a reeleição de Cavaco Silva justifique o recente entusiasmo com a redução de dois para um dos mandatos presidenciais, tanto mais que essa alteração se traduziria numa presidencialização do regime. Mas, sobretudo, deste súbito frenesi com a alteração dos mandatos presidenciais sobressai a evidência de que nunca seremos uma democracia como aquelas, nomeadamente a norte-americana, que todos os dias declaramos invejar: por cá, quando não se gosta de um Presidente, desvaloriza-se-lhe a função e equaciona-se alterar o regime. Lá, e noutras paragens que igualmente prezam a liberdade e respeitam o povo, vê-se o que falhou nas candidaturas derrotadas e parte-se melhor preparado para a próxima campanha, que, imagine-se a rotina, termina sempre numas eleições que têm lugar invariavelmente na mesma terça-feira de Novembro. A rotina é indissociável das democracias porque as mudanças são asseguradas pelo debate ideológico e pela dinâmica da sociedade. Só quando o debate é fraco e a liberdade pouco valorizada é que o ímpeto de mudança é canalizado e canibalizado, numa espécie de movimento centrípedo, pela discussão em torno da própria orgânica do regime.

*PÚBLICO

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