Som de Cristal

20-09-2015
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Som de Cristal

Não imagino o que passou pela cabeça à dupla Quadros/Nogueira para a criação do programa da SIC, “Som de Cristal”. Mais ainda: não consigo imaginar o pitching de um programa de televisão deste tipo a um director de programação. Se, por um lado, a persona que Quadros apresenta nas redes sociais é tão intratável que dificilmente poderá ser genuína, por outro não parece que o humor pretendido para o programa fosse para ser obtido à custa do preconceito de urbanos privilegiados para com emigrantes e pessoas simples que encontram nos artistas ditos “pimba” um escape para o quotidiano.

Vi, até ao momento, todos os programas emitidos. Com uma excepção para a sequência manhosa que captura Roberto Leal como um simplório disposto a tudo para aparecer – não me passou despercebida a tentativa (que considerei deliberada) de colar um suposto beijo gay num barco a remos ao devoto católico que Leal projecta ser – não há um único momento que não eleve o artista à condição de humano, coisa impossível no brilho plástico dos programas televisivos das manhãs.

O que emana de “Som de Cristal” é que cada uma daquelas pessoas é um genuíno português que conhece o seu público e o efeito que a sua música causa neste. E se, tal como eu, nunca se deram ao trabalho de pensar em Nel Monteiro ou Marante como seres humanos dedicados de corpo e alma a um ofício – aquilo que nos define, em última instância, como parte activa da pátria -, graças a “Som de Cristal” passaram a atribuir não só respeito como também carinho oriundo de um público diferente do seu habitual: o dos restantes portugueses que subsistem pelos seus próprios meios.

Som de Cristal

Não imagino o que passou pela cabeça à dupla Quadros/Nogueira para a criação do programa da SIC, “Som de Cristal”. Mais ainda: não consigo imaginar o pitching de um programa de televisão deste tipo a um director de programação. Se, por um lado, a persona que Quadros apresenta nas redes sociais é tão intratável que dificilmente poderá ser genuína, por outro não parece que o humor pretendido para o programa fosse para ser obtido à custa do preconceito de urbanos privilegiados para com emigrantes e pessoas simples que encontram nos artistas ditos “pimba” um escape para o quotidiano.

Vi, até ao momento, todos os programas emitidos. Com uma excepção para a sequência manhosa que captura Roberto Leal como um simplório disposto a tudo para aparecer – não me passou despercebida a tentativa (que considerei deliberada) de colar um suposto beijo gay num barco a remos ao devoto católico que Leal projecta ser – não há um único momento que não eleve o artista à condição de humano, coisa impossível no brilho plástico dos programas televisivos das manhãs.

O que emana de “Som de Cristal” é que cada uma daquelas pessoas é um genuíno português que conhece o seu público e o efeito que a sua música causa neste. E se, tal como eu, nunca se deram ao trabalho de pensar em Nel Monteiro ou Marante como seres humanos dedicados de corpo e alma a um ofício – aquilo que nos define, em última instância, como parte activa da pátria -, graças a “Som de Cristal” passaram a atribuir não só respeito como também carinho oriundo de um público diferente do seu habitual: o dos restantes portugueses que subsistem pelos seus próprios meios.

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