O nosso retrato

10-07-2011
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A entrevista de Rosalina Machado à revista do Sol neste último Sábado é todo um retrato de Portugal e das razões porque somos um país de faz-de-conta, independentemente do mérito da senhora, que não conheço e não posso ajuizar. Comecemos na descrição da carreira profissional, que parece ter sido conseguida com grande ajuda dos conhecimentos da família do marido da entrevistada. Continuemos no convite para a Ogilvy & Mother, que segundo Rosalina Machado foi obtido não por um knock-out aos executivos da empresa de publicidade através da brilhante competência demonstrada pela senhora mas porque estavam interessados na rede de conhecimentos que a entrevistada tinha. Depois destas informações prestadas, Rosalina Machado conta-nos que foi candidata ao Parlamento Europeu pelo PS, tendo desde o início posto a condição de, se eleita, não ocupar o cargo para o qual tinha concorrido e sido eleita (coisa que, não se refere, mas presumo não haver sido devidamente informada aos eleitores). Por fim, lá vêm as preferências políticas, o Sócrates que governa bem mas não comunica bem (!), o Mário Soares que é um amigo (coisa que fica sempre bem), a Maria José Nogueira Pinto que é outra amiga (também fica bem) e demais blablablá.

Já se sabe que Portugal é um país pequeno e que a rede de conhecimentos é essencial para o sucesso. Quase ninguém escapa a isto e muito pouca gente pode dizer que foi bem-sucedida sem ter gozado de algum benefício desta teia de conhecimentos. E o facto de se conhecer pessoas adequadas não implica que não exista mérito próprio no sucesso. Outra coisa é uma entrevista em que se reconhece como se da lei da vida se tratasse – e pelas preferências políticas reveladas, trata-se de alguém de esquerda, supostamente os campiões da igualdade – que as relações sociais determinam o nosso sucesso profissional; e como se não houvesse nada de errado no facto de uma mulher que é apontada como das mais bem-sucedidas em Portugal ter conseguido tudo devido à teia de conhecimentos e familiares do marido, como se não se devesse ter pudor em revelar algo assim e como se o jornalista não tivesse a obrigação de a questionar sobre esta forma de obter empregos. Também o facto de alguém se candidatar a umas eleições sem pretender ocupar o lugar para que eventualmente pudesse ser eleita não escandalizou – nem quem contou o episódio nem quem ouviu. Como se não fosse um desrespeito pelos eleitores e uma fraude à democracia.

Eu não sei o que é pior: se o facto destas coisas acontecerem, se as pessoas as contarem despudoradamente como se de procedimentos correctos se tratassem, se ninguém se escandalizar por as ler.

A entrevista de Rosalina Machado à revista do Sol neste último Sábado é todo um retrato de Portugal e das razões porque somos um país de faz-de-conta, independentemente do mérito da senhora, que não conheço e não posso ajuizar. Comecemos na descrição da carreira profissional, que parece ter sido conseguida com grande ajuda dos conhecimentos da família do marido da entrevistada. Continuemos no convite para a Ogilvy & Mother, que segundo Rosalina Machado foi obtido não por um knock-out aos executivos da empresa de publicidade através da brilhante competência demonstrada pela senhora mas porque estavam interessados na rede de conhecimentos que a entrevistada tinha. Depois destas informações prestadas, Rosalina Machado conta-nos que foi candidata ao Parlamento Europeu pelo PS, tendo desde o início posto a condição de, se eleita, não ocupar o cargo para o qual tinha concorrido e sido eleita (coisa que, não se refere, mas presumo não haver sido devidamente informada aos eleitores). Por fim, lá vêm as preferências políticas, o Sócrates que governa bem mas não comunica bem (!), o Mário Soares que é um amigo (coisa que fica sempre bem), a Maria José Nogueira Pinto que é outra amiga (também fica bem) e demais blablablá.

Já se sabe que Portugal é um país pequeno e que a rede de conhecimentos é essencial para o sucesso. Quase ninguém escapa a isto e muito pouca gente pode dizer que foi bem-sucedida sem ter gozado de algum benefício desta teia de conhecimentos. E o facto de se conhecer pessoas adequadas não implica que não exista mérito próprio no sucesso. Outra coisa é uma entrevista em que se reconhece como se da lei da vida se tratasse – e pelas preferências políticas reveladas, trata-se de alguém de esquerda, supostamente os campiões da igualdade – que as relações sociais determinam o nosso sucesso profissional; e como se não houvesse nada de errado no facto de uma mulher que é apontada como das mais bem-sucedidas em Portugal ter conseguido tudo devido à teia de conhecimentos e familiares do marido, como se não se devesse ter pudor em revelar algo assim e como se o jornalista não tivesse a obrigação de a questionar sobre esta forma de obter empregos. Também o facto de alguém se candidatar a umas eleições sem pretender ocupar o lugar para que eventualmente pudesse ser eleita não escandalizou – nem quem contou o episódio nem quem ouviu. Como se não fosse um desrespeito pelos eleitores e uma fraude à democracia.

Eu não sei o que é pior: se o facto destas coisas acontecerem, se as pessoas as contarem despudoradamente como se de procedimentos correctos se tratassem, se ninguém se escandalizar por as ler.

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