What’s in a Chicão?

11-04-2020
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Do ponto de vista político, talvez seja ainda cedo para ter uma opinião formada sobre o novo presidente do CDS. No entanto, no plano onomástico, creio que já é possível tirar algumas conclusões. Justa ou injustamente, os partidos têm uma imagem, que é formada, entre outros factores, pelo tipo de pessoas que os integram. Dificilmente encontramos um Filipe Lobo d’Ávila ou um Martim Borges de Freitas no comité central do PCP, assim como não é provável haver um Agostinho Lopes ou uma Cesaldina Robalo na direcção do CDS. Nessa medida, ter um Chicão a presidir o CDS parece simultaneamente inovador e tradicional. Não choca que um Francisco dirija o partido, mas talvez se esperasse que fosse tratado por Quico. Chicão tem uma ressonância que se filia menos na tradição queque e mais na linha do fado e dos toiros (duas tendências importantes do partido, que é ideologicamente muito diverso e rico). Em suma, Chicão transmite a imagem, provavelmente enganadora, de um marialva que não convida gajas para a direcção do partido.

A verdade é que isto dos nomes pode não querer dizer nada. O facto de não haver mulheres na direcção do Chicão, até ver, não passa de coincidência. Enquanto não o ouvirmos cantar, com alma e sentimento, “Eu tive um cavalo ruço / que se chamava Gingão”, não devemos precipitar-nos para juízos definitivos. No CDS, a ausência de mulheres na direcção pode não ser resultado de uma atitude machista, mas sim de um raciocínio lógico difícil de contestar. Refiro-me ao seguinte silogismo:

No CDS as mulheres são desvalorizadas a ponto de não haver nenhuma na direcção; As militantes que se inscrevem num partido que não lhes dá valor revelam pouco discernimento; Não é ajuizado convidar pessoas com pouco discernimento para cargos importantes; Não é ajuizado convidar mulheres do CDS para cargos importantes.

A perfeita circularidade do raciocínio explica que não haja mulheres do CDS na direcção do CDS. Assunção Cristas é uma excepção porque presidia um outro CDS, com o qual o novo CDS quis acabar. Esses tempos passados são agora execrados, o que também demonstra que as acusações de reaccionarismo ao CDS do Chicão são injustas: este CDS não diz que antigamente é que era bom, diz que antigamente é que era mau.

(Opinião publicada na VISÃO 1404 de 30 de janeiro)

Do ponto de vista político, talvez seja ainda cedo para ter uma opinião formada sobre o novo presidente do CDS. No entanto, no plano onomástico, creio que já é possível tirar algumas conclusões. Justa ou injustamente, os partidos têm uma imagem, que é formada, entre outros factores, pelo tipo de pessoas que os integram. Dificilmente encontramos um Filipe Lobo d’Ávila ou um Martim Borges de Freitas no comité central do PCP, assim como não é provável haver um Agostinho Lopes ou uma Cesaldina Robalo na direcção do CDS. Nessa medida, ter um Chicão a presidir o CDS parece simultaneamente inovador e tradicional. Não choca que um Francisco dirija o partido, mas talvez se esperasse que fosse tratado por Quico. Chicão tem uma ressonância que se filia menos na tradição queque e mais na linha do fado e dos toiros (duas tendências importantes do partido, que é ideologicamente muito diverso e rico). Em suma, Chicão transmite a imagem, provavelmente enganadora, de um marialva que não convida gajas para a direcção do partido.

A verdade é que isto dos nomes pode não querer dizer nada. O facto de não haver mulheres na direcção do Chicão, até ver, não passa de coincidência. Enquanto não o ouvirmos cantar, com alma e sentimento, “Eu tive um cavalo ruço / que se chamava Gingão”, não devemos precipitar-nos para juízos definitivos. No CDS, a ausência de mulheres na direcção pode não ser resultado de uma atitude machista, mas sim de um raciocínio lógico difícil de contestar. Refiro-me ao seguinte silogismo:

No CDS as mulheres são desvalorizadas a ponto de não haver nenhuma na direcção; As militantes que se inscrevem num partido que não lhes dá valor revelam pouco discernimento; Não é ajuizado convidar pessoas com pouco discernimento para cargos importantes; Não é ajuizado convidar mulheres do CDS para cargos importantes.

A perfeita circularidade do raciocínio explica que não haja mulheres do CDS na direcção do CDS. Assunção Cristas é uma excepção porque presidia um outro CDS, com o qual o novo CDS quis acabar. Esses tempos passados são agora execrados, o que também demonstra que as acusações de reaccionarismo ao CDS do Chicão são injustas: este CDS não diz que antigamente é que era bom, diz que antigamente é que era mau.

(Opinião publicada na VISÃO 1404 de 30 de janeiro)

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