O fogareiro: O assalto ao «Santa Maria»

22-01-2012
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Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete «Santa Maria», incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.O «Santa Maria» tinha largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961, em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala, no dia 20, no porto venezuelano de La Guaira.Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL – Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituído por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no «Santa Maria» um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL.Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 tinha concluído os planos de assalto ao «Santa Maria». Foi escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central.O capitão Galvão pretendia deslocar-se no «Santa Maria» até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e Madrid.Horas depois da largada de Curaçau, o «Santa Maria» navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à um hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de 1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabina de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto, João José Nascimento Costa, ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro.Pouco depois, o «Santa Maria» alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, dois feridos graves com cinco tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado.No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o «Santa Maria» horas depois.Finalmente, a 2 de Fevereiro, o «Santa Maria» fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque de passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o «Santa Maria» voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o «Vera Cruz», que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo. Por sua vez, o «Santa Maria» largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo a 16 e atracando em Alcântara.Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso «Santa Maria», este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses. Embora o «Infante Dom Henrique» e o «Príncipe Perfeito» fossem mais recentes, o «Santa Maria» era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.Coincidindo com o desvio do «Santa Maria», deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola. O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril, «rapidamente e em força», importantes reforços militares. Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga pelo Ministério do Exército para efectuar o transporte de tropas e material de guerra. A utilização esporádica, para este fim, de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses.in «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia


Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete «Santa Maria», incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.O «Santa Maria» tinha largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961, em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala, no dia 20, no porto venezuelano de La Guaira.Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL – Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituído por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no «Santa Maria» um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL.Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 tinha concluído os planos de assalto ao «Santa Maria». Foi escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central.O capitão Galvão pretendia deslocar-se no «Santa Maria» até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e Madrid.Horas depois da largada de Curaçau, o «Santa Maria» navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à um hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de 1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabina de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto, João José Nascimento Costa, ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro.Pouco depois, o «Santa Maria» alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, dois feridos graves com cinco tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado.No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o «Santa Maria» horas depois.Finalmente, a 2 de Fevereiro, o «Santa Maria» fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque de passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o «Santa Maria» voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o «Vera Cruz», que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo. Por sua vez, o «Santa Maria» largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo a 16 e atracando em Alcântara.Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso «Santa Maria», este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses. Embora o «Infante Dom Henrique» e o «Príncipe Perfeito» fossem mais recentes, o «Santa Maria» era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.Coincidindo com o desvio do «Santa Maria», deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola. O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril, «rapidamente e em força», importantes reforços militares. Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga pelo Ministério do Exército para efectuar o transporte de tropas e material de guerra. A utilização esporádica, para este fim, de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses.in «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia

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