Prémio do Parlamento Europeu para Manuela Eanes, veterana na luta pelos Direitos das Crianças

12-10-2015
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Manuela Eanes recebe esta sexta-feira o Prémio Cidadão Europeu 2015 pelo seu trabalho à frente do Instituto de Apoio à Criança. O prémio é (apenas) uma medalha, "mais do que merecida", por ter dado voz a esta combate quando ninguém falava dele. Mário Ruivo e o Instituto Marquês de Valle Flôr também são homenageados

Para alguns, Manuela Eanes, pode ser apenas a mulher de Ramalho Eanes ou a mais jovem primeira-dama da Democracia portuguesa. Para os eurodeputados portugueses José Inácio Faria [Partido da Terra], Ana Gomes [PS], Inês Zuber [PCP] e Sofia Ribeiro [PSD], ela é a grande "percursora" no combate pelos Direitos das Crianças, merecendo por isso esta homenagem das instituições europeias que só peca por ser "tardia".

A iniciativa de propôr o nome de Manuela Eanes, presidente do Insituto de Apoio à Criança (IAC), partiu de José Inácio Faria, mas rapidamente contou com o apoio das suas colegas do PS, PCP e PSD: "A Ana Gomes foi uma grande entusiasta desta candidatura, e a Marisa Matias do Bloco de Esquerda só não apoiou o nome de Manuela Eanes porque já tinha apoiado a candidatura de Mário Ruivo ao mesmo prémio", disse José Inácio Faria ao Expresso.

Os países "podem apresentar vários candidatos; cada candidato tem de ser apoiado por um grupo mínimo de quatro eurodeputados", explica José Inácio Faria; isto justifica que sejam igualmente distinguidos (em 2015) o investigador e oceanógrafo Mário Ruivo, e o Instituto Valle Flôr.

"O trabalho de Manuela Eanes tem beneficiado crianças em Portugal e noutros países. Ela é percursora na luta por estes direitos dos mais desfavorecidos. Desde que fundou o IAC nunca mais parou este trabalho, esta luta", acrescenta José Inácio Faria.

DR

O impacto da jovem mulher do Presidente

Maria Manuela Duarte Neto Portugal Ramalho Eanes tinha 37 anos quando o marido foi eleito Presidente da República, por sufrágio universal, a 27 de Junho de 1976. Esta mulher jovem, vistosa e licenciada, acabou por encarnar um novo modelo de cônjuge do Presidente na história portuguesa e, à época, foi uma lufada de ar fresco mesmo ao nível das suas homólogas de outros países.

Era mãe de uma criança pequena [Manuel] e estava a construir uma carreira profissional na área da ação social. Para completar este clima de renovação, foi mãe de Miguel a 20 de Outubro de 1977. O nascimento do mais novo dos dois filhos do casal Ramalho Eanes teve direito a uma menção especial em toda a imprensa da época e emprestou uma providencial simpatia à imagem distante e austera do então Presidente. O bebé foi batizado na capela do Palácio de Belém, e o irmão foi o padrinho.

DR

Um namoro que começou num 25 de abril...

Manuela conheceu o seu futuro marido num jantar organizado no Dia de Reis de 1969, na Academia Militar, onde António era director dos Serviços Culturais, e começaram a namorar no dia 25 de abril desse mesmo ano. Ela tinha acabado de completar 30 anos, e ele estava prestes a ser considerado um solteirão inveterado.

DR

A cumplicidade entre os dois surgiu quase que de imediato. e começaram a encontrar-se esporadicamente nos concertos da recentemente inaugurada Fundação Calouste Gulbenkian.

Nessa época, ela trabalhava no Instituto de Obras Sociais do Ministério da Segurança Social. Enquanto estudante da Faculdade de Direito de Lisboa foi presidente da Juventude Universitária Católica Feminina, facto que haveria de marcar a sua vida, atitude, pensamento, discurso, bem como a sua forma de intervir em termos políticos e sociais.

DR

Os anos de Belém

Quando Ramalho Eanes foi eleito Presidente, o casal decidiu continuar a residir na vivenda do Bairro da Madre de Deus, onde ainda moram. A instabilidade política que então se vivia, depressa mostraria que a casa - com porta direta para a rua - não tinha condições de segurança adequadas. Quando se mudaram para Belém, o Palácio estava muito degradado e escasseava o dinheiro para a sua renovação.

A ‘equipa’ Ramalho Eanes teve de vender um apartamento de férias que possuía na Costa da Caparica para arredondar o orçamento; o Presidente da República, naquela época, ganhava menos do que o seu ajudante de campo.

Arquivo A Capital

A infeliz expressão primeira-dama

Tal como a sua ‘sucessora’ em Belém, Maria Barroso, Manuela nunca gostou da expressão Primeira Dama: “Nunca gostei dessa expressão” [retirado do texto “As Primeiras Damas da Democracia, parte de um livro editado pelo Museu da Presidência sobre as mulheres dos Presidentes]. “A designação é importada e não tem cabimento jurídico, não faz parte da nossa tradição cultural e soa-me sempre a algo de artificial”.

Rui Ochôa

Orgulha-se de ter patrocinado, à época da sua passagem pelo Palácio de Belém, os Encontros sobre Literatura Infantil na Fundação Calouste Gulbenkian.

A nível internacional, acompanhou o marido num número significativo de visitas oficiais, das quais a própria destaca as viagens aos PALOP.

Na função de mulher do Presidente, participou - entre muitas outras reuniões – em abril de 1985, na Conferência de Primeiras Damas que Nancy Reagan promoveu em Washington com o objectivo de debater o problema da Droga. A sua juventude [em comparação com as restantes] fez com que fosse escolhida como “porta-voz” do discurso de todas as “primeiras damas” convidadas para este encontro. Betty Boyd Caroli, autora do livro “First Ladies”, escreve que esta conferência “teve destaque de 1ª página em todo o país”.

Arquivo A Capital

Fundação do IAC e da Linha SOS Criança

A sua grande preocupação com os problemas da Criança teve o seu momento alto com a criação do Instituto de Apoio à Criança (IAC), em 1983. Trinta e dois anos passados, o IAC é uma instituição firmada na sociedade portuguesa – com projecção internacional – que desenvolveu projectos tão importantes como a Linha SOS Criança e o Projecto Rua, entre muitos outros.

Aos 76 anos, Manuela continua a presidir ao Instituto, e a travar uma dura luta pela obtenção do financiamento necessário ao trabalho da instituição.... que desde a intervenção da troika tem mais solicitações e menos recursos.

Rui Ochôa

O casal Ramalho Eanes legou todos os presentes recebidos no desempenho das funções de representação do Estado. Em 1980, a sala de jantar do Palácio de Belém, que nunca era utilizada, foi transformada naquilo que seria o primeiro museu da Presidência; ali ficaram expostos os presentes oferecidos ao Presidente da República por Chefes de Estado em visitas oficiais.

Nas presidenciais de 1986, apoiou Salgado Zenha, e participou em inúmeros comícios deste fundador do PS. Empenhou-se também nas campanhas do Partido Renovador Democrático, fundado em 1985 por um grupo de eanistas; este partido [já extinto] chegou a eleger 45 deputados.

Alberto Frias

Uma mulher persistente

Dignidade, respeito e solidariedade, são palavras que todos os que se cruzam com Maria Manuela Neto de Portugal Ramalho Eanes ouviram repetir vezes sem conta. E é pela sua luta em defesa desses valores e dos direitos dos mais desfavorecidos que o Parlamento Europeu homenageia esta sexta-feira esta porta-voz dos direitos das crianças. E, também, a mulher que sempre correu em pista própria, mesmo que essa corrida tenha sido feita ao lado [e com] do marido nos últimos 45 anos.

Manuela Eanes recebe esta sexta-feira o Prémio Cidadão Europeu 2015 pelo seu trabalho à frente do Instituto de Apoio à Criança. O prémio é (apenas) uma medalha, "mais do que merecida", por ter dado voz a esta combate quando ninguém falava dele. Mário Ruivo e o Instituto Marquês de Valle Flôr também são homenageados

Para alguns, Manuela Eanes, pode ser apenas a mulher de Ramalho Eanes ou a mais jovem primeira-dama da Democracia portuguesa. Para os eurodeputados portugueses José Inácio Faria [Partido da Terra], Ana Gomes [PS], Inês Zuber [PCP] e Sofia Ribeiro [PSD], ela é a grande "percursora" no combate pelos Direitos das Crianças, merecendo por isso esta homenagem das instituições europeias que só peca por ser "tardia".

A iniciativa de propôr o nome de Manuela Eanes, presidente do Insituto de Apoio à Criança (IAC), partiu de José Inácio Faria, mas rapidamente contou com o apoio das suas colegas do PS, PCP e PSD: "A Ana Gomes foi uma grande entusiasta desta candidatura, e a Marisa Matias do Bloco de Esquerda só não apoiou o nome de Manuela Eanes porque já tinha apoiado a candidatura de Mário Ruivo ao mesmo prémio", disse José Inácio Faria ao Expresso.

Os países "podem apresentar vários candidatos; cada candidato tem de ser apoiado por um grupo mínimo de quatro eurodeputados", explica José Inácio Faria; isto justifica que sejam igualmente distinguidos (em 2015) o investigador e oceanógrafo Mário Ruivo, e o Instituto Valle Flôr.

"O trabalho de Manuela Eanes tem beneficiado crianças em Portugal e noutros países. Ela é percursora na luta por estes direitos dos mais desfavorecidos. Desde que fundou o IAC nunca mais parou este trabalho, esta luta", acrescenta José Inácio Faria.

DR

O impacto da jovem mulher do Presidente

Maria Manuela Duarte Neto Portugal Ramalho Eanes tinha 37 anos quando o marido foi eleito Presidente da República, por sufrágio universal, a 27 de Junho de 1976. Esta mulher jovem, vistosa e licenciada, acabou por encarnar um novo modelo de cônjuge do Presidente na história portuguesa e, à época, foi uma lufada de ar fresco mesmo ao nível das suas homólogas de outros países.

Era mãe de uma criança pequena [Manuel] e estava a construir uma carreira profissional na área da ação social. Para completar este clima de renovação, foi mãe de Miguel a 20 de Outubro de 1977. O nascimento do mais novo dos dois filhos do casal Ramalho Eanes teve direito a uma menção especial em toda a imprensa da época e emprestou uma providencial simpatia à imagem distante e austera do então Presidente. O bebé foi batizado na capela do Palácio de Belém, e o irmão foi o padrinho.

DR

Um namoro que começou num 25 de abril...

Manuela conheceu o seu futuro marido num jantar organizado no Dia de Reis de 1969, na Academia Militar, onde António era director dos Serviços Culturais, e começaram a namorar no dia 25 de abril desse mesmo ano. Ela tinha acabado de completar 30 anos, e ele estava prestes a ser considerado um solteirão inveterado.

DR

A cumplicidade entre os dois surgiu quase que de imediato. e começaram a encontrar-se esporadicamente nos concertos da recentemente inaugurada Fundação Calouste Gulbenkian.

Nessa época, ela trabalhava no Instituto de Obras Sociais do Ministério da Segurança Social. Enquanto estudante da Faculdade de Direito de Lisboa foi presidente da Juventude Universitária Católica Feminina, facto que haveria de marcar a sua vida, atitude, pensamento, discurso, bem como a sua forma de intervir em termos políticos e sociais.

DR

Os anos de Belém

Quando Ramalho Eanes foi eleito Presidente, o casal decidiu continuar a residir na vivenda do Bairro da Madre de Deus, onde ainda moram. A instabilidade política que então se vivia, depressa mostraria que a casa - com porta direta para a rua - não tinha condições de segurança adequadas. Quando se mudaram para Belém, o Palácio estava muito degradado e escasseava o dinheiro para a sua renovação.

A ‘equipa’ Ramalho Eanes teve de vender um apartamento de férias que possuía na Costa da Caparica para arredondar o orçamento; o Presidente da República, naquela época, ganhava menos do que o seu ajudante de campo.

Arquivo A Capital

A infeliz expressão primeira-dama

Tal como a sua ‘sucessora’ em Belém, Maria Barroso, Manuela nunca gostou da expressão Primeira Dama: “Nunca gostei dessa expressão” [retirado do texto “As Primeiras Damas da Democracia, parte de um livro editado pelo Museu da Presidência sobre as mulheres dos Presidentes]. “A designação é importada e não tem cabimento jurídico, não faz parte da nossa tradição cultural e soa-me sempre a algo de artificial”.

Rui Ochôa

Orgulha-se de ter patrocinado, à época da sua passagem pelo Palácio de Belém, os Encontros sobre Literatura Infantil na Fundação Calouste Gulbenkian.

A nível internacional, acompanhou o marido num número significativo de visitas oficiais, das quais a própria destaca as viagens aos PALOP.

Na função de mulher do Presidente, participou - entre muitas outras reuniões – em abril de 1985, na Conferência de Primeiras Damas que Nancy Reagan promoveu em Washington com o objectivo de debater o problema da Droga. A sua juventude [em comparação com as restantes] fez com que fosse escolhida como “porta-voz” do discurso de todas as “primeiras damas” convidadas para este encontro. Betty Boyd Caroli, autora do livro “First Ladies”, escreve que esta conferência “teve destaque de 1ª página em todo o país”.

Arquivo A Capital

Fundação do IAC e da Linha SOS Criança

A sua grande preocupação com os problemas da Criança teve o seu momento alto com a criação do Instituto de Apoio à Criança (IAC), em 1983. Trinta e dois anos passados, o IAC é uma instituição firmada na sociedade portuguesa – com projecção internacional – que desenvolveu projectos tão importantes como a Linha SOS Criança e o Projecto Rua, entre muitos outros.

Aos 76 anos, Manuela continua a presidir ao Instituto, e a travar uma dura luta pela obtenção do financiamento necessário ao trabalho da instituição.... que desde a intervenção da troika tem mais solicitações e menos recursos.

Rui Ochôa

O casal Ramalho Eanes legou todos os presentes recebidos no desempenho das funções de representação do Estado. Em 1980, a sala de jantar do Palácio de Belém, que nunca era utilizada, foi transformada naquilo que seria o primeiro museu da Presidência; ali ficaram expostos os presentes oferecidos ao Presidente da República por Chefes de Estado em visitas oficiais.

Nas presidenciais de 1986, apoiou Salgado Zenha, e participou em inúmeros comícios deste fundador do PS. Empenhou-se também nas campanhas do Partido Renovador Democrático, fundado em 1985 por um grupo de eanistas; este partido [já extinto] chegou a eleger 45 deputados.

Alberto Frias

Uma mulher persistente

Dignidade, respeito e solidariedade, são palavras que todos os que se cruzam com Maria Manuela Neto de Portugal Ramalho Eanes ouviram repetir vezes sem conta. E é pela sua luta em defesa desses valores e dos direitos dos mais desfavorecidos que o Parlamento Europeu homenageia esta sexta-feira esta porta-voz dos direitos das crianças. E, também, a mulher que sempre correu em pista própria, mesmo que essa corrida tenha sido feita ao lado [e com] do marido nos últimos 45 anos.

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