Inquérito ao BES. Para Henrique Granadeiro, Bava sabia dos empréstimos à Rioforte

30-04-2015
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“Fui eu próprio que autorizei o investimento de 200 milhões de euros [da PT SGPS] na Rioforte”, tendo por base a opinião do administrador financeiro da Portugal Telecom, Luís Pacheco de Melo, afirmou Henrique Granadeiro, antigo presidente executivo da empresa, que é ouvido nesta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito ao Banco Espírito Santo (BES). O gestor adiantou que o incumprimento da Rioforte “resulta de facto imputável ao BES”. A PT tentou tudo para negociar condições de reembolso, acrescentou, o que ficou reconhecido na revisão do acordo de fusão com a operadora brasileira Oi.

Sobre a aplicação, que cresceu para perto de 900 milhões de euros pouco tempo antes do colapso do Grupo Espírito Santo (GES) e do BES, em julho de 2014, Granadeiro acredita que Zeinal Bava sabia das operações de financiamento à Rioforte e forma esta convicção a partir das declarações de Luís Pacheco de Melo numa reunião da comissão executiva da PT realizada a 10 de julho de 2014. Nesta reunião o CFO foi questionado com insistência pelos administradores (Rafael Mora e Paulo Varela) sobre o conhecimento de Bava. Pacheco de Melo não responde diretamente, mas lembra a prática da empresa em matéria de investimentos no BES/GES e revela que poucas semanas antes do investimento na Rioforte esteve num roadshow com o presidente da Oi (Bava) e o administrador financeiro da empresa brasileira. Para Granadeiro, a resposta de Pacheco de Melo, apesar de “cabalística”, quer dizer que sim. Bava sabia e o CFO da Oi sabia da aplicação na Rioforte.

O ex-presidente da PT revelou ainda que aconselhou Salgado a informar Zeinal Bava do investimento feito em fevereiro na Rioforte e que o então presidente do BES lhe disse que o tinha feito.

O gestor adiantou que os investimentos foram autorizados com base na informação prestada pelos responsáveis financeiros da PT e pelo intermediário financeiro, o BES, e adiantou que as contas da Rioforte só foram reveladas em junho. No relatório, os auditores faziam reservas sobre a situação financeira da holding do GES para a área não financeira.

As reservas dos auditores contrastavam com a informação dada pelos responsáveis do BES, prosseguiu o gestor, enquanto recordou que, quando foi tomada a decisão de renovação final, em abril de 2014, Zeinal Bava era o presidente da PT Portugal. “A história de que vi o Dr. Salgado a afogar-se e lhe mandei uma boia de 900 milhões é romântica e infantil, mas não tem nada de verdade”, disse Henrique Granadeiro, garantindo que o antigo presidente do BES nunca lhe falou da necessidade de liquidez do GES.

O gestor está convencido que uma parte do investimento de 897 milhões, foi decidido pela PT Portugal. “Eu não intervim. A responsabilidade terá de ser encontrada em outros responsáveis”, entre os quais se encontra Zeinal Bava que liderava a PT Portugal. Granadeiro recusa ainda a tese de que negociou a operação com Amílcar Morais Pires ou com qualquer outra pessoa. “Limitei-me a falar com o CFO [chief finance officer da PT, Luís Pacheco de Melo] para ele falar com o CFO do BES [Amílcar Morais Pires]” para acertar a operação, que, “no meu espírito, era de 200 milhões de euros”, declarou o gestor, desmentido a afirmação de Morais Pires, na comissão, de que Granadeiro estaria a par de tudo. “Se soubesse das contas da Rioforte, nunca teria autorizado”, acrescentou o antigo presidente da PT.

Sem lapsos de memória de maior (Granadeiro trouxe uma pesada lista de documentos), o ex-presidente da Portugal Telecom reconhece que está magoado. “Isto que aconteceu foi o pior que me podia ter acontecido. Destruiu a minha carreira, Sinto que fui injustiçado. Alguém devia ter-me dado sinais. Não foi a PT que fez cair o BES, foi o BES que fez cair a PT”. Granadeiro lamenta que não tenha havido a lealdade devida pelos administradores do BES na PT, Joaquim Goes e Morais Pires.

E que tipo de gestor é Zeinal? “Não me faça essa maldade”

Henrique Granadeiro hoje reconhece que ter partilhado a responsabilidade de uma comissão executiva com outro presidente (Bava) foi o maior erro estratégico que cometeu na sua vida. Mas quando no final da audição Fernando Negrão lhe pergunta que tipo de gestor era Zeinal Bava, Granadeiro desabafa: “Não me faça essa maldade”, mas descreve o sucessor e antecessor, como um homem com uma grande capacidade de trabalho, que tem “sempre a mão em cima das coisas”, uma imagem que contrasta com o gestor com falta de memória e aparentemente mal preparado que vimos na comissão de inquérito na semana passada.

O antigo presidente da PT assume também ter mudado de ideias sobre a fusão entre a PT e a Oi quando questionado porque não travou a revisão do acordo depois de ficar convencido de que Bava e a empresa brasileira tinham conhecimento do investimento na Rioforte. Granadeiro justifica que acreditava no projeto de criação de um operador luso-brasileiro e qualifica a venda da PT Portugal pelos brasileiros de uma “traição”.

As últimas palavras emocionadas de Granadeiro foram para os milhares de acionistas que foram prejudicados por uma decisão estratégica “que tinha tudo para dar certo, mas não deu”, por causa do efeito colateral do BES. E recorda os quatro pequenos acionistas que em setembro votaram contra a fusão. Diz que quando chegou a casa nessa noite pensou. “E se eles têm razão?”.

“Fui eu próprio que autorizei o investimento de 200 milhões de euros [da PT SGPS] na Rioforte”, tendo por base a opinião do administrador financeiro da Portugal Telecom, Luís Pacheco de Melo, afirmou Henrique Granadeiro, antigo presidente executivo da empresa, que é ouvido nesta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito ao Banco Espírito Santo (BES). O gestor adiantou que o incumprimento da Rioforte “resulta de facto imputável ao BES”. A PT tentou tudo para negociar condições de reembolso, acrescentou, o que ficou reconhecido na revisão do acordo de fusão com a operadora brasileira Oi.

Sobre a aplicação, que cresceu para perto de 900 milhões de euros pouco tempo antes do colapso do Grupo Espírito Santo (GES) e do BES, em julho de 2014, Granadeiro acredita que Zeinal Bava sabia das operações de financiamento à Rioforte e forma esta convicção a partir das declarações de Luís Pacheco de Melo numa reunião da comissão executiva da PT realizada a 10 de julho de 2014. Nesta reunião o CFO foi questionado com insistência pelos administradores (Rafael Mora e Paulo Varela) sobre o conhecimento de Bava. Pacheco de Melo não responde diretamente, mas lembra a prática da empresa em matéria de investimentos no BES/GES e revela que poucas semanas antes do investimento na Rioforte esteve num roadshow com o presidente da Oi (Bava) e o administrador financeiro da empresa brasileira. Para Granadeiro, a resposta de Pacheco de Melo, apesar de “cabalística”, quer dizer que sim. Bava sabia e o CFO da Oi sabia da aplicação na Rioforte.

O ex-presidente da PT revelou ainda que aconselhou Salgado a informar Zeinal Bava do investimento feito em fevereiro na Rioforte e que o então presidente do BES lhe disse que o tinha feito.

O gestor adiantou que os investimentos foram autorizados com base na informação prestada pelos responsáveis financeiros da PT e pelo intermediário financeiro, o BES, e adiantou que as contas da Rioforte só foram reveladas em junho. No relatório, os auditores faziam reservas sobre a situação financeira da holding do GES para a área não financeira.

As reservas dos auditores contrastavam com a informação dada pelos responsáveis do BES, prosseguiu o gestor, enquanto recordou que, quando foi tomada a decisão de renovação final, em abril de 2014, Zeinal Bava era o presidente da PT Portugal. “A história de que vi o Dr. Salgado a afogar-se e lhe mandei uma boia de 900 milhões é romântica e infantil, mas não tem nada de verdade”, disse Henrique Granadeiro, garantindo que o antigo presidente do BES nunca lhe falou da necessidade de liquidez do GES.

O gestor está convencido que uma parte do investimento de 897 milhões, foi decidido pela PT Portugal. “Eu não intervim. A responsabilidade terá de ser encontrada em outros responsáveis”, entre os quais se encontra Zeinal Bava que liderava a PT Portugal. Granadeiro recusa ainda a tese de que negociou a operação com Amílcar Morais Pires ou com qualquer outra pessoa. “Limitei-me a falar com o CFO [chief finance officer da PT, Luís Pacheco de Melo] para ele falar com o CFO do BES [Amílcar Morais Pires]” para acertar a operação, que, “no meu espírito, era de 200 milhões de euros”, declarou o gestor, desmentido a afirmação de Morais Pires, na comissão, de que Granadeiro estaria a par de tudo. “Se soubesse das contas da Rioforte, nunca teria autorizado”, acrescentou o antigo presidente da PT.

Sem lapsos de memória de maior (Granadeiro trouxe uma pesada lista de documentos), o ex-presidente da Portugal Telecom reconhece que está magoado. “Isto que aconteceu foi o pior que me podia ter acontecido. Destruiu a minha carreira, Sinto que fui injustiçado. Alguém devia ter-me dado sinais. Não foi a PT que fez cair o BES, foi o BES que fez cair a PT”. Granadeiro lamenta que não tenha havido a lealdade devida pelos administradores do BES na PT, Joaquim Goes e Morais Pires.

E que tipo de gestor é Zeinal? “Não me faça essa maldade”

Henrique Granadeiro hoje reconhece que ter partilhado a responsabilidade de uma comissão executiva com outro presidente (Bava) foi o maior erro estratégico que cometeu na sua vida. Mas quando no final da audição Fernando Negrão lhe pergunta que tipo de gestor era Zeinal Bava, Granadeiro desabafa: “Não me faça essa maldade”, mas descreve o sucessor e antecessor, como um homem com uma grande capacidade de trabalho, que tem “sempre a mão em cima das coisas”, uma imagem que contrasta com o gestor com falta de memória e aparentemente mal preparado que vimos na comissão de inquérito na semana passada.

O antigo presidente da PT assume também ter mudado de ideias sobre a fusão entre a PT e a Oi quando questionado porque não travou a revisão do acordo depois de ficar convencido de que Bava e a empresa brasileira tinham conhecimento do investimento na Rioforte. Granadeiro justifica que acreditava no projeto de criação de um operador luso-brasileiro e qualifica a venda da PT Portugal pelos brasileiros de uma “traição”.

As últimas palavras emocionadas de Granadeiro foram para os milhares de acionistas que foram prejudicados por uma decisão estratégica “que tinha tudo para dar certo, mas não deu”, por causa do efeito colateral do BES. E recorda os quatro pequenos acionistas que em setembro votaram contra a fusão. Diz que quando chegou a casa nessa noite pensou. “E se eles têm razão?”.

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